"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Lawrence Anthony


VIAJANTES, AVENTUREIROS E EXPLORADORES

 
Lawrence Anthony – (Joanesburgo, 17/09/1950 – Thula-Thula, 02/03/2012) – Conservacionista, escritor. Na mensagem anterior abordou-se a biografia do casal Sheldrick, lutadores incansáveis pela conservação de diversas espécies selvagens africanas, nomeadamente as de grande porte, tais como elefantes e rinocerontes, no Quénia.
 
Agora pretendo homenagear um outro conservacionista, o sul-africano Lawrence Anthony, que dedicou parte da sua vida a pugnar, tal como o casal Sheldrick, pela protecção dos elefantes e rinocerontes, em diversas partes do planeta.

 
Neto dum mineiro britânico que emigrou para a África do Sul, na década de 20 do século passado, para as minas de ouro transvalianas, e filho dum negociante de seguros, Lawrence Anthony percorreu diversos territórios da África Austral, até se ter estabelecido na Zululândia, em meados da década de 90, onde adquiriu a reserva Thula Thula, fruto da sua paixão pela causa ambiental, com uma área de 5.000 acres, em KwaZulu-Natal.
 
A liderar a Reserva Thula Thula, localizada em terras na nação zulu, o seu primeiro acto foi o salvamento de nove elefantes, no que fora alertado por um grupo de ambientalistas, elefantes estes que tinham escapado dum cativeiro. Conseguindo captar a atenção da matriarca do grupo, atravésds da sua tonalidade vocal e linguagem corporal, conduziu-os para a sua reserva, o que o levou a ser alcunhado de “elephant-whisperer” (“o homem que sussurrava aos elefantes” – tradução livre).
 
Foi o fundador da “The Earth Orgazination” (2003), uma ONG internacional, vocacionada para a conservação do meio-ambiente dotada duma forte componente científica, neste momento espalhada por vários países e sedeada na África do Sul (consultar: http://www.lawrenceanthony.co.za).
 
 
 
Os seus esforços tiveram êxito ao criar duas novas reservas, a “Royal Zulu Biosphere” e a “Maybuye Game Reserve”, onde envolveu os povos locais para a implementação do turismo de vida selvagem.
 
Era planetariamente famoso pelas suas iniciativas arrojadas na luta pelas causas animais e ambientais, nomeadamente no arriscado resgate dos animais do Jardim Zoológico de Bagdad, aquando a invasão internacional ao Iraque em 2003, invasão esta liderada pelos EUA. Sendo um dos maiores jardins zoológicos do Médio Oriente, com cerca de 700 animais, uma semana após a invasão, a maioria deles estava morta, fruto dos bombardeamentos a que foram sujeitos e à fome que grassava e falta de abastecimento de água. Numa louca corrida contra-relógio, naquela loucura animalesca que se apropriou dos humanos, Lawrence Anthony logrou resgatar os animais ainda vivos onde se contavam leões, hienas, elefantes, ursos e tigres, usando mercenários, membros da Guarda Republicana iraquiana, alguns soldados invasores, tratando da logística do transporte, da burocracia e do fornecimento de alimentos básicos para os bichos. Foi uma epopeia fabulosa, no meio do turbilhão bélico que se instalou. Porque os animais cativos não tinham culpa da bestialidade humana que se desencadeara. Desta saga escreveu o seu primeiro livro: “Babilon´s Ark”.
 
Posteriormente escreveu o seu segundo livro: “The elephant wigsperer”, onde relata a sua actividade no resgate de elefantes.
 
Também lhe coube o reconhecimento internacional pela luta que travou pela preservação de espécies animais em perigo de extinção, nomeadamente dos últimos rinocerontes brancos, no Sudão, quando aquele País foi dilacerado por longas e genocidas guerras intestinas. Também desta aventura escreveu a obra: “The last rhinos: my battle to save one of the World´s Greatest Creatures”.
 
À semelhança de David Sheldrick, um ataque cardíaco ceifou-o prematuramente, aos 61 anos, quando ainda muito havia a esperar da actividade deste imparável lutador das causas ambientais. Para além da sua actividade, que a História registou como um dos gigantes da causa ambiental africana ficaram, para a nossa memória colectiva os registos em diversos canais televisivos internacionais, os seus escritos em múltiplas revistas e livros que escreveu.
 
Rezam as crónicas que, após a sua morte, duas famílias de elefantes que ele salvara, caminharam longamente, durante 12 horas, desde a Reserva de Thula Thula até à zona onde o seu corpo se encontrava, como que numa última homenagem ao seu “líder”, ali tendo ficado durante dois dias, até se terem dispersado. Este evento foi documentado fotograficamente.


 (Uma das fotos do tributo elefantino a Lawrence Anthony)

Uma fortíssima bofetada de pata cinza, nas trombas de todos aqueles que representavam o oposto do que ele defendia: que cabemos todos neste planeta.
 
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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL




Aguada de São Braz – Foi a primeira aguada* a ser estabelecida pelos portugueses no sul da costa oriental africana. Em 1488, o navegador Bartolomeu Dias, depois de ter dobrado o cabo da Boa Esperança atingiu este local, ponto terminal da sua viagem na ida, tendo retornado ao Reino, depois de se ter convencido que já atingira o limite de África e face ao descontentamento da sua tripulação em prosseguir viagem por marres desconhecidos até à Índia. A sua falta de firmeza e pusilanimidade ditou a justiça de não ter sido o descobridor do caminho marítimo para a Índia e a injustiça a Dom João II não ver consagrada a sua tenaz política dos descobrimentos de atingir o “eldorado” das especiarias. O nome de São Braz dado à aguada deveu-se ao facto da mesma ter sido atingida a 03 de Fevereiro, no dia católico deste santo. Nesta aguada, onde desde os primórdios sempre teve um ribeiro de água doce propício a abastecimento deste precioso e vital líquido aos navios que aí demandavam, terá sido erigido o primeiro templo católico deste lado da costa, dedicado a São Brás por João da Nóvoa, em 1501 quando ali passou com a sua armada em direcção à Índia, bem como terá aqui sido colocada a primeira “caixa postal” do sul de África quando, em 1500, tendo aí arribado Pedro Ataíde, pregou uma bota numa árvore colocando cartas no seu interior que, no ano seguinte foram resgatadas por João da Nóvoa. Esta ancestral árvore, situada agora no centro da cidade, foi considerada monumento nacional, segundo o “The South African Year Book” de 1967. Tendo adquirido o britânico nome de Mossel Bay, o governo sul-africano, numa homenagem a Bartolomeu Dias mudou o nome da baía para “Dias Bay”, bem como existe um museu na cidade dedicado a este navegador, que assinala o histórico lugar do primeiro desembarque aí ocorrido, bem como a réplica duma caravela, entre outras reproduções.
 
Júdice Bicker – (Portimão, 1867 - 1926 – Joaquim Pedro Vieira Júdice Bicker) – Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa (Capitão de Mar e Guerra). É colocado em Moçambique, com a patente de Primeiro-Tenente, em 1894, desempenhando as funções de Ministro Residente junto da corte de Gungunhana*, tendo privado com o mesmo, no exercício das suas funções. Após a queda do Reino de Gaza*, no ano seguinte Júdice Bicker foi nomeado Governador da Guiné e, de seguida, foi transferido para São Tomé e Príncipe. Em 1918 regressa a Moçambique, comandando o Batalhão Expedicionário da Marinha de Guerra, no decurso da Primeira Guerra Mundial**. Regressa à metrópole* onde vem a exercer o cargo de Ministro da Marinha.
 
Nagana - Também conhecida por doença do sono, é uma doença desenvolvida pelo protozoário “trypanossoma” e transmitida pela picada da mosca tsé-tsé. Uma maneira básica, prática e económica de evitar a sua propagação para territórios livres desta praga, era levada a cabo pela Missão de Combate à Tripanossoníase (MCT) que, numa variante da ratoeira Harris e através da construção, nas zonas fronteiriças das áreas infectadas, das típicas casas sobrepostas às estradas onde, obrigatoriamente, os carros tinham que entrar e aguardar uns minutos no escuro, enquanto se abria uma portinhola que dava acesso a um pequeno cubículo, na referida casa, deixando passar um pouco de luz. Se o carro, estacionado no interior com os vidros, portas e capota abertos, transportasse alguma mosca, a luminosidade, que passava através da portinhola, atraía a mesma, provocando a sua captura. Através da picada da mosca tsé-tsé, a tripanossoníase entrava na corrente sanguínea dos vertebrados, causando-lhes febres, fraqueza e estados letárgicos, perca de peso e anemia, podendo, em casos extremos, evoluir fatalmente. Inicialmente, nos finais do século XIX, o combate a esta praga, que raziava por completo manadas inteiras de gado, era feito por extermínio da caça nas zonas afectadas, pois existia a crença que eram eles quem disseminavam a doença. Posteriormente abandonou-se esta prática, por se ter apurado que a mosca também se alimentava da seiva dalgumas plantas, seiva esta que dava uma maior protecção aos germes da tripanosomiase. Face às crescentes dificuldades em controlar a disseminação dos focos infecciosos, tentou-se o cruzamento de bois domésticos com elandes, por estes últimos serem os mais resistentes à nagana, criando-se a convicção que as crias deste cruzamento seriam imunes a tal praga mas tais tentativas também não resultaram. Outra forma de combate a esta praga era a de colocação de extensos panos besuntados com visco, mas que também se veio a revelar impraticável. O método inicial de tratamento da doença era o de rastrear os doentes, esterilizá-los por um período mais ou menos longo ou segregá-los em determinados casos mais graves. Posteriormente evoluiu-se e, já na década de trinta do século passado, começou-se por adoptar o método preventivo, antecipando o aparecimento da doença, promovendo-se a atoxilização profilática da população sã, por métodos químicos.
 
Tsé-tsé Nome popular da mosca que, cientificamente, é referida como Glossina Palpalis e cuja picada provoca uma doença.
 
Questão da baía de Tungue- Após a queda de Mombaça, em 1698, os portugueses retiraram-se para sul de Cabo Delgado, perdendo as possessões a norte de Moçambique até à Índia, para os árabes. Os povos suaílis*, incapazes de se organizarem num estado forte, viviam sob influência árabe ou portuguesa, consoante as áreas onde se estabelecessem. No século XVIII os árabes, devidamente instalados em Zanzibar, navegavam com impunidade nos mares nortenhos de Moçambique, tendo os portugueses uma pequena feitoria* no Ibo e, como tal, incapaz de fazer frente ao crescente poderio naval e comercial das forças zanzibaritas. Por outro lado e em função da religião, era natural que os povos suaílis tendessem mais para a aceitação da influência das gentes de Said Bin Sultan, Sultão de Zanzibar do que da influência portuguesa, muito mais pobre, fraca e sem conseguir uma aproximação cultural, se bem que no fundo o que os suaílis quisessem era viverem independentes. No princípio do século XIX Portugal vai disputar Tungue às pretensões zanzibaritas, que era uma área geográfica com domínio indefinido, apenas lá vivendo suaílis, mas as suas acções centram-se mais no campo diplomático do que bélico, pois com fracos recursos materiais, a crónica falta de dinheiro, a desertificação humana das gentes portuguesas, a incapacidade de se miscigenarem culturalmente com os povos locais e a extensão territorial entregue aos negreiros, levou a que até quase finais do século XIX toda a costa litoral nortenha estivesse ou na posse dos gentios locais ou sob administração velada dos zanzibaritas. A 17 de Outubro de 1861 o Governador-Geral Tavares de Almeida desloca-se a Zanzibar, a fim de resolver o diferendo diplomático sobre a posse de Tungue, mas a missão regressou sem nada ter conseguido. Só a partir de 1885 é que Portugal, face ao crescendo interesse das potências coloniais por territórios africanos, começou a empregar-se mais a fundo para resolver a questão da posse de Tungue, tendo até aquela altura limitado a assinar uns acordos comerciais com Zanzibar e, vez por outra, enviar um veleiro em missão de observação para aquelas paragens. Em 1885 Portugal nomeia Serpa Pinto como seu Cônsul, em Zanzibar, e este fogoso explorador vai provocar um incidente diplomático com as autoridades locais ao cortar relações diplomáticas com o sultanato, precisamente por causa da disputa da posse de Tungue, que Zanzibar considerava seu território. Nesse mesmo ano as autoridades portuguesas criam o Posto de Maninganio, na baía, a fim de tentarem afirmar a soberania na área, mas de eficácia nula. Em 1886 Serpa Pinto, por doença, abandona Zanzibar, tendo entretanto sido criada uma comissão internacional composta pela Alemanha, Inglaterra e França para arbitrarem a posse de Tungue. Após a saída de Serpa Pinto Portugal reata relação com Zanzibar, mas, em 1887, volta a rompê-las, novamente e sempre devido à questão da posse de Tungue. Mas, nesta altura, os portugueses, apoiados indirectamente pelos ingleses e alemães, já não estão com hesitações e, declarando guerra ao Sultão, em 12 de Fevereiro de 1887, neste mesmo mês bombardeiam as guarnições zanzibaritas em Miningani - Tungue, apoderando-se das mesmas, em 22 e 23 de Fevereiro, e obrigando as forças de Ali-Bin-Said, comandante inimigo, a refugiar-se no interior. Aproveitando esta vaga de fundo, os portugueses prosseguem as suas conquistas territoriais para norte, acabando por fundar o povoado de Palma, em homenagem a José Raimundo de Palma Velho, comandante da expedição e do Ibo. Face a esta derrota militar, Bargash, Sultão de Zanzibar, perde créditos junto das potências europeias e pede a paz a 02 de Março seguinte. Portugal acaba por beneficiar da cumplicidade anglo-alemã o que lhe permite, em Julho de 1887, desembarcar em Zanzibar os seus representantes para ratificarem com o Sultão a titularidade dos novos territórios. O desinteresse da comissão internacional mais aumentou a fragilidade zanzibarita e Portugal, em definitivo, viu reconhecido internacionalmente o seu direito à posse da baía de Tungue e de toda a costa até ao rio Rovuma.  
 
Serpa Pinto – (Tendais, 20/04/1846 – Cinfães, 28/12/1900 – Alexandre Alberto da Rocha Serpa Pinto) – Oficial do Exército Português (Major) e explorador. Oriundo duma família aristocrata do norte de Portugal, passou parte da sua infância no Brasil. Ingressa, aos dez anos de idade, no Colégio Militar. Cursa Direito na Universidade de Coimbra, que não terminará, acabando por abraçar a carreira militar. Em 1876, já com a patente de Capitão, da Arma de Cavalaria, é nomeado para integrar uma expedição científica a Angola, na companhia de Hermenegildo Capelo** e Roberto Ivens**. Após desinteligências surgidas com estes dois exploradores, Serpa Pinto separa-se dos mesmos e enceta uma viagem que, atravessando o interior africano, pretende ligar o Atlântico ao Índico. Em 12 de Novembro de 1877 sai de Benguela e atravessa, no sentido oeste/este, o centro de África, chegando a Durban, na África do Sul, em Abril de 1879 e, dessa travessia, escreverá o livro “Como eu atravessei África”. Entre 1885 e 1886 fica em Zanzibar, como Cônsul de Portugal, entrando em litígio com o Sultão Barganash sobre a posse da baía de Tungue, provocando um conflito diplomático entre Portugal e aquele sultanato. Entre 1889 e 1890 expediciona ao Niassa* e, internando-se em território macololo, persegue estes, originando outro conflito diplomático, agora com a Grã-Bretanha, que resultou no Ultimato apresentado por aquela potência contra Portugal. Governou Cabo Verde, em 1894. Escritor, geógrafo, político e militar, foi, no seu tempo, um notável explorador colonial, bastante voluntarioso mas, no entanto, com notória falta de tacto diplomático. A ele se referia e, 1890, em Lisboa, o correspondente do jornal francês “Letain” como: “Serpa Pinto é como um toque de clarim a acordar uma nação adormecida.”. Em 1900 é eleito Deputado pelo círculo de Cinfães mas vem a falecer em Lisboa, nesse mesmo ano. Em sua memória foi atribuído, no sudoeste de Angola, o seu nome a uma vila (antiga Menongue).
 
Ultimato (britânico) - Coacção diplomática apresentada pela Grã-Bretanha a Portugal, em Janeiro de 1890, como forma de protesto para os combates que as forças portuguesas, comandadas por Serpa Pinto, travaram com os macololos, no vale do Chire. Com o Mapa Cor-de-rosa**, os portugueses pretendiam o reconhecimento internacional para a sua posse dos territórios que ligavam Angola a Moçambique. Esta pretensão contrariava de sobremaneira os interesses britânicos que, através de Cecil Rhodes*, e da sua BSAC* outorgam-lhe a exploração mineira da zona Matabele e Machona, áreas do Rei Lobengula**, e actual Zimbabwé. Através da BSAC, a influência britânica estende-se até ao Niassa e o governo português cria, em 09 de Novembro de 1889, o distrito do Zumbo**, como forma de travar o avanço predador de Cecil Rhodes** englobando neste novo distrito áreas a montante do Zambeze, incluindo territórios da Machona. Em 11 de Novembro Serpa Pinto trava combates com os macololos e avassala régulos* da zona. O Governo britânico reage à criação do novo Distrito, não reconhecendo a Portugal soberania a não ser em Tete e Alto Zambeze. Para tal, Londres envia a Lisboa, através do seu representante nesta cidade, em Novembro desse mesmo ano, uma nota onde declara: O Governo de Sua Majestade recebeu notícias baseadas na autoridade do bispo anglicano Smithies, bem como de uma viajante francês, de que os macololos foram atacados pelo major Serpa Pinto, depois do Cônsul Buchnan lhe ter declarado que eles estavam sob a protecção da Inglaterra; de que o major com uma força de 4000 homens, 7 metralhadoras e 3 vapores se achava em Ruo e tinha declarado oficialmente que era intenção sua tomar posse de toda esta região até ao lago Niassa. Avisou, além disso, as estações inglesas de Blantyre de que terão de colocar-se sob a protecção de Portugal ou de sofrer as consequências que poderiam resultar se assim não o fizerem. Foram vistas pelo bispo Smithies declarações escritas nesse sentido. O Governo de Sua Majestade (britânico) preveniu o de Sua Majestade Fidelíssima (português) de que não poderia permitir qualquer ataque às estações inglesas situadas quer no Xire quer na parte meridional do Niassa, e estou encarregado de lembrar a Vossa Excelência que o ataque dirigido contra os Macololos, depois do representante inglês ter anunciado que estavam sob a protecção de Sua Majestade a Rainha (britânica) é uma grave infracção dos direitos duma potência amiga. O Governo de Sua Majestade não pode consentir nestes factos nem no procedimento adoptado por Portugal. Encarrega-me, portanto, o marquês de Salisbury, de pedir ao Governo Português que declare que não permitirá às forças portuguesas qualquer ataque às estações britânicas do Niassa ou do Xire, nem ao país dos Macololos e, além disso, que não consentirá que ataquem o território sujeito ao Lubengula ou qualquer outro território que se tenha declarado sob protecção da Grã-Bretanha. Tenho a honra de solicitar a Vossa Excelência uma resposta, com a possível brevidade, ao pedido que a Vossa Excelência acabo de fazer, em conformidade com as instruções do Governo de Sua Majestade (britânica) e aproveito a ocasião para reiterar a Vossa Excelência os protestos da mais alta consideração – George M. Petre”. O Governo português reage em Dezembro seguinte, remetendo para Londres uma longa nota explicativa dos factos, elaborada pelo Ministro Barros Gomes, sobre a sua óptica e na qual referia que Serpa Pinto é que fora atacado e que a sua expedição nada tinha de militar mas sim apenas técnica e que o conhecimento da mesma fora transmitido às autoridades britânicas locais. Terminava a mesma referindo: Apresso-me a informar Vossa Excelência que já foram enviadas telegraficamente para Moçambique as ordens mais terminantes para que sejam respeitados os estabelecimentos e interesses britânicos e que o Governo de Sua Majestade (português) apreciará, animado pela sua parte de um espírito da maior conciliação, o completo conjunto dos factos, quando estes sejam definitivamente conhecidos dos dois governos”. A 11 de Janeiro de 1890, fruto dos combates travados por Serpa Pinto contra os macololos**, que os britânicos consideravam como seus avassalados, em território que não reconheciam soberania portuguesa e, face à insistência portuguesa em manter aquelas possessões através de novas incursões militares, o Governo britânico apresentou um ultimato, através do seu Embaixador, George Peter, acreditado em Lisboa, do seguinte teor: O Governo de Sua Majestade não pode aceitar como satisfatórias ou suficientes, as seguranças dadas pelo Governo português tais como ele a interpreta. O Cônsul interino de Sua Majestade em Moçambique telegrafou, citando o próprio Major Serpa Pinto, que a expedição estava ainda a ocupar o Chire e que Katunga e outros lugares mais no território dos macololos iam ser fortificados e receberiam guarnições. O que o Governo de Sua Majestade deseja e em que insiste é o seguinte: que se enviem ao Governador de Moçambique instruções telegráficas imediatas para que todas e quaisquer forças militares portuguesas actualmente no Chire e nos países macololos e machonas se retirem. O Governo de Sua Majestade entende que, sem isto, as seguranças dadas pelo governo português são ilusórias. Mr. Petre ver-se-à obrigado, à vista das suas instruções, a deixar imediatamente Lisboa com todos os membros da sua legação, se uma resposta satisfatória não for por ele recebida esta tarde; e o navio de Sua Majestade Enchanteress está em Vigo esperando as suas ordens. Lisboa capitula e ordena a Serpa Pinto que se retire. Em nota elaborada pelo Conselho de Estado estipula que: “...na presença de uma ruptura iminente de relações com a Grã-Bretanha e de todas as consequências que possam dela talvez derivar, o Governo de Sua Majestade (português) resolveu ceder às exigências formuladas nos dois memorandos a que alude e, ressalvando por todas as formas os direitos da Coroa de Portugal às regiões africanas de que se trata e, bem assim, pelo direito que lhe confere o artº 12 do Acto Geral de Berlim de ver resolvido definitivamente o assunto em litígio por uma mediação ou por uma arbitragem, o Governo de Sua Majestade (português) vai expedir para o Governador-Geral de Moçambique as ordens exigidas pela Grã-Bretanha. ...”. Só em 11 de Junho de 1891, é que Portugal e a Inglaterra encerraram este contencioso definindo ambas as partes, através dum tratado, os seus territórios africanos. O ultimato veio abalar profundamente os alicerces da monarquia portuguesa e foi transversal a toda a sociedade lusitana. Génese do nascimento de partidos republicanos, do renascer dum espírito ultra-nacionalista e anti-britânico e da composição musical de “A Portuguesa” - hino oficial após a implantação da República e do qual se dizia que foi composta por um alemão (Alfredo Keil) para ser cantada por portugueses contra os ingleses - pode-se considerar que foi o princípio do fim da quase milenária monarquia portuguesa, que viria a baquear daí a duas décadas.
 
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* - Já aberta ficha
** - A abrir ficha posteriormente

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VELHAS HISTÓRIA E LENDAS ANTIGAS

No decurso do século XIX floresceu, em África, no seio dos caçadores europeus a lenda da existência de “cemitérios de elefantes” que seriam locais recônditos onde os paquidermes se dirigiam quando sentissem a morte a aproximar-se para aí dormirem o sono eterno. Deste modo, a descoberta dalgum destes cemitérios traria a fortuna incalculável ao seu descobridor, pois a existência de centenas ou dezenas de cadáveres destes animais numa determinada área restrita implicaria a recolha duma fortuna fabulosa em marfim.

 
Ainda no século XX essa lenda prevalecia, se bem que já muito mais mitigada. No entanto já de há bastante tempo sabe-se que tais cemitérios nunca existiram. O que poderá ter dado origem a esta lenda talvez se deva ao facto de se terem descoberto alguns locais onde se localizaram vários elefantes mortos, mas isso teve a ver com o facto de, com a velhice, os animais já não terem nem forças nem dentição suficientemente forte para alimentarem-se de vegetação mais resistente e então procuraram-se cursos de água onde alimentação mais macia lhes pudesse colmatar a fome ou a dessedentação lhes pudesse diminuir a desnutrição.    

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LEITURAS EM PROSA


Título: Relato em Marrocos
Autora: Edith Wharton
Editora: Publicações Europa-América   Ano: 2007 Págs.: 163  Género: Literatura de viagens

 

Trata-se duma obra escrita por Edith Wharton (1862/1937) quando, no decurso da Primeira Guerra Mundial, viajou por Marrocos e, pela leitura do mesmo, dá-nos uma visão subjectiva de como se vivia naquele País em 1917, quando o visitou. De Rabat a Marraquexe, a Autora percorre Marrocos, descrevendo com mais minudência algumas cidades como Rabat, Fez e Marraquexe (entre outras) bem como, no que se pode considerar a segunda parte do livro, dá-nos uma visão da História daquele território e dedica também um capítulo à sua rica arquitectura.

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Título: Grandes naufrágios portugueses 1194-1991
Subtítulo: Acidentes marítimos que marcaram a História de Portugal          
Autor: José António Rodrigues Pereira
Editora: Esfera dos Livros    Ano: 2013    Págs.: 429 págs.  Género: História marítima


 


Trata-se duma recolha exaustiva de 60 naufrágios que ocorreram devido a inúmeras causas, tais como acidentes, combates ou falha humana. É, assim, um livro da infausta História marítima portuguesa, muito bem escrito por quem percebe do ofício (não de naufrágios mas sim da arte de marear), bem documentado bibliograficamente, completado por um vasto conjunto de mapas e ilustrações bem como, no final, dum glossário de termos náuticos para melhor facilitar a compreensão do leitor face ao desconhecimento que muitos de nós temos de vocábulos ligados à arte marinheira.
 
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FILME


Título:             Oka: um americano em África
Produtor:                            Realizador: Lavinia Currier
Actores: Chris Marshall, Will Yun Lee, Haviland Morris, Peter Riegert
Ano: 2011     Género: Documento social / Biografia    Duração: 105 minutos
 


Trata-se dum filme baseado na vida do etno-musicólogo norte-americano Louis Sarno, que vive há mais de 25 anos no seio do povo Bayake, pigmeus da África Central. Achei o filme sensaborão, com pouco conteúdo, sem nada de interesse que me prendesse a atenção, salvo alguns aspectos biográficos de Louis Sarno e, mesmos estes, nada que uma pesquisa na “net” não resolvesse.
 
Mesmo a trama que o filme envolve, onde ressalta a figura dum político local corrupto aliado a um asiático capitalista que pretende a todo o custo matar um elefante, numa reserva e que os bayake acabam por impedir é bastante artificial e amadorística.
 
Um filme que, por casualidade, se vê e… esquece-se. Calhou tropeçar neste filme ao “zapingar”, na televisão, por canais temáticos de cinema e a meio do filme acabei por dormitar um pouco. Por mim, não vale a pena ir à procura do mesmo.
 
Pode-se ler uma entrevista que o realizador Lavinia Currier concedeu sobre este filme em: “http://cinemawithoutborders.com/conversations/2817-oka.html

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Louis Sarno – Depois de ter ouvido numa estação de rádio música de pigmeus, ficou fascinado e, com 35 anos de idade saiu de New Jersey (EUA), comprou um bilhete só de ida para Bangui, tendo-se deslocado para a República Centro-Africana. De Bangui localizou a vila de Bomandjombo e, seguindo sozinho, internou-se na floresta e acabou por ser localizado pelos bayake, com quem foi foi viver no seio da tribo destes pigmeus.
 
 
Ao longo da sua vida naquele território efectuou recolha dos seus cânticos publicando, posteriormente, dois discos sobre este tema. Adoptando o seu modo de viver tribal, acabou por se casar com uma pigmeia Bayake, e ainda nos dias de hoje ali vive. Ganhou o nome de “Oka”, termo pigmático que significa “o que ouve”.

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GASTRONOMIA

Abundam, no mercado livreiro, revistas e livros especializados em receitas de culinária. Penso mesmo que será dos temas mais prolíferos e, então, se formos à internet são aos milhares as receitas de como fazer sopas, carnes, peixes, doces, entradas, salgados e tudo o mais que a imaginação possa emitir, de todos os países do Mundo.
 
Hoje trago à liça um livro que achei delicioso pois o mesmo sobressai da amálgama dos receituários culinários e aborda o tema sobre uma visão histórica. Trata-se do livro “Os mistérios do Abade de Priscos e outras histórias curiosas e deliciosas da gastronomia”, da autoria de Fortunato da Câmara (Esfera dos Livros, 2013, 327 págs.)
 


São 79 histórias de outras tantas iguarias que nos fazem crescer água na boca. Não é um livro de receitas mas sim um livro que relata os eventos que originaram, quer as ditas receitas quer os nomes das mesmas. Escrito com ironia, fazendo jus ao rigor histórico que catapultaram as ditas para o estrelato do conhecimento, é um livro leve, delicioso e que nos faz crescer água na boca. Dá-nos, independentemente de conhecermos como se confecciona este ou aquele prato, quais os factos que levaram à sua criação. Um livro que recomendo.  
 
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PORQUE SÓ HÁ UM PLANETA

Leio, no Diário de Notícias de 29/07/2013 que Sam Simon, de 58 anos, um dos criadores da multi-premiada série “Os Simpson”, está com um cancro terminal no cólon e os médicos só lhe dão 3 a 6 meses de vida. De há muito um defensor acérrimo dos direitos dos animais, decidiu legar a sua fortuna em prol da causa animal, para se fecharem jardins zoológicos, combater espectáculos que abusem de animais e financiar resgaste dos mesmos.
 
 
 
A propósito desta sua decisão disse: “Eu sinto prazer nisso. Adoro. Não sinto que seja uma obrigação”. Vertical na sua postura, quer ao longo da sua vida quer a preparar-se para a Grande Grande Viagem. Por isso, rendo-lhe a minha homenagem.

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