"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Historiando Moçambique Colonial




HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL





Ascensão e queda do Reino de Gaza

Parte II (conclusão)

Caldas Xavier (Lisboa, 25/09/1852 – Lourenço Marques, 08/01/1896 – Alfredo Augusto Caldas Xavier) – Oficial do Exército Português (Major). Nascido em Lisboa, Alcança a patente de Alferes em 1875, após ter ingressado na Escola de Exército e, no ano seguinte, é colocado em Moçambique, onde efectua diversos estudos para a implantação do caminho-de-ferro de Lourenço Marques. Em 08 de Agosto de 1884, sendo Administrador do prazo* Maganja, no Chire, sofre a invasão de inúmeras forças vindas da revolta do Massingir, calculadas em milhares de homens, resistindo vitoriosamente, apenas com mais dois companheiros (um irmão cego duma vista e um funcionário inglês) e um pequeno pelotão composto por cerca quinze atiradores nativos da Companhia da Zambézia*, até ter sido socorrido por uma coluna vinda de Quelimane*. Administra a Companhia do Ópio, até 1886, tendo-se exonerado nesse ano. No ano seguinte segue para a Índia, chefiar os Caminhos-de-Ferro de Mormugão e, em 1890, integrado na comissão de delimitação das fronteiras de Moçambique, regressa a este território, já com a patente de Capitão. Comanda as forças portuguesas do Batalhão de Voluntários de Lourenço Marques, que travam o combate de Macequece**, donde sai derrotado, em Maio de 1891. Já com a patente de Major e após uma breve estada na metrópole, regressa de novo a Moçambique, e em 1894 assume o comando de defesa de Lourenço Marques. De seguida combateu nas campanhas militares contra os vátuas de Gungunhana*, tendo travado o combate de Marracuene. De seguida integra a coluna do Coronel Eduardo Galhardo no avanço que este executa, pelo norte, contra o Reino de Gaza*, tendo ficado num sector mais recuado, como responsável pelo sector dos transportes e alimentação, atendendo ao seu estado de saúde. Quando a coluna se encontrava na zona de Inhambane*, Caldas Xavier piorou, pelo que teve que regressar a Lourenço Marques, onde veio a falecer pouco depois. Era possuidor, entre outras condecorações, da Torre e Espada.


Chopes – No decorrer do século XVII predominavam os chona-carangas na planície do Bilene, bem como na zona entre o rio Limpopo e Inhambane*. Neste mesmo século, com a chegada de angunes* do clã “n´cuna”, tornou-se natural o seu cruzamento o qual teria dado origem aos “Bila–N´culo”, donde o nome da localidade de Vilanculos, povo proto-chope, tendo estes dominado a planície do Bilene até ao início do século XVIII. A partir desta data chegam outros povos dominantes, derivados dos Venda e Lobedo e, posteriormente, os Valois e os Langa, um tronco dos cossa*. A tecelagem e apicultura, faziam parte das actividades económicas dos chopes, cuja palavra deriva de “ku-txopa” (língua tswa), surgida no século XIX, e que significa “atirar setas”. Mas foi nas artes musicais que este povo atingiu a sua máxima expressão artística, através da utilização concertada das timbilas** e dos tambores, acompanhadas de danças coreografadas. Os chopes viviam em tribos autónomas umas das outras e só no século XIX é que no regulado de Cambamda-Mondlane se tentou a sua unificação, mas mesmo assim numa zona restrita. As invasões angunes fraccionam os chopes e os que não se refugiaram nas áreas de influência portuguesa acabaram chacinados pelos angunes, principalmente do reinado de Gungunhana* que, em 1895, mandou os seus homens conquistar os cocolenes chopes, que Binguane, Régulo* de Cambamda-Mondlane, tinha mandado instalar e reforçar, para resistir aos angunes. Os chopes pagaram um elevado preço por esta resistência, tendo sido massacrados aos milhares, em violentas lutas travadas nos cocolenes, pela sua integridade territorial, tendo os sobreviventes sido vendidos como escravos, por ordens de Gungunhana.  

Cocolene – Paliçada de troncos de árvores que protegiam os aldeamentos chopes. O mesmo que cocolo.

Combate de Cunenvecujana Combate travado entre os dias 17 e 20 de Agosto de 1862 que opôs as forças de Muzila às de Maueva, em Cunenvecujana, na zona da Moamba. Apoiado com material de guerra pelos portugueses e gentes de João Albasini*, Muzila derrota o seu irmão e, após a vitória, ascende ao trono do Reino de Gaza*.

Combate de Coolela – No dia 07 de Novembro de 1895, travou-se uma batalha entre as forças portuguesas, comandadas pelo Coronel Eduardo Galhardo* e as colunas fiéis a Gungunhana*, junto duma povoação com o mesmo nome e que dista cerca de doze quilómetros da vila de Manjacaze, a fim de tentarem travar o avanço da coluna portuguesa. Foi a primeira e única vez em que os regimentos de Gungunhana*, entraram em confronto directo com forças militares portuguesas, que culminaram com a vitória destes. Foi uma derrota pesada para os angunes*, atendendo à desproporção de forças entradas em combate: uma média de dez mil guerreiros angunes e de outros povos submetidos, contando com duas a três mil espingardas e a combaterem no seu terreno contra a força portuguesa que englobava cerca de mil homens, divididos em metade de infantaria europeia e outra metade de forças nativas irregulares, para além dum reduzido número de homens de cavalaria e quatro a seis peças de artilharia. Poder-se-á atribuir a derrota não à falta de coragem das impis* mas sim ao elevado número de combatentes de outros povos submetidos que não terão mostrado grande resolução em se sacrificarem pelos opressores angunes, para além duma falta de liderança forte no comando das forças, atendendo a que o seu chefe supremo, Maguiguana*, encontrava-se ausente. O combate durou cerca de uma hora, tendo os portugueses sofrido cinco baixas e noventa e seis feridos e as forças rebeldes terão sofrido cerca de quatrocentos mortos e seiscentos feridos.

Combate de Magul – Batalha travada em 08 de Setembro de 1895, em Magul, entre as forças portuguesas, comandadas pelo Major Freire de Andrade e as forças rongas aliadas de Gungunhana, estando estas comandadas por Matibejana e Nonduane, em número calculado em cerca de seis mil homens, tendo o desfecho sido desfavorável às forças destes. Neste combate achavam-se presentes impis* angunes* de Gungunhana*, mas limitaram-se a assistir ao confronto, não tendo intervido. A não intervenção das forças de Gungunhana no combate, apesar de terem assistido à derrota dos seus aliados, ter-se-á prendido com o cumprimento expresso de ordens do Rei angune, que ainda aspirava a uma solução negocial e pacífica com os portugueses. As forças rebeldes calcula-se que sofreram cerca de três mil mortos, tendo morrido cinco portugueses. Em 08 de Setembro de 1909, quando se inaugurou o monumento de Magul, comemorativo desta vitória, trasladaram-se as ossadas destes cinco portugueses, que ficaram definitivamente enterradas na base do monumento.


Combate de Marracuene Batalha travada entre forças portuguesas, comandadas por Caldas Xavier e forças rongas, calculadas em cerca de três mil homens, comandadas por Mazule e Matibejana, em 02 de Fevereiro de 1895, que culminou com a vitória dos primeiros, sendo esta a primeira derrota de forças aliadas a Gungunhana* e na qual os seus regimentos não tiveram qualquer tipo de participação. Na madrugada do dia 02 de Fevereiro de 1895 guerreiros rongas eliminaram sentinelas do acampamento português e, vestindo as suas fardas, lançaram um ataque ao romper do dia. No entanto, aplicando a táctica do quadrado, as forças portuguesas conseguiram debelar esse e outros ataques subsequentes, acabando por regressar, vitoriosas, a Lourenço Marques, dois dias depois. Mazule e Matibejana, bem como as suas forças, foram perseguidos por forças dos régulos* da Matola e Maputo, tendo-se asilado em terras de Gungunhana. A vitória dos portugueses trouxe, independentemente do factor de recobro moral para a sua causa, uma expectativa de esperança para os povos que se encontravam directamente oprimidos pelo Reino de Gaza*. Posteriormente, para comemorar essa vitória foi erigido, no preciso local do combate, um monumento evocativo, com o formato de uma pirâmide quadrangular, com dois metros de altura e treze metros de lado, precisamente a medida da largura do quadrado montado pelas forças portuguesas. A localidade de Marracuene viu, também, o seu nome mudado para Vila Luísa, em homenagem à filha do Comissário Régio António Enes*. 

Freire de Andrade – (Figueira da Foz, 19/12/1859 – Lisboa, 1929 - Alfredo Augusto Freire de Andrade) - Oficial do Exército Português (General) e Engenheiro. Ingressou voluntariamente no Exército em 1877 e, nos onze anos seguintes, concluiu os cursos de Engenharia Militar na Escola Politécnica, de Oficial da Escola do Exército e de Engenharia Civil de Minas, em Paris. Em 1889, com a patente de Capitão, vem para Moçambique como Comissário Geral de Minas de Metais e Pedras Preciosas e, no ano seguinte, integra a Comissão de Delimitação da Fronteira de Moçambique com a República do Transval. Em 11 de Março de 1892 é nomeado Governador do Distrito de Lourenço Marques cargo em que se manteve até ao ano seguinte altura em que regressa à metrópole onde exerce a actividade de docência. Em 1895 retorna a Moçambique, integrado na comitiva de António Enes*, desempenhado algumas missões de passagem tais como Governador interino de Lourenço Marques e, depois, o de Chefe do Estado-Maior da coluna militar que trava o combate de Magul, bem como membro da Comissão de Delimitação de Fronteiras em Manica. Em 1906, com a patente de Major, é nomeado Governador-Geral de Moçambique, cargo que desempenha nos quatro anos seguintes, retornando a Lisboa, onde vem a desempenhar outros cargos políticos, tais como Director Geral das Colónias e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1914). Na sua condição de diplomata defendeu a colonização de Portugal nos territórios africanos junto da Comissão de Mandatos da Sociedade das Nações.

João Massabalane (?-?) – Militar de segunda linha. Serviu como intérprete de Mouzinho de Albuquerque* em Gaza. Em 28 de Dezembro de 1895 integrou as forças que entraram em Chaimite* e procederam à captura de Gungunhana*. Dois anos mais tarde, a 10 de Agosto de 1897, na perseguição a Maguiguana* e quando este, encurralado, tenta alvejar o Alferes Vieira da Rocha não o consegue porque João Massabalane alveja-o primeiro, baleando-o nas pernas. Em 1902 ainda promove a prisão dum tio de Gungunhana, o Régulo* Cuio, acusando-o de traição aos portugueses, no que virá mais tarde a provar-se ser falso e tendo o dito Régulo sido solto por ordem de Aires de Ornelas**.

Kraal – Cidade fortificada, aringa*. Termo bóer, que traduzido em português dá “curral”, como sendo o lugar onde se guardam os animais e se acomodam as pessoas.

Manicusse (? - 1858) - Também conhecido por Sochangane. Fundador do Reino de Gaza*, terá sido um chefe militar que Shaka Zulu derrotou. Foge deste, face às suas atrocidades, juntamente com outros chefes tais como Nuqaba** e Zuanguendaba** com quem, por volta de 1820, rumam para o norte, entrando em Moçambique nesse mesmo ano e instalando-se junto à baía de Lourenço Marques. Teria, nesta altura, cerca de 30 ou 40 anos de idade e descendia de Munga Gaza, seu avô e a quem daria o nome do seu Reino, em sua homenagem. Instala-se na zona da Catembe e é aqui que, em 08 de Outubro de 1822, é entrevistado pelo Oficial da Marinha de Guerra Britânica W.F.Owen que percorria aquelas paragens a avassalar régulos* para a Coroa Britânica. Tendo entrado em conflito com os outros chefes angunes* afasta-se dos mesmos e, entre 1825 e 1827, instala-se na zona da Moamba e, de seguida, para fugir às forças de Shaka Zulu**, que o batalham em 1828, vai para as margens do Limpopo, fundando o Reino de Gaza. Em 1833 as suas impis* atacam o Presídio de Lourenço Marques* e chacinam a população, incluindo o governador Dionísio António Ribeiro, mas outros relatos atribuem esta chacina às forças do Rei Dingane, sucessor de Shaka Zulu. Nesse mesmo ano atravessa o rio Save e fixa-se na região de Espungabera, onde reside dois anos, tendo sido talvez nesta altura que muda o seu nome para Manicusse. Encontra-se, de novo, com as forças de Nuqaba, em 1837, que batalha e derrota-o a leste de Chipinga, no actual Zimbabwé, após o que retorna para Sul, e funda a sua capital em Chaimite*, por volta de 1840. O estabelecimento em Chaimite, acrescido de diversas operações militares que desencadeou em toda a região provocou um movimento migratório forçado (difacane*) de cerca de cem mil pessoas que fugiram para o Transvaal. Deixa o seu filho Muzila no norte, a fim de submeter a região compreendida entre os rios Save e Zambeze, o que este vem a conseguir. Em 1849 as suas impis derrotam forças portuguesas do Governador de Inhambane Pereira Chaves, que lhe fizeram frente. Na recta final da sua vida manteve relações pacíficas com diversos povos, incluindo os portugueses, recebendo embaixadas de Sena, Sofala*, Lourenço Marques* e de Inhambane*. À data da sua morte, de doença, ocorrida em 11 de Outubro de 1858, no seu kraal de Chaimite o seu Reino, com uma estrutura militar tipicamente importada da sociedade zulu, estendia-se entre os rios Limpopo e Zambeze. Foi sepultado num bosque a cerca de dois quilómetros de Chaimite, local tumular esse que se tornou sagrado para o seu povo.

Manjacaze Localidade escolhida por Gungunhana* para instalar a capital do seu Reino e onde residia. Após o combate de Coolela, em que forças suas foram derrotadas pela coluna comandada por Eduardo Galhardo*, Gungunhana foge daqui num carro que lhe fora ofertado em nome da Rainha Victória, da Grã-Bretanha, guiado pelo seu motorista Acamela, refugiando-se em Chaimite*, onde acabará preso. O kraal de Manjacaze veio a ser totalmente destruído e incendiado pelas forças portuguesas, em 11 de Novembro de 1895.

Matibejana - (? - Angra do Heroísmo, 13/11/1927) – Régulo* ronga da localidade de Zixaxa, que ficava perto de Lourenço Marques* e aliado de Gungunhana*. Em 14 de Outubro de 1894 atacou Lourenço Marques, tendo ordenado a morte da sua mãe e um seu tio, que se opuseram a esta incursão. Posteriormente as suas forças são derrotadas nos combates de Marracuene e Magul. Tendo procurado refúgio na corte de Gungunhana, que lho concedeu acaba, mais tarde, traído pelo Rei angune* que, em acto de desespero para se tentar salvar, o entregou a Mouzinho de Albuquerque*, quando o mesmo se encontrava sob a sua protecção. Acompanhou, forçado, Gungunhana no exílio, para a ilha Terceira, no arquipélago atlântico dos Açores - Portugal, onde veio a falecer, depois de baptizado com o nome cristão de Roberto. Também referido por Zixaxa, deixou descendência, que ainda hoje perdura naquela ilha.

Maueva - (? - 1872) – Filho mais novo de Manicusse, herda o trono vátua, após ter batalhado e vencido Muzila e ordenado a morte doutros irmãos seus. No entanto, em 1862 é derrotado por Muzila, na batalha de Cunenvecujana, que acabou por voltar a guerreá-lo, auxiliado pelos portugueses. Depois desta derrota Maueva, auxiliado por forças do seu sogro, o Rei Mussuate, da Swazilândia e pelo Régulo da Moamba, ainda atacou por três vezes o território perdido, mas acabou definitivamente exilado nas terras do seu sogro que, tendo perdido bastantes guerreiros, retirou-lhe apoio militar. Veio a falecer, exilado, em Piggs Peak, na Swazilândia, deixando numerosa descendência.
   
Mazule ( ? -  ?) – Régulo*. Em 1892 sucede ao seu pai Mapunga, no regulado da Magaia, que ficava na margem direita do rio Incomáti e abrangia Marracuene, Macaneta e Bobole. Em 1894, aliado a Matibejana adere à luta contra os portugueses e ataca Lourenço Marques*. Combate em Marracuene* acolhendo-se, de seguida a esta derrota, à protecção de Gungunhana*, afrontando sempre os portugueses. Será um dos régulos, para além de Matibejana a quem os portugueses exigirão a Gungunhana a sua entrega. Após a queda do Rei angune, Mazule foge até vir a ser detido, em 1896, acabando deportado na ilha de Timor, onde virá a falecer.

Muzila – (? – Moiamule, 08/1884) - Filho de Manicusse, disputa ao seu irmão Maueva o trono angune mas vê derrotadas as suas pretensões, em 1860. Por essa altura andando Diocleciano Fernando das Neves* na caça, na zona de Chicualaquala, encontra Muzila que conhecera em tempo de vida de Manicusse e protege-o, levando-o ao Transvaal onde o coloca sob protecção de João Albasini*. Em 01 de Dezembro de 1861 Muzila apresenta-se ao Governador do presídio de Lourenço Marques*, Onofre Lourenço Duarte, a solicitar auxílio aos portugueses para expulsar o seu irmão, em troca de submissão a estes. Por trazer pareceres favoráveis de João Albasini e de Diocleciano Fernandes das Neves, o Governador Onofre auxilia-o, acabando Muzila por derrotar o seu irmão, a 16 desse mesmo mês de Dezembro. No entanto Maueva, apoiado por forças swazis do Rei Mussuate, seu sogro, volta a derrotar Muzila mas este, não desistindo, acaba por travar o combate de Cunenvecujana, na zona da Moamba, em 29 de Novembro de 1862, contra Maueva, provocando-lhe nova derrota, sempre auxiliado pelos portugueses, nomeadamente por forças de João Albasini. Após a sua ascensão ao trono do Reino de Gaza*, Muzila reestruturou o seu Reino e manteve relações pacíficas com o Reino vizinho dos Ndebele, de Lobengula**, com quem casou uma sua filha. Manteve um relacionamento distante com o Reino swazi, fruto do apoio que este deu a Maueva e enviou emissários seus ao à colónia britânica do Natal. Guerreou os povos no Transvaal norte e do actual Zimbabwé e com os portugueses manteve um relacionamento dúbio, esquecendo-se bastas vezes que fora graças a eles que ascendera ao trono. Atacou os caçadores de elefantes de João Albasini, que actuavam no Transvaal Norte, bem como expulsou os caçadores de Manuel António de Sousa* que actuavam entre os rios Búzi e Save, tendo sido travado por este na serra da Gorongosa Esta lógica de combate e aparente ingratidão prendia-se com a necessidade de manter o monopólio do marfim* nas suas mãos, até porque o mesmo começou a escassear no sul a partir da 1870. Guerreou forças de Inhambane*, entre 1869 e 1877, não tendo conseguido levá-las de vencida. Morreu em Agosto de 1884, em Moiamule, sua última capital, tendo-lhe sucedido o seu filho Gungunhana*.

Quadrado, Táctica do - Forma de combate das forças coloniais, inspiradas no sistema inglês que, encontrando-se sempre em inferioridade numérica face aos exércitos nativos, agrupavam-se em quadrado, tendo em cada um dos lados do mesmo, por norma, três linhas de fogo (uma deitada, outra de joelhos e outra de pé) o que, efectuando disparos controlados, provocava uma cadência de tiro, tipo metralhadora, rasiando as forças inimigas que, por norma, atacavam frontal e desordenadamente.

Rongas – Também referidos, no tempo colonial, por landins e, modernamente, por tsongas. De origens chona-carangas, este povo era referido pelos portugueses como “burrongueiros”, no início do século XVIII. Instalados no sul de Moçambique, mantinham uma actividade económica baseada em intermediários entre os povos do interior e os do litoral, favorecendo as permutas entre panos*, missangas* e quinquilharia diversa trazidas por comerciantes islâmicos ou portugueses por marfim*, âmbar* e abadas*, trazidos pelas gentes do interior sul de Moçambique. Centralizados no Reino do Inhaca, este Reino era extenso, abrangendo toda a zona a leste e a sul do rio Maputo, no decurso do século XVI. No século seguinte esta unidade política do Inhaca já se tinha esbatido, subdividindo-se em Inhaca Grande e Pequeno, governando estes diversos núcleos populacionais. Com o incremento da actividade comercial portuguesa, após a queda das suas possessões a norte de Cabo Delgado, e a instalação de feitoria de diversas nacionalidades na baía de Lourenço Marques, instalou-se uma lucrativa actividade económica para os rongas que, para tal, criaram e dominaram corredores de exploração mercantil que atingiam o Transvaal, na busca do marfim para comerciarem com os comerciantes estrangeiros que aportavam no litoral com os seus navios. A concorrência entre comerciantes de várias nacionalidades a disputarem o marfim, levou a que os rongas não aceitassem de ânimo leve a decisão dos portugueses de monopolizarem os seus portos, em meados do século XVIII, fechando-os à actividade de outros rivais. Por volta de 1750, convulsões políticas afectaram os regulados rongas. Nuamgobe, Régulo* de Tembe (actual Catembe), alargou os seus domínios até à cordilheira dos Libombos e o Régulo da Matola conquistou as terras dos regulados de Mpfumo e do Magaia. Em 1784 os portugueses fazem nova tentativa de reocuparem a baía de Lourenço Marques, estalando conflitos com o Tembe e o Matola, que pugnavam pela sua independência. Na década seguinte surgem conflitos dinásticos no Tembe, por morte de Mhaide, intervindo os portugueses a favor dum dos pretendentes. Em 1795 o Matola foi assolado por uma guerra civil, tendo também os portugueses auxiliado Manhece, um dos pretendentes a dirigir o regulado. Em finais do século XVIII os portugueses, faca à recusa do Matola, instalaram-se nas terras do Tembe, que os acolheu. As invasões angunes*, ocorridas cerca de 1820, vieram alterar toda a correlação de forças estabelecidas entre os diversos regulados rongas de Tembe, Maputo, Matola e Moamba. Os de Tembe resistiram e foram vencidos, e os da Moamba e Matola acoitaram a submissão. Até à fixação definitiva e soberana dos portugueses, a região sul é atravessada por sucessivas guerras tribais, em que estes, na política do dividir para reinar ora ajudavam uns contra outros, alterando depois a correlação de forças, para melhor enfraquecerem os adversários.

Vieira da Rocha – (Évora, 1872 – Lisboa, 1952 – Ernesto Maria Vieira da Rocha) – Oficial do Exército Português (General). Forma-se pela Escola do Exército, ganhando a patente de Alferes em 1893. Em 1895 segure para Angola e, no ano seguinte é colocado em Moçambique, como Ajudante de Campo de Mouzinho de Albuquerque*. Participa em alguns combates da campanha dos Namarrais** e na perseguição a Maguiguana*, tendo sido ferido no combate de Macontene. No cerco a Maguiguana este tenta alvejar Vieira da Rocha, mas João Massabalane impede tal acto, salvando-lhe a vida. Em 1900 é nomeado Governador do Distrito de Moçambique e, no fim desse mesmo ano regressa à metrópole, findando a sua carreira ultramarina, mas tendo ainda desempenhado funções ministeriais.

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* - Já aberta ficha
** - A abrir ficha posteriormente





sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Kepari Leniata


Nova Guiné - Leio, na imprensa, que na Papua Nova Guiné, uma mulher de 20 anos, identificada como Kepari Leniata, foi acusada por populares da prática de feitiçaria, prática essa que teria levado à morte uma criança. Como forma punitiva, esses mesmos populares acabaram por torturar a mulher em causa após o que, estando a mesma ainda viva, a regaram com gasolina à qual atearam fogo, acabando a mesma por sucumbir. Esta situação foi desenrolada perante uma multidão onde se encontravam crianças a assistirem. (DN/Globo, 07/02)
 
Há uns tempos atrás, ao assistir a um dos programas do "Eixo do Mal", quando os comentadores debatiam o caso do "Zico" (o cão que matou a criança em Beja)  Daniel Oliveira, um dos referidos comentadores ,afirmava: "A vida do ser humano mais asqueroso vale mais do que a vida do animal doméstico que mais gostamos. Sempre."
 
Não sei porquê, quando li a notícia do modo como Kepari Leniata morreu, com os seus assassinos a assistirem satisfeitos por terem feito "justiça popular" e com a presença de crianças, lembrei-me como seria a reação de Daniel Oliveira se ele lá tivesse estado presente. Não que ele aprovasse tal tipo de justiça, mas uma coisa é falarmos de barriga burguesmente cheia e outra é estarmos perante determinadas situações fracturantes. 
 
É que, sem sombra de dúvidas, há animais irracionais que valem mais que certos bípedes.
 
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União Indiana - Numa outra notícia sou informado que na Índia, no Estado de Bengala Ocidental, cerca de uma centena de mulheres pobres, que tinham sido sujeitas à operação de esterilização, após as cirurgias foram abandonadas num terrenos ao ar livre, para recuperarem, pois o hospital não tinha camas nem espaço para mantê-las até à sua recuperação. (DN/Globo, 07/02)
 
Bem, estamos a falar dum País que tem, no seu arsenal militar, a bomba atómica. Com todos os custos astronómicos que isso acarreta. Se eu fosse o Daniel Oliveira diria: "A dignidade do ser humano mais pobre vale mais que a bomba atómica que eu armazeno num silo." Mas eu não sou o Daniel Oliveira.
 
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