"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

sábado, 29 de setembro de 2012

Mary Kingsley



VIAJANTES, AVENTUREIROS E EXPLORADORES



Mary Kingsley - (Londres, 13/10/1862 - Cabo, 03/06/1900 / Nome completo: Mary Henrietta Kingsley) - Exploradora, escritora, entomologista, bióloga e etnógrafa. Filha dum médico e escritor (George Kingsley) que viajara por África e América do Norte e sobrinha de Henry Kingsley, romancista que se aventurara por terras australianas e de Charles Kingsley, escritor, historiador e professor universitário. Assim, apesar de não ter efectuado muitos estudos escolares, fruto da mentalidade da época vitoriana em que viveu, colmatou esta brecha com o acesso aberto que tinha ao acervo bibliotecário familiar, o que lhe permitiu afeiçoar e aperfeiçoar o seu espírito crítico aos avanços da ciência de então e pintalgar o seu imaginário com as leituras das aventuras dos heróis que a sua Pátria tão fecundamente paria. Foi uma auto-didacta, tendo aprendido a ler e a falar línguas estrangeiras praticamente sozinha. O seu apetite voraz pelo conhecimento levou-a a dominar as áreas da física, da química e das ciências naturais entre outras.

 

Havia dois heróis no sótão cerebral de Mary Kingsley. Um era o lendário Richard Francis Burton, já aqui biografado anteriormente e o outro era o seu pai. Para além da leitura diversificada que tinha em casa, o imaginário de Mary Kingsley ampliava-se com as aventuras do seu pai, nas suas deambulações mundanas, pois o mesmo, como médico pessoal de nobres excêntricos que passavam a vida a viajar, acompanhava-os sempre. O relato das histórias do mesmo empolgava o seu espírito, como por exemplo da vez que escapara à morte, por o seu navio ter sido retido por um temporal e não ter chegado a tempo de acompanhar o General George Armstrong Custer  (1) na sua campanha contra tribos índias e para a qual fora convidado. Escapara da morte por um fio ao não estar presente em Little Big Horn (ver anexos). Sempre que regressava das suas viagens o pai de Mary Kingsley trazia uma quantidade enorme de artesanato das regiões que viajara bem como abundantes anotações etnográficas dos povos que visitara. E era Mary Kingsely quem catalogava, fichava e ordenava todo o material etnográfico e os apontamentos que o seu pai ia trazendo.
 





Mary Kingsley


 
"Passei toda a minha infância e juventude exclusivamente entre a casa e o jardim", diria ela anos mais tarde. A monotonia da sua vida, com um pai sempre ausente, fadada a tomar conta da sua mãe doente e deficiente e tutora pela educação dum irmão mais novo, terminou abruptamente aos trinta anos com a morte dos seus progenitores, ambos num curto intervalo de tempo, no decurso do primeiro trimestre de 1892. A acrescer a este duplo evento, o facto do seu irmão ter decidido partir para a China, no ano seguinte, ainda mais a veio libertar do fardo de ter que continuar a ser a tutora do mesmo. Os astros conjugavam-se para que esta mulher, solteirona e com um rendimento fixo fruto da herança, se lançasse na aventura africana. Estava decidida a dar continuidade à obra iniciada pelo seu pai, que era escrever um livro etnográfico sobre os usos e costumes dos povos que visitara. Para tal iria partir para África para dar seguimento às observações e apontamentos do seu falecido progenitor. "O que me motivou a ir à África Ocidental foi o estudo da mentalidade dos nativos, as suas práticas religiosas e a sua organização social. Desejava completar o grande livro que o meu pai deixou inacabado. Sabendo como ele teria gostado de o concluir, depois da sua morte decidi partir para essa região de África."



Em 1892 embarca, sozinha, numa primeira viagem para o arquipélago das Canárias, como forma de vencer o torpor da perca dos familiares como também para se familiarizar com as viagens. Viaja entre as ilhas, em diversos barcos velhos, embriaga-se com as brisas marinhas e cruza-se com toda uma mescla de animais, mercadorias contrabandeadas e velhos marinheiros que lhe transmitem uma experiência que começa a amadurecê-la. "Navegava em barcos carregados de pretos de todas as idades e sexos, macacos, papagaios, serpentes, canários, ovelhas, óleo de palma, ouro em pó e marfim. ...", como escreverá a uma amiga londrina. A ninfa libertava-se do casulo e a transformação para uma borboleta estava a acontecer a uma velocidade estonteante. Pela primeira vez deixava as nevoentas e húmidas brumas londrinas e descobria, na prática, o que teorizara em leituras de livros durante mais de vinte anos, fechada na biblioteca paterna: sentia na flor da pele outros climas, linguava com outras gentes, palatava outros manjares, experimentava outros costumes, em suma... sentia o Mundo a seus pés. E, acima de tudo, a liberdade de decidir o seu destino.



Retorna à Grã-Bretanha, decidida agora a preparar uma incursão a África. Para tal prepara-se com cuidado metódico. Aconselhada aos perigos tropicais, nomeadamente às doenças e venenos, tira um curso de enfermagem na Faculdade de Medicina de Kaiserworth (Alemanha). Quando volta a embarcar na sua bagagem iam, para além dos xaropes costumeiros, filtros de água, quinino em abundância e óleo de fígado de bacalhau, entre outros unguentos e medicamentos. Para além da parte sanitária levava material fotográfico (tripé, máquinas e chapas), garrafas de formol para conservar insectos ou outros pequenos animais lacustres ou fluviais que capturasse, roupas, cobertores, calçado, um guarda-chuvas e uma faca de mato. Quão longínquas estavam as comodidades ou dos ricos de então ou do actual século XXI.



Em Julho de 1892 apanha o cargueiro "Lagos" que se dirigia a Angola mas, até tocar no mesmo iria percorrer uma infinidade de portos intercalares o que permitiria a Mary Kingsley não só adaptar-se aos novos climas como também conviver e aprender com os comerciantes brancos que viviam nas feitorias costeiras. Desembarca em Freetown, capital serraleonesa e deixa-se capturar docilmente pelo modo de viver tropical. Para uma mulher habituada e adepta da rígida conduta moral vitoriana seria pouco provável que aceitasse o circular entre seres semi-nus, de corpos másculos voluptuosos, mulheres sorridentes e provocantes no meio da sarabanda dos mercados onde se mercadejavam toda uma gama de comidas, temperos, escravos, panos, animais; tudo isto amontilhado em tendas multicoloridas. Na realidade não havia moral vitoriana alguma que resistisse à magia de África. 



Reembarca no cargueiro "Lagos" e visita os portos que este vai tocando na sua jornada marítima para o Sul - Libéria, Costa do Ouro, Benim e Camarões - até que finalmente atinge o seu destino, Angola. Desembarca em Luanda e, nesta colónia portuguesa, irá passar os meses seguintes, percorrendo a mesma. A cidade capital pareceu-lhe "o povoado mais bonito de toda a África Ocidental" pesasse embora o seu negro legado histórico de ter sido um importante ponto de exportação esclavagista. Ruma para Norte, sustentando-se a negociar bens com os povos indígenas com quem se vai cruzando e estabelece-se algum tempo em Cabinda, onde dá início ao seus estudos etnográficos. Percorre o Estado Livre do Congo (2) onde observa a crudelíssimo sistema colonial do Rei Leopoldo da Bélgica, recolhe todos os informes que consegue mas nunca oficializou publicamente as suas observações, que eram violentamente negativas.  Tinha permutado o seu silêncio pela autorização de viajar pela coutada real. No entanto transmitiu-as a um jornalista e político das suas relações pessoais, Edmund Morel, (3) adversário implacável do sistemas coloniais e que, até ao fim dos seus dias, lutou e denunciou panfletariamente estes abusos.




Nove meses após a sua partida chega, em Janeiro de 1894, a Londres. Traz, na bagagem, um acervo de manufacturas africanas e animais formolizados e, na alma, uma paixão acrescida por África. Para concretizar a sua terceira viagem precisava de apoios  e estes são-lhe oferecidos quando entrega o seu acervo zoológico ao Museu de História Natural Britânico e os seus apontamentos, complementares da obra iniciada pelo seu pai à Editora MacMillan. Havia ali um manancial a estudar e a publicar e, quer o Museu quer a Editora, prespectivavam como altamente proveitosas o retorno daquela singela mulher, que teimava continuar vestida espartanamente com longos trajes negros do pescoço aos pés, quentes e espartilhados, quer estivesse na fria e húmida Londres quer na tórrida Freetown. Recusava-se a vestir qualquer outro tipo de roupas: "No que se refere às extremidades da minha anatomia mais próxima da terra e à forma de as proteger, direi que antes de usar calças preferia perecer no patíbulo público". Estranha forma de encarar o vestuário.



Em 23 de Dezembro de 1894 inicia a sua terceira viagem, com destino à Serra Leoa, a bordo do vapor "Batanga". Calha ter por companhia outra passageira, Lady MacDonald, a esposa do então Governador da Nigéria, na costa do Calabar. As duas travar-se-ão de amizades e o estatuto da sua amiga, como esposa dum Governador colonial abri-lhe-á portas, ao escalar Acra, na Costa do Ouro (actual Gana). À chegada ao Calabar teve a sorte do Governador, conjuge da sua amiga, ter que ir tratar de assuntos na ilha Fernando Pó (4), pelo que Mary Kingsley acaba convidada a acompanhar o casal nesta viagem.  Aí tem oportunidade de verificar as miseráveis condições a que os nativos estavam submetidos ao poder descricionário dos missionários. As fotografias que então tirou acabariam por fazer furor mais tarde em Londres, ao exibi-las para consubstanciar as suas teses em defesa dos povos africanos.


Fica os quatro meses seguintes na costa do Calabar, como convidada do casal Macdonald, que aproveita para colher, guardar e catalogar espécimes piscícolas, larvares e insectos nos lagos, rios e bosques da região. Havia que não descurar com os compromissos havidos para com o Museu de História Natural londrino. Nesse espaço de tempo, a sua formação de enfermeira vem ao de cima e é posta à prova, quando arregaça as mangas e colabora no hospital local, onde ajuda a tratar dos doentes fruto dum surto de tifo que se desencadeia na colónia.



Debelado o susto do surto tifóide, resolve peregrinar para o interior do continente e visitar Mary Slessor (5), a Rainha do Calabar, em Okoyong, que tanto ouvira falar e admirava. Sózinha e destemida, inicia a viagem de canoa subindo o rio Calabar e, depois, prossegue a pé, abrindo carreiros de passagem a golpes de catana. Finalmente atinge Ekenge, onde a missionária trabalhava e que a recebe de braços abertos. Com ela Mary Kingsley trava uma verdadeira amizade e admiração pela sua obra. Crítica que era e sempre foi da actividade dos missionários, abriu uma excepção a esta indómita mulher, por a mesma respeitar os hábitos e costumes dos povos africanos, não tentando modificá-los pela força ou pelo medo. Mary Slessor foi, praticamente, a excepção que Mary Kingsley abriu na sua campanha contra os missionários. A prestimosa ajuda que a missionária lhe prestou, nos relatos dos modos de vida dos povos com quem vivia, foram uma preciosa fonte de informação que em muito contribuíram para os seus livros. Que ela, agradecida, nunca esqueceu pela vida fora, tendo sempre dito que os tempos que passara em Ekenge tinham sido dos mais felizes da sua vida.



Deixando para trás Ekenge, porque a vida não parava, não mais voltará a ver a sua incondicional amiga missionária. Havia que satisfazer os compromissos com o Museu londrino e, assim, percorre a costa do Malabar, na recolha de espécimes e explora o delta do Níger, passeia-se por pântanos mosquitados e malarientos e rios crocodilados e trava-se de razões com um hipopótamo na disputa territorial dum naco fluvial. Ganha o combate ao afugentar o animal que terá ficado espantado com aberturas e fechos consecutivos da sua sombrinha.  E sempre, sempre vestida com as suas longas e quentes saias a caírem-lhe aos pés e as camisas fechadas até ao pescoço. Em termos de moda ... parara no tempo.



Ruma até ao actual Gabão, instala-se em Libreville (6) e explora o rio Ougooé (7) e dirige os seus passos para junto do povo fang, por estes terem muito pouco contacto com europeus e, assim, ainda não estarem contaminados, mantendo ainda resquícios da sua natureza ancestral. E a fama de serem canibais não a assustou. A fim de se auto-financiar mercadeja e, assim, torna-se agente comercial da firma Hetton & Cooksoon, cujos tentáculos se espalhavam por toda a bacia hidrográfica do rio Ougooé e também feitorava por este rio acima, em várias localidades. A 05 de Junho de 1895 ruma rio acima, acabando por vencer os 200 quilómetros que a separam de Lambarané. A viagem fluvial é uma caminhada no Paraíso, ao ver a paisagem luxuriante duma África ainda pujante: "O bosque negro e as colinas perfilam-se contra o  céu estrelado cor de púrpura. Aos meus pés vejo a escotilha da sala das máquinas, iluminada pelo fulgor avermelhado da caldeira. Dois kruman semi-nus alimentam o fogo com madeiros vermelhos como pedaços de carne fresca. As chamas fazem brilhar os seus corpos suados como bronze polido", pintalgará ela magistralmente em escrita no papel, posteriormente numa cinzenta londrina, num famoso livro que sairá a lume. Apaixonara-se loucamente pelo labiríntico capilar dos afluentes e riachos que, enquadrados pelo verde vegetal das florestas galerias, a levavam aos infindáveis e ubérrimos pântanos e mangais que aninhavam toda uma vastíssima variedade de exemplares zoológicos, que ia colhendo e guardando em frascos de formol para posterior entrega ao Museu Britânico. "Às vezes creio que não pertenço ao mundo dos humanos, a minha gente são os mangais, os pântanos, os rios, os húmidos bosques tropicais, com eles entendo-me na perfeição..." Recordará ela mais tarde, carregada de nostalgia, enquanto pela sua mente passava o filme da sua vida ao ver-se a circular em emaranhados  bosques de bambu e a desembarcar em pequenas insulas fluviais.



Atinge Lambarané, que é um povoado nas margens do rio Ougooé onde se situava o famoso hospital do lendário médico missionário Albertt Schweitezer (8). Daí segue rio acima até atingir o povoado Kangué, onde se alberga em casa dum casal de missionários, os Jacot. Aqui cruza-se com os fang e, em representação da firma que a nomeara agente comercial, começa a sua actividade mercantil com os mesmos. Conduz sózinha e com mestria a sua piroga, domina a pouco e pouco o linguar desse povo e visita-o nas suas diversas aldeias. Não receia nada e o facto de circular sozinha pelo emaranhado fluvial e pernoitar nos povoados fangs ainda mais a fascina. Como dirá: "O método do comércio permite-nos sentar como um hóspede respeitado nas fogueiras das aldeias mais remotas, ser amiga e confidente das mulheres. Permite que nos associemos ao clube dos doutores bruxos, coisa que não aconteceria se chegássemos numa expedição rodeada de homens armados." Permuta anzóis, rum e tecidos  por marfim, comida e peixes para futuros estudos científicos.



Não receia o canibalismo deste povo, que reconhece que pratica e, ironiza, ao escrever: "O canibalismo dos fang, apesar de ser um hábito frequente, não me parece que represente um perigo para os brancos. A única maçada consiste em tratar de impedir que algum dos nossos acompanhantes pretos seja comido."  Respeita-os e não interfere com a sua cultura, um dos segredos para a sua plena aceitação nas aldeias. Não receia o seu aspecto aterrador e selvático, desnudados e sempre armados. Respeita-os acima de todos os outros povos que conheceu, reconhecendo-lhes nobreza: "São africanos activos, brilhantes e enérgicos que, pela sua natureza belicosa e predadora, contribuem em grande medida para que deixemos de lamentar e deplorar a indolência e a letargia das restantes tribos da costa atlântica." Deixa os povoados fang e inicia a sua lenta viagem de retorno à civilização europeia. Ainda vai até ao estuário do rio Muni, que serve de fronteira natural entre o Gabão da Guiné Equatorial onde se acoita na ilha Corisco (9) para recolha de amostras crustáceas.



Mas a sua lendária ousadia não terminará aqui. Desloca-se à então colónia alemã dos Camarões e, seguindo as pisadas do seu ídolo Richard Francis Burton, escala o Mungo Mah Lobeh (10) até ao seu cume. Foi a primeira e única vez que praticou montanhismo. Para uma inexperiente, que ainda por cima escalou-o por um caminho que nunca ninguém antes alguém efectuara, foi um feito inédito. Mary Kingsley, ao vencer os 4095 metros que separam a base do cume, tornara-se na primeira mulher europeia a escalar um monte africano. Aí, teve o Mundo a seus pés.




Retorna à Mãe-Pátria em finais de 1895 e já então é uma mulher célebre. A imprensa espera-a e ela aproveita essa visibilidade para sair a terreiro em defesa das culturas africanas e criticar a actividade de muitos missionários que, à força, destruíam as crenças nativas e alteravam os seus ancestrais modos de vida. Percorre o País onde dá inúmeras conferências e palestras, mas distancia-se dos  movimentos femeninistas, que tentavam fazê-la uma das arautas, fruto da sua independência vivencial. Escreve e publica dois livros sobre a sua experiência africana:"Travels in West Africa") ("Viagens na África Ocidental") em 1897 e "West African Studies" ("Estudos da África Ocidental") (1899), que se tornam em êxitos de vendas e que lhe trazem mais nomeada junto dos meios académicos.





As viagens exploratórias de Mary Kingsley




A recolha entomológoca e piscícola que efectuara nesta sua segunda ida a África é recebida avidamente pelo Museu de História Natural. Na catalogação dos animais vêm a detectar bastantes desconhecidos para a época, que vão baptizando, alguns como Kingsley em homenagem à exploradora. A sua celebridade é enorme, e aproveita a mesma para escrever inúmeros artigos nos jornais e bater-se por causas humanitárias.



Mas o apelo a África era enorme e sente desejos de voltar, conforme escreverá: "Não consigo esquecer o encanto da África ocidental que deixei para trás. É maravilhoso deixarmo-nos envolver pela sua magia quando estamos lá..... Nessa altura queremos voltar à costa africana que nos chama, dizendo o que os nativos dizem às almas dos seus amigos que morrem: volta, esta é a tua casa...".



Quando se desencadeia, na África Meridional, o segundo conflito anglo-bóer (11) voluntaria-se para lá, como enfermeira se bem que, inicialmente, dissesse que ia como correspondente de guerra e recolha de espécimes no rio Orange. Em 28 de Março de 1900 aportava à cidade do Cabo, depois duma dura viagem marítima  a bordo do "Moor", onde partilhou o espaço com mais de seis centenas de soldados. Colocada no "Palace Hospital", o pior dos piores hospitais daquele tempo de guerra, desceu aos infernos quando viu que o referido hospital não passava dum edifício semi-arruinado, com o tecto em risco de desabamento e onde os corpos dos doentes espalhavam-se pelo chão, de tantos que eram, fazendo companhia aos percevejos. "Nunca estive num lugar tão horrível como neste vale da morte e desolação a que chamam Hospital Palácio." escreverá, desolada e desanimada, numa carta para uma amiga londrina.



A falta de condições de higiene, o aspecto zombie dos doentes, o ar pútrido, a prisão em que sentia naquelas paredes sujas, com a Morte empunhando a sua gadanha a colher diariamente a sua colecta, atiraram-na para a depressão. Começa a ingerir doses excessivas de bebidas alcoólicas desaustinadamente e a fumar desatinadamente, fórmula auto-justificativa de se proteger dos germes infecciosos hospitalares. O desnorte apodera-se desta mulher combativa, que ao vício se abandona, desintegrando toda a sua postura de mulher calma e fria. O que canibais e crocodilos, aranhas venenosas e mosquitos malarientos não tinham conseguido, tinha sido agora aquela visão dantesca de cadáveres amontoados, cheiros nauseabundos e gritos de desespero do sentimento de impotência  que a tinham alquebrado.



Dois meses após a sua chegada, é atingida pela febre tifóide e, cônscia que vai morrer se não tomar providências, trava o último combate da sua vida. Operada aos intestinos a 01 de Junho de 1900, o coração bloqueia e baqueia dois dias depois. Morre jovem, com trinta e oito anos, quando ainda poderia dar muito à aventura e à ciência. A seu pedido o seu corpo foi lançado no mar meridional. Contra sua vontade teve honras militares.


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Trinta anos enclausurada em casa sem nenhum devaneio, sem nenhuma história, sem nenhuma emoção. Mas os oito seguintes foram intensamente vividos. Foi uma mulher fabulosa e corajosa, que amou a África verdadeiramente africana e não a África que estavam a moldar. Seguiu as pisadas dos seus heróis e, tal como eles, partilhou os perigos da mítica África desconhecida.



Viajou pela lusa Angola, com uma Luanda bonita mas ainda carregada dos suores  e onde ainda ecoavam os gritos de incontáveis escravos exportados para os "brasis" e ainda foi das que viu os horrores do Estado Livre do Congo leopoldino. Tal como o seu ídolo Richard Francis Burton, palmilhou os trilhos calabarenhos e gaboneses e escalou o "Trono dos Deuses", trinta anos depois dele; atingiu os fang canibais e conviveu com os mesmos. Foi sozinha e sozinha regressou para contar a história. Intacta e inteira. Ainda conviveu com outra lenda africana, Mary Slessor. Ainda viu e sentiu o cheiro dos gorilas., disputou terreno a leões e águas a crocodilos E, ao regressar a solo pátrio, não deturpou a história do que viu, sentiu e ouviu no seu convívio com  as gentes africanas. Defendeu as culturas dos povos africanos, criticando àsperamente os missionários seus conterrâneos e não só, que injectavam à força a civilização europeia nos povos e acusando-os de racismo. Pagou, por vezes, caro essa ousadia, tendo sido levada ao ostracismo em determinados sectores conservadores da opinião pública, instrumentalizada por uma imprensa docilizada e ao serviço dos interesses imperiais políticos, económios e religiosos do seu País que estava a construir o maior Império dos tempos modernos. Mas nunca cedeu. 


 
Voluntariamente conviveu, dia a dia, com a  morte ao oferecer-se para prestar enfermagem quer aos enfermos tifóides do Calabar na África Equatorial quer aos feridos da guerra anglo-bóer na África Meridional. Esse voluntarismo atingiu-a em cheio e a factura apresentada foi pesada. Mas não virou a cara.
 
 
De certeza que, ao morrer, das últimas imagens que lhe passaram pela mente foram os gorilas a passearem-se paulatinamente nas verdes colinas da sua África amada. 



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(1) - George Armstong Custer - (Ohio, 05/12/1939 - Montana, 25/06/1876). Tornou-se no mais jovem militar norte-americano a ganhar as estrelas de generalato ao ser promovido, interinamente, ao posto de Brigadeiro, ao serviço das forças da União, no decurso da Guerra da Secessão (1861/1865). Após o findar do conflito civil estadunidense, retoma a sua patente de Capitão e, no ano seguinte é incorporado no Sétimo Regimento de Cavalaria, do qual assume o comando como Tenente-Coronel. Participa activamente nas guerras da destruição dos povos índios, como forma de facilitar a expansão dos europeus para Oeste. 
 
 
 
 
 George A. Custer
 
 
 
Impulsivo, corajoso e imprudente, a sua juventude leva-o a cada vez ser mais ousado na perseguição e destruição da Nação Índia, que haveria de lhe trazer a fama que adorava e o poder que ambicionava. No dia 25/06/1876 leva o seu Regimento de 600 homens a atacar uma aldeia índia, atraído por uma armadilha que os índios lhe montaram. Caindo no meio duma emboscada, na chamada "caixa de morte" (A), George Custer  e quase todo o Sétimo de Cavalaria pagaram caro a ousadia, não tendo ficado ninguém para constar a História, excepto uns quantos que desertaram antes da batalha, que ficou conhecida como Little Big Horn. Foi a maior derrota militar da história do Exército, no seu combate contra os povos índios. Neste combate os índios, entre os vários líderes, contavam com os famosos Sitting Bull (B), Crazy Horse (C) e Two Moon.
 

 
O facto dum Regimento do Exército norte-americano inteiro ter sido chacinado numa luta contra os índios, com a morte do seu próprio Comandante que, já então, era muito popular no seio da comunidade branca, ainda mais acirrou os ódios contra os índios e a sentença de morte das suas culturas e tradições, se já estava em marcha, ainda mais foi acelerada.
 

 
Assim, se Little Big Horn representou, a curto prazo, a morte física de George Custer e do seu Regimento, também representou, a médio prazo, o canto do cisne da Nação Índia. Canto este que findaria em 29/12/1890 quando cerca de 400 índios sioux, de ambos os sexos e de diversos grupos etários, foram chacinados no combate desigual de Wounded Knee (Dakota Sul). Terminava aqui, oficialmente, a chacina índia.


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A) - Caixa de morte - Terminologia usada por sectores militares que significa que uma determinada formação militar (secção, pelotão, companhia, regimento, batalhão) entrou num vale, por exemplo, ficando à mercê do fogo inimigo que, alcandorado sobre pontos mais altos, está mais bem posicionado para o flagelar. Para além da Little Big Horn, outro exemplo duma batalha famosa que também ficou conhecida por se ter travado numa "caixa de morte" foi a de Dien Bien Phu, no Vietnam do Norte, travada entre 13/03 e 07/05 de 1954 e onde forças francesas foram completamente derrotadas por forças nacionalistas, após 57 dias de combate.





Representação pictórica da batalha de Litle Big Horn.
Como se vê a área de combate encontra-se rodeada de montanhas/colinas.


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Lançamento de pára-quedistas franceses durante os combates no
planalto de Dien Bien Phu. Como se pode reparar, o local encontra-se
rodeado de colinas, tornando o mesmo numa "caixa de morte".


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B) - Sitting Bull (Tatanka Iyotake) - (1834 - 15/12/1890) - Liderou uma facção sioux. Comandou superiormente as forças índias (dakotas e cheyennes) na batalha de Little Big Horn. Perseguido refugia-se com os seus homens no Canadá, donde acaba por retornar em 1831. Integra depois o espectáculo do empresário circense Bufallo Bill.
 
 
 
 
 
Sitting Bull
 
 
 
 
Virá a morrer baleado por forças americanas quando tentou opor-se à prisão do feiticeiro paíute Wovoca, líder espiritual índio que profetizava a "dança fantasma", cuja mística prometia uma terra sem brancos e em que os índios mortos voltariam a renascer.
 
 

C) - Crazy Horse - (1840 - 05/09/1877) - Guerreiro lakota e um dos líderes da batalha de Little Big Horn. Antes deste combate liderou guerreiros índios contra a penetração europeia nas suas terras e combateu incansavelmente o Exército norte-americano.


 
 
Desenho do rosto de Crazy Horse,
segundo informações prestadas pela sua irmã



Em 21 de Dezembro de 1866 comandando os lakotas, participa no combate de Fettermen, no Wyoming, onde forças índias lakotas, oglalas e cheyennes liquidam todos os 80 militares duma companhia estadunidense, comandada pelo Capitão William Fettermen. A 02 de Agosto do ano seguinte participa no combate de Wagon Box, sensivelmente na mesma área onde travara o combate no ano anterior, com resultados negativos para as forças índias e, em 17 de Junho de 1876, encontra-se novamente a combater o Exército na batalha de Rosebud Creek, no Montana. Nesse mesmo mês trava a grande batalha da sua vida, em Little Big Horn, no qual foi um dos líderes que comandou directamente e no terreno os seus homens.
 
 
Este indómito e incansável guerreiro aparece depois a liderar forças índias no combate de Buttes Slim, no Dakota Sul a 10 de Setembro de 1876, numa desesperada tentativa de resgatar o seu chefe tribal, Old American Horse, mas acaba derrotado e o seu líder tribal morto. Em fuga, a 08 de Janeiro de 1877 e na região de Montana, Crazy Horse trava a sua última batalha contra as forças norte-americanas, no combate de Wolf Mountain, sendo obrigado a retirar-se, derrotado.

 
A 05 de Maio desse mesmo a o rende-se às forças americanas. A doença, a fome e o rigor invernal levaram-no a tomar essa opção desesperada, para evitar mais sofrimento ao seu povo. A sua vida como prisioneiro foi atribulada e acabou assassinado à baioneta por um soldado norte-americano, numa morte que nunca foi bem explicada e que ainda hoje gera controvérsia.

 
Crazy Horse tornou-se, com o rolar dos anos, num ícone da cultura norte-americana e ainda hoje a história da sua vida de caçador, guerreiro e líder tribal é admirada por muitos norte-americanos. 

 
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(2) - Estado Livre do Congo - Correspondendo geográficamente à actual República Democrática do Congo (ex-Congo belga) esta imensa área centro-africana foi criada por vontade férrea do Rei Leopoldo II da Bélgica que, para tal, encarregou o explorador e aventureiro Henry Morton Stanley (A) de concretizar no terreno a sua vontade.





Bandeira do Estado Livre do Congo,
do Rei Leopoldo II



O Rei Leopoldo II era um monarca constitucional dum pequeno País cuja política não oferecia perigo aos seus pares europeus. Mas a sua ambição pessoal era maior que o seu País e este homem, duro, arrogante e amoral sonhava com a grandeza histórica. Tentara alugar territórios noutros continentes mas os seus esforços tinham sido infrutíferos. Quando Henry Morton Stanley desvendeu um dos últimos segredos milenares africanos - o curso do rio Congo - e descreveu as fabulosas riquezas à espera de quem as colhesse Leopoldo II, sagaz e rápido, convocou a Conferência Internacional de Bruxelas (B), sob a égide da sua Associação Internacional Africana, uma organização que, sob a capa do humanitarismo, apenas servia de ponta de lança aos interesses secretos e obscuros do monarca. De seguida contratou Henry Morton Stalley para superintender os trabalhos que acabassem por criar um Estado em África, com todas as infra-estruturas necessárias à sua exploração, que começavam pela construção duma linha férrea e de fortes militares que cortasse o coração de África até ao Oceano Atlântico, para trazer todas as riquezas minerais do território.



Os meios empregues para recrutamento de pessoal e exploração das riquezas foram violentamente desumanos para atingirem os fins, que eram a criação da fabulosa riqueza pessoal do monarca belga. A base das violações, sequestros familiares, amputação de membros, torturas e fomentação de guerras tribais, o conluio com os negreiros zanzibaritas, os programas de fome colectiva que levavam ao recrudescimento do canibalismo, tudo serviu para manter docilizados os escravos arrebanhados à força nas aldeias interiores.



Para não nos alongarmos em demasia, pois este será um tema a abordar mais tarde, o Estado Livre do Congo (C) não passou dum coutada privada do Rei, que a explorou desenfreadamente entre 1885 e 1908 após o que, a 15 de Novembro desse ano, face aos clamores internacionais, o território passou para as mãos do Governo belga, depois de ter sido anexado pelo Parlamento, que manteve o estuto colonial até à independência política deste território. 


(A) Já biografado anteriormente.

(B) Descrita na mensagem de hoje, na História de Moçambique Colonial.

(C) Sobre este tema já abordei anteriormente o excepcional livro "O fantasma do Rei Leopoldo" da autoria de Adam Hochschild bem como o "Coração das trevas" de Joseph Conrad.


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(3) Edmund Dene Morel (1873-1924) foi um jornalista e político britânico, de orientação socialista, que toda a sua vida combateu abertamente as violações dos direitos humanos. Juntamente com outros políticos e associações denunciou as arbitrariedades desumanas do Estado Livre do Congo, tendo-se tornado numa das "bestas malditas" do Rei Leopoldo II. Amigo pessoal de Mary Kingsley, ela terá sido um importante canal de informações que lhe permitiram manter as hostilidades contra a actividade desumanitária do monarca belga. É o exemplo dum dos injustiçados da História, pois o exemplo da sua vida de combatente pelos Direitos Humanos, o seu pacifismo e o seu percurso político hoje estão bastante esquecidos. 



(4) A ilha Fernão Pó, localizada no Golfo da Guiné, chama-se actualmente Bioko e pertence à actual República da Guiné Equatorial. Terá sido descoberta em 1472 pelo navegador português com este nome que, nessa mesma viagem integrada na saga dos Descobrimentos Portugueses, também terá descoberto e explorado a foz do rio Wori, na actual República dos Camarões. Posteriormente, em 1778, esta ilha e a parte continental que engloba a actual República, foi entregue pela Coroa Portuguesa à sua congénere espanhola, por permuta de territórios na América do Sul que acabaram por integrar o espaço do Brasil, sendo esta a razão do Reino de Espanha ter tido uma (e única) colónia na África sub-sahariana. Esta ilha delimita, aquaticamente, a fronteira com a República dos Camarões.


(5) - Sobre Mary Slessor já foi aberta ficha anteriormente.


(6) - Libreville, a actual capital gabonesa foi fundada em meados do século XIX por escravos libertos. Serviu de rampa de lançamento para a penetração colonial francesa, pelo que foi, no século XIX, capital do experimental Congo Francês, até perder esse estatuto para Brazzaville.


(7) O rio Ougooé é a principal estrada fluvial da actual República do Gabão. Com cerca de 1.200 quilómetros de extensão, nasce no Congo e é o principal rio que se localiza, geograficamente, entre os seus congéneres Congo e Níger.


(8) Sobre a vida do missionário Albert Schweitzer já foi efectuada uma ficha anteriormente.


(9) A ilha de Corisco (também apelidada gentilicamente de Manj) é uma pequena ilha com cerca de 15 quilómetros quadrados de superfície e situa-se a cerca de uma trintena de quilómetros do estuário do Muni. Pertence, no actual contexto geo-politico, à República da Guiné-Equatorial, tendo sido descoberta pelos portugueses, por volta de 1472. O seu nome Corisco significa "raio de luz". Corisco é uma palavra muito utilizada na actual Região Autónoma dos Açores.


(10) - O monte Mungo Mah Lobeh, conhecido no século XIX pelos colonos pelo nome de "Carro dos Deuses" ou "Trono dos Deuses" é o actual Monte Camarões. Tem 4.095 metros de altitude, sendo um vulcão activo e localiza-se na zona costeira do país e a  cerca de 250 quilómetros da capital camaronesa. Joseph Merrick, em 1840 e Richard Francis Burton, em 1861 escalaram-no.
 


(11) - A Segunda Guerra Anglo-Bóer, tal como  Primeira, será analisada quando, terminada a História de Moçambique Colonial, eu começar com a História da África Austral, que englobará a história de todos os países daquela parte meridional de África no período que mediará entre 1500 e 2000.



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LIVROS


Mary Kingsley escreveu dois livros, quando retornou a Londres vinda da sua segunda viagem africana. O primeiro foi "Travels in West Africa", publicado em 1897 e onde relata, pitorescamente, as suas aventuras africanas, abordando assuntos etnográficos, aventureiros, tudo em fino recorte de humor. A ironia era um dos seus fortes. A parte mais interessante deste livro será o facto da narradora defender os povos africanos como pessoas iguais aos europeus, afastando tendências de paternalismos. Aceitava, com naturalidade, a poligamia, o canibalismos e a feitiçaria, como fazendo parte de culturas africanas que eram diferentes das europeias. Equiparava-as, não sobrepondo umas em relação às outras. 
 
 
O segundo foi "West African Studies" publicado em 1899 que, mais em jeito de ensaio, tornou-se polémico por causa dos seus pontos de vista ousados sobre como, por exemplo, as colónias deviam ser governadas com administrações que englobassem colonos europeus e chefaturas nativas. Reza a história e os "mentideros" da época que foi por causa destas teses que Mary Kingsley perdeu o grande amor da sua vida, o engenheiro Matthew Nattan (1), futuro Governador do Calabar, seu ardente apaixonado mas que, ao tomar conhecimento destas teses políticas da sua amada, desapareceu de vez da circulação do seu coração, optando por uma carreira colonial mais proveitosa.

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Existem múltiplas edições da obra de Mary Kingsley em língua inglesa. Não conheço nenhuma edição portuguesa dos seus livros, tendo lido o "Travels in Africa" (by Mary H.Kingsley), da Echo Library, 2008, Middlesex  (ISBN 978-1-40687-650-5).
 
 
Os interessados na obra literária desta mulher poderão também ler o "West African Studies" consultando: "http:www.gutemberg.org/files/38870/38870-h/38870-h.htm".
 
 
Bendita internet.
 


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(1) Matthews Nattan - (1862/1939) - Tendo efectuado os seus estudos na Real Academia Militar formou-se na Escola de Engenharia Militar, em 1884. Nesse mesmo ano integra a expedição militar ao Sudão, onde permanece dois anos e entre 1889/1894 presta serviço militar na Índia. Em 1899 é nomeado Governador interino da Serra Leoa e, no ano seguinte, ascende a Governador da Costa do Ouro, cargo em que se mantém durante os três anos seguintes. Foi ainda Governador de Hong Kong (China) e do Natal (União sul-Africana), após o que seguiu uma carreira política londrina e irlandesa.


Nota: Apesar das leituras efectuadas, a transcrição das citações de Mary Kingsley e a base do meu texto foram colhidas do excelente livro "Memórias de África" de Cristina Morató, livro este já por mim referido anteriormente.


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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL









British Central Africa - Companhia majestática (1)inglesa que, aproveitando a livre circulação dos rios Zambeze e Chire, imposta pela Grã-Bretanha a Portugal pelo tratado de Windsor de 189l, após o Ultimato (2), instalou uma concessão no Chinde, para exploração do seu porto e navegação fluvial. Essa concessão, que ficou conhecida por “concessão inglesa”, foi cedida em 20 de Agosto de 1891, dando os britânicos, em troca, uma área de igual superfície na Baía dos Leopardos, na região do Niassa.


British South Africa Company (BSAC) Era a companhia majestática, criada por Cecil Rhodes(2), a partir duma outra - a Chartered - e que recebeu alvará da Rainha de Inglaterra em 25 de Outubro de 1889. Munido da autorização real para explorar e colonizar uma vastíssima área que era, muito vagamente, definida entre o norte da Bechuanalândia (2) e o Niassa, Cecil Rhodes levará a sua empresa a expandir-se por territórios desconhecidos dos brancos. A British South Africa Company, guarda avançada do capitalismo britânico e com alvará por 25 anos irá, posteriormente e na sequência do desmantelamento da mesma, dar origem às Rodésias do Norte e do Sul e ao Niassalândia (actuais Repúblicas da Zâmbia, do Zimbabué e do Malawi, respectivamente).

 

Conferência de Bruxelas - As viagens de Henry Stanley (1) e de David Livingstone (1) pelo continente africano despertaram, nos políticos europeus, a cobiça pelas matérias primas deste continente. Em 1876, o Rei Leopoldo II da Bélgica, sob a capa da ciência, da religião e do combate ao esclavagismo promove, em Bruxelas, uma reunião internacional, com o fim de se discutirem vários problemas sobre África. Estiveram presentes, para além da Bélgica, a Grã-Bretanha, a França, a Alemanha, a Aústria-Hungria e a Rússia, tendo Portugal sido excluído. Estudou-se a forma de penetração em África, e fundou-se o Estado Livre do Congo, sob tutela pessoal do Rei belga. Transcreve-se, parcialmente, a acta final da conferência: “Em nome de Deus Todo-Poderoso (...): Animados, por igual, da firme vontade de pôr um termo aos crimes e devastações que engendra o tráfico de escravos africanos, de proteger eficazmente as populações aborígenes da África e assegurar a esse vasto continente os benefícios da paz e da civilização; Desejando renovar a sanção às decisões já tomadas no mesmo sentido e em várias ocasiões pelas potências, complementar os resultados que elas obtiveram e baixar um conjunto de medidas que garantam o aperfeiçoamento da obra que é objecto de sua comum solicitude; Resolveram, em resposta ao convite que lhes sugeriu o Governo de Sua Majestade o Rei dos Belgas, de acordo com o Governo de Sua majestade a Rainha do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, Imperatriz das Índias, reunir com esse objectivo uma Conferência em Bruxelas e nomearam como seus Plenipotenciários (...); Os quais, munidos de plenos poderes, reconhecidos em boa e devida forma adoptaram as seguintes disposições: CAPÍTULO I: Países de Tráfico – Medidas a Tomar nos Lugares de Origem: Artigo 1º - As Potências declaram que os meios mais eficazes para combater o tráfico no interior de África são os seguintes: a) – Organização progressiva dos serviços administrativos, judiciários, religiosos e militares nos territórios de África postos sob a soberania ou protectorado das nações civilizadas; b) – Estabelecimento gradual, no interior, pelas Potências das quais dependem os territórios, de estações fortemente ocupadas, de modo que a sua acção protectora ou repressiva possa fazer-se sentir com eficácia nos territórios devastados pela caça ao homem; c) – Construção de estradas, nomeadamente vias-férreas, ligando essas estações avançadas à costa e permitindo o acesso fácil às águas interiores e ao curso superior dos rios e riachos que seriam cortados por corredeiras e cataratas, a fim de substituir o actual transporte por carregadores, por meio de transportes rápidos e económicos; d) – Instalação de barcos a vapor nas águas inferiores navegáveis e nos lagos, com o apoio de postos fortificados, estabelecidos nas margens; e) – Estabelecimento de linhas telegráficas que assegurem a comunicação dos postos e estações com a costa e os centros administrativos; f) – Organização de expedições e colunas móveis, que mantenham as comunicações das estações entre si e com a costa, apoiem a acção repressiva e garantam a segurança das vias de percurso; g) – Restrição de importação de armas de fogo, pelo menos das armas aperfeiçoadas, e das munições, em toda a extensão dos territórios atingidos pelo tráfico. Artigo 2º - As estações, as expedições de vigilância interior, organizadas por cada uma das Potências em suas águas, e os postos que lhe servem de porto de matrícula, independente da sua missão principal, que será a de impedir a captura de escravos e de interceptar as vias de tráfico, terão por encargo subsidiário: a) – Servir de ponto de apoio e de refúgio às populações indígenas colocadas sob a soberania ou protectorado do Estado do qual depende a estação, às populações independentes, bem como, temporariamente, a todas as outras em caso de perigo iminente, por as populações da primeira dessas categorias em condições de contribuir para a sua própria defesa; diminuir as guerras intestinais entre tribos por meio de arbitragem; instrui-las nos trabalhos agrícolas e nas artes profissionais, de modo a aumentar o seu bem-estar, conduzi-las à civilização e levar à extinção dos costumes bárbaros, tais como o canibalismo e os sacrifícios humanos; b) – Oferecer ajuda e protecção às empresas comerciais, fiscalizar a legalidade dos actos, notadamente pelo controlo dos contratos de trabalho com os indígenas, propagar a fundação de centros de cultura permanentes e de estabelecimentos comerciais; c) – Proteger, sem distinção de culto, as missões já estabelecidas ou que venham a estabelecer; d) – Prover ao serviço sanitário e dar hospitalidade e socorro aos exploradores e a todos aqueles que participam, na África, da obra de repressão ao tráfico. Artigo 3º - As Potências que exerçam uma soberania ou um Protectorado na África, confirmando e precisando das sua declarações anteriores, obrigam-se a dar continuidade, gradualmente, conforme as circunstâncias o permitam, sejam pelos meios acima indicados, seja por todos os outros meios que lhe pareçam convenientes, a repressão do tráfico, cada uma em suas possessões respectivas e sob sua direcção própria. Todas as vezes que julgarem possível, elas prestarão os seus bons ofícios às Potências que, num intuito puramente humanitário, realizarem em África uma missão análoga. (...) Artigo 5º - As Potências contratantes obrigam-se, salvo disposições legislativas anteriores, conformes ao espírito do presente artigo, a editar ou propor aos seus legisladores o mais tardar no prazo de um ano a contar da data da assinatura do presente Acto Geral, uma lei tornando aplicável, de um lado, as disposições da sua legislação penal sobre atentados graves às pessoas, contra os organizadores e cooperadores da caça ao homem, os autores da mutilação de adultos e crianças do sexo masculino, bem como contra todos os indivíduos que participem na captura violenta de escravos e, por outro lado, as disposições concernentes aos atentados à liberdade individual, contra os comboieiros, transportadores e mercadores de escravos. Os co-autores e cúmplices das diversas categorias, acima especificadas, de captores e traficantes de escravos serão punidos com penas proporcionais às aplicáveis aos autores. Os culpados, que se subtraírem à jurisdição das autoridades do País em que os crimes ou delitos tenham sido cometidos, serão detidos, seja mediante comunicação das peças da instrução criminal por parte das autoridades que verifiquem essas infracções, seja mediante qualquer outra prova de culpabilidade, pela parte em cujo território eles forem encontrados e serão posto, sem mais formalidades, à disposição dos tribunais para julgá-los. As Potências dar-se-ão recíproca comunicação, no mais breve prazo possível das leis ou decretos já existentes, ou promulgados em execução do presente artigo. Artigo 6º - Os escravos, libertados após detenção ou a dispersão de um comboio no interior do continente, serão reenviados, se as circunstâncias o permitirem, ao seu país de origem senão, a autoridade local facilitar-lhes-á, tanto quanto possível, os meios de subsistência e, caso assim eles o desejem, os meios de fixação na localidade. Artigo 7º - Todo o escravo fugitivo que, no continente, reclamar a protecção das Potências signatárias, deverá obtê-la e será recebido, nos campos e estações por elas oficialmente estabelecidas, ou a bordo das embarcações do Estado que naveguem nos lagos ou rios. As estações e as embarcações privadas só poderão exercer o direito de asilo sob reserva do consentimento do Estado. Artigo 8º - Tendo em vista que a experiência de todas as nações que mantêm relações com África tem demonstrado o efeito pernicioso e preponderante das armas de fogo nas operações de tráfico e nas guerras intestinais entre tribos indígenas, e havendo essa mesma experiência provado, de modo manifesto, que a conservação das populações africanas, cuja existência as potências desejam expressamente salvaguardar, é radicalmente impossível, caso medidas restritivas do comércio de armas de fogo e de munições não forem estabelecidas, as Potências decidem, tanto quanto o permite o estado actual das suas fronteiras, que a importação de armas de fogo e especialmente das armas radiadas e aperfeiçoadas, assim como de pólvora, balas e cartuchos, fica, salvo nos casos e sob as condições previstas no artigo seguinte, proibida nos territórios compreendidos entre o paralelo 20º norte e o paralelo 22º sul, o Oceano Atlântico a oeste e, a lesta, o Oceano Índico e as suas dependências, incluindo as ilhas adjacentes ao litoral, até 100 milhas marítimas da costa. (...) CAPÍTULO II: Rotas das Caravanas e Transportes de Escravos por Terra: Artigo 15º - Independentemente da sua acção repressiva ou protectora em relação aos focos de tráfico, as estações, cruzeiros e postos, cujo estabelecimento é previsto no artigo 2º, bem como todas as outras estações estabelecidas ou reconhecidas nos termos do artigo 4º por cada Governo em suas possessões, terão ainda por missão vigiar, tanto quanto as circunstâncias o permitirem, na medida do progresso da sua organização administrativa, as rotas seguidas no seus territórios, pelos traficantes de escravos, de deter os comboios em marcha ou persegui-los em todo o lugar em que a sua acção poderá exercer-se legalmente. Artigo 16º - Nas regiões do litoral, conhecidas pelo facto de serem lugares habituais de passagem ou pontos de destinação dos transportes de escravos vindos do interior, assim como nos pontos de cruzamento das principais rotas de caravana que atravessam a zona vizinha à costa, já submetida à acção das Potências soberanas ou protectoras, serão estabelecidos postos, sob as condições e com as reservas mencionadas no artigo 3º, pelas autoridades das quais dependem esses territórios, com o intuito de interceptar os comboios e libertar os escravos. Artigo 17º - Uma vigilância rigorosa será organizada pelas autoridades locais nos postos e paragens costeiras, a fim de impedir a venda e o embarque dos escravos trazidos do interior assim como a formação e partida para o interior de bandos de caçadores de homens e mercadores de escravos. As caravanas que cheguem à costa ou à sua vizinhança, assim como as que cheguem do interior numa localidade ocupada pelas autoridades da Potência territorial serão, desde a sua chegada, submetidas a um exame minucioso quanto à composição do seu pessoal. Todo o indivíduo escravo, quer em seu País natal, quer em viagem, será posto em liberdade. (...) CAPÍTULO III: Repressão ao Tráfico Marítimo: Artigo 20º - As Potências signatárias reconhecem a oportunidade de tomar de comum acordo, disposições que tenham por objectivo garantir mais eficazmente a repressão do tráfico na zona marítima, onde ele ainda exista. (...) Artigo 25º - As Potências signatárias comprometem-se a tomar medidas eficazes para prevenir a usurpação do seu pavilhão e para impedir o transporte de escravos em embarcações autorizadas a ostentar a sua bandeira. Artigo 26º - As Potências signatárias comprometem-se a tomar todas as medidas necessárias para facilitar uma pronta troca de informações, aptas a levar à captura das pessoas que exerçam operações de tráfico. Artigo 27º - Um escritório internacional será criado, sendo estabelecido em Zanzibar. As Potências signatárias obrigam-se a entregar-lhe todos os documentos especificados no artigo 41º, assim como todas as informações de qualquer natureza, susceptíveis de ajudar na repressão ao tráfico. Artigo 28º - Todo o escravo, refugiado dum navio de guerra de uma das Potências signatárias, será imediata e definitivamente alforriado, sem que essa alforria possa subtrai-lo à jurisdição competente se ele cometeu um crime ou delito de direito comum. Artigo 29º - Todo o escravo, retido contra a sua vontade a  bordo duma embarcação indígena, terá o direito de exigir a sua libertação. A sua alforria poderá ser pronunciada por qualquer Agente de uma das Potências signatárias, a quem o presente Acto confere o direito de examinar o estado das pessoas a bordo das ditas embarcações, sem que essa alforria possa subtrai-lo à jurisdição competente de um crime ou delito de direito comum que por ele foi cometido. (...) CAPÍTULO IV: Países de Destinação, cujas Instituições Comportam a Existência de Escravidão: Artigo 62º - As Potências signatárias, cujas instituições comportam a existência de escravidão doméstica e cujas possessões, situadas em África ou fora dela, servem por isso mesmo, apesar da vigilância das autoridades, de locais de destinação dos escravos africanos, comprometem-se a proibir a sua importação, trânsito, saída, bem como o comércio. A mais activa e mais severa vigilância será por elas organizadas sobre os pontos onde se operam a passagem e a saída dos escravos africanos. (...) Artigo 66º - Os navios indígenas, pertencentes a um dos países mencionados no artigo 62º, caso existam indícios de que praticam operações de tráfico,  serão submetidos pelas autoridades locais, nos portos por eles frequentados, a uma verificação rigorosa da sua equipagem e passageiros, tanto na entrada como na saída. No caso de se verificar a existência de escravos africanos a bordo, proceder-se-á judicialmente contra a embarcação e contra todas as pessoas consideradas culpadas. Os escravos encontrados a bordo receberão as suas cartas de alforria, sob a responsabilidade das autoridades que tiverem operado na captura dos navios. Artigo 67º - Disposições penais, relacionadas com as previstas no artigo 5º, serão editadas contra os importadores, transportadores e mercadores de escravos africanos, contra os autores de mutilação de crianças ou de adultos do sexo masculino, bem como todos os que traficam ou contra os seus co-autores e cúmplices. (...) CAPÍTULO VI: Medidas Restritivas ao Tráfico de Bebidas Espirituosas: Artigo 90º - Justamente preocupados com as consequências morais e materiais que provoca, para as populações indígenas, o abuso de bebidas espirituosas, as Potências signatárias aplicam as disposições dos artigos 91, 92 e 93 numa zona delimitada pelo paralelo 20º norte e pelo paralelo 22º sul, terminando a oeste no Oceano Atlântico e a leste no Oceano Índico e suas dependências, incluindo as ilhas adjacentes ao litoral até 100 milhas marítimas da costa. Artigo 91º - Nas regiões dessa zona em que for verificado que, quer em razão de crença religiosa, quer por outros motivos, o uso de bebidas destiladas não existe ou não se desenvolveu, as Potências proibirão a sua entrada. A fabricação de bebidas destiladas nessas regiões será igualmente proibida. Cada Potência determinará os limites da zona de proibição de bebidas alcoólicas nas suas possessões ou protectorados, e será obrigada a notificar o traçado desses limites às outras Potências no prazo de seis meses. A proibição acima referida somente poderá ser derrogada em relação a quantidades limitadas e destinadas ao consumo das populações não indígenas e introduzidas sob o regime e nas condições determinadas por cada Governo. Artigo 92º - As Potências que tenham possessões ou exerçam protectorados nas regiões da zona, as quais não estejam submetidas ao regime da proibição e onde as bebidas espirituosas são, no presente, importadas livremente, ou sejam sujeitas a um imposto de importação inferior a 25 francos por hectolitro de 50º centígrados, obrigam-se a estabelecer sobre tais bebidas um imposto de importação de 15 francos por hectolitro de 50º centígrados, durante os três anos seguintes à entrada em vigor do pressente Acto Geral (...) Artigo 93º - As bebidas destiladas,, fabricadas nas regiões mencionadas no artigo 92 e destinadas ao consumo interno, serão agravadas de um imposto de consumo. O Imposto de consumo, cuja cobrança as Potências se obrigam a estabelecer no limite do possível, não será inferior ao mínimo do imposto de importação fixado no artigo 92.”        


BSAC Sigla da British South Africa Company.


Berlim, Conferência de - A riqueza de África era a razão de ser da viragem dos interesses das potências europeias para este continente, havendo a acrescer ainda o facto de terem ficado amputadas das suas colónias americanas, por estas se terem sublevado e ficado independentes. Em 1884 a Inglaterra reconhecia a Portugal a soberania nas duas margens do rio Zaire até à fronteira do novo estado do Congo, criado pelo Rei Leopoldo II da Bélgica, o que contrariava o espírito expansionista francês e alemão. Otto von Bismark, chanceler alemão, estava em completo desacordo com este tratado e, conluiado com a França, na altura liderada pelo primeiro-ministro Jules Ferry, convidou as potências europeias para uma conferência, que se veio a realizar em Berlim, entre Novembro de 1884 e Fevereiro de 1885, e na qual Portugal também participou. Nesta reunião de Berlim, referida genericamente como a que partilhou África, foram discutidos vários pontos: 1) - liberdade de comércio na bacia e foz do rio Congo; 2) - liberdade de navegação nos rios Níger e Congo; 3) - definição dos tipos de actuação a que as potências se obrigariam para se tornarem donas efectivas dos territórios que viessem a ocupar; 4) – supressão do tráfico de escravos. Após o findar da conferência, em Fevereiro de 1885, ficou decidido que qualquer País só poderia reclamar a posse de um determinado território africano depois de ocupar o mesmo em regime de permanência. Para tal, em 26 de Fevereiro de 1885, foi assinado o “Acto Geral”, onde se definia um novo conceito de “direito público colonial” e se preambulava a necessidade da “existência de uma autoridade suficiente para fazer respeitar os direitos adquiridos e a liberdade de comércio e de trânsito” (sic). Era o fim do direito histórico à posse das terras, direito esse usado e abusado pelos portugueses nos areópagos internacionais, na falta de outros argumentos. A partir de Berlim nascia um novo conceito sobre o direito internacional, assente na existência efectiva de uma autoridade eficiente para fazer respeitar os direitos conquistados e permitir a livre circulação comercial. As nações europeias passariam a ter direito aos territórios que soubessem conquistar e manter uma administração, para além de comunicarem às outras potências coloniais as suas zonas de implantação, a fim de evitarem conflitos.


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(1) - Já analisado anteriormente
(2) - A abrir ficha


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EFEMÉRIDE


Nesta quinzena atravessou-se o dia 25 de Setembro que, para a História de Moçambique, representa o início da luta armada, em 1964, que daria a sua quota parte contributiva para o despoletar do golpe de estado militar do 25 de Abril, em Lisboa, uma década mais tarde.


Por se atravessar esta efeméride adianto um pouco o relógio das fichas de Moçambique Colonial e, para assinalar este acontecimento, publico a Proclamação da Luta Armada, declaração esta que que foi lida aos microfones da rádio tanzaniana, em Dar-es-Salam, pelo então Presidente da FRELIMO, Eduardo Chivambo Mondlane e que oficializou a abertura das hostilidades bélicas contra o regime colonial português, discurso este que é do desconhecimento da maioria dos moçambicanos.

 
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Proclamação da luta armada Documento emanado pelo Congresso da FRELIMO e que se trata da declaração de guerra que aquela Frente, por se considerar representante do povo moçambicano, apresentou contra o Estado Português, tendo a mesma sido lida por Eduardo Mondlane, como Presidente da FRELIMO. Oficializa, assim, o começo da guerra nacionalista, que se iniciou no mesmo dia da proclamação - 25 de Setembro de 1964. Tem o seguinte teor: “ Moçambicanos e Moçambicanas: Em Setembro de 1962, o Congresso da FRELIMO afirmou unanimemente a vontade e determinação do povo moçambicano de lutar por todos os meios para a conquista da Independência Nacional. A FRELIMO quis, por meio de esforços pacíficos, forçar o governo português a satisfazer as exigências políticas fundamentais do povo moçambicano, a FRELIMO expôs junto das instâncias pan-africanas, afro-asiáticas e mundiais, a situação em que se encontrava o povo moçambicano, e denunciou os crimes do colonialismo em Moçambique. E foi assim, que depois do povo moçambicano, a OUA, as Nações Unidas, a opinião pública em geral, condenaram também a política criminosa do governo português. Apesar de tudo isto, o colonialismo português continua a exercer a sua dominação sobre a nossa Pátria. As riquezas do nosso País e o tratamento do nosso povo continuam a ser explorados pelos colonialistas portugueses e seus aliados imperialistas. Todos os dias são assassinados camaradas por causa da sua participação activa na luta pela libertação do nosso País, as prisões estão cheias de patriotas, e aqueles que estão ainda em liberdade vivem na incerteza do amanhã. A PIDE aumenta o número dos seus agentes e desenvolve os seus meios de tortura; o exército português é reforçado e aumenta continuamente os seus efectivos em homens e material de guerra; a psicossocial prossegue a sua campanha com vista a enganar o povo moçambicano. Moçambicanos e Moçambicanas: a FRELIMO conduz sempre uma acção de maneira a assumir plenamente as suas responsabilidades de guia da revolução moçambicana. Por isso, paralelamente aos esforços pacíficos, a FRELIMO entregou-se, também, vivamente à criação de condições para fazer à eventualidade da luta armada. Hoje, face à constante recusa do governo português em reconhecer o nosso direito à independência, a FRELIMO reafirma que a luta armada é a única via que permitirá ao povo moçambicano realizar as suas aspirações à liberdade, justiça e bem-estar social. Moçambicanos e Moçambicanas: Operários e camponeses, trabalhadores das plantações, das serrações e das concessões, trabalhadores das minas, dos caminhos de ferro, dos portos e das fábricas, intelectuais, funcionários, estudantes, soldados moçambicanos no exército português, homens, mulheres e jovens patriotas: em vosso nome, a FRELIMO proclama hoje, solenemente, a insurreição geral armada do povo moçambicano contra o colonialismo português, para a conquista da independência total e completa de Moçambique. O nosso combate não cessará senão com a liquidação total e completa do colonialismo português. Moçambicanos e Moçambicanas: A revolução moçambicana, obra do povo moçambicano, insere-se no quadro geral da luta dos povos de África e do mundo pela vitória dos ideais da liberdade e da justiça. A luta armada que nós hoje anunciámos, tendo por objectivo a destruição do colonialismo português e do imperialismo, permitir-nos-á instaurar no nosso País uma nova ordem social popular. Assim, o povo moçambicano dará grande contribuição histórica para a libertação total do nosso continente, para o progresso da África e do mundo. Moçambicanos e Moçambicanas: Neste momento grave e decisivo da história do nosso País, em que unanimemente nos comprometemos a enfrentar o colonialismo português, a FRELIMO cumprirá o seu dever. Reforcemos continuamente a nossa unidade, a união de todos os moçambicanos do Rovuma ao Maputo, sem qualquer discriminação. Consolidemos cada vez mais a nossa organização, estejamos sempre de maneira organizada. Por toda a parte, em cada lugar, a FRELIMO estará presente e pronta a conduzir a luta. Sejamos firmes, decididos e implacáveis, frente ao colonialismo português, aos lacaios do colonialismo português, frente a todos os agentes da PIDE e a todos os traidores do nosso Povo e da nossa Pátria. Unidos venceremos! Independência ou morte! Moçambique vencerá! Viva a FRELIMO! Viva Moçambique! Viva África! ///" Dar-es-Salam, 25.09.64.

 
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A criação da FRELIMO, o desencadear da guerra nacionalista, as conclusões dos I e II Congressos da FRELIMO durante o decurso do conflito, as biografias dos principais personagens quer do lado português quer do moçambicano (políticos, civis e militares) serão dissecados neste blogue a seu tempo e efectuadas as respectivas fichas, quando chegarmos a meados do século XX.
 


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LEITURAS


Título: O tempo dos amores perfeitos
Sub-título: Angola em 1894. O amor proibido entre um tenente e a filha do governador. Numa época de conquista, guerra e intrigas. Um romance arrebatador.
Autor: Tiago Rebelo
EditoraEdições ASA II, Lda.       Ano2012       Págs.: 608       Género: Romance colonial








O género literário do romance que aborda temas coloniais está na crista da onda. Vários escritores debruçam-se sobre o nosso passado colonial, sem complexos e deixam-nos escritos de histórias interessantes, quer seja em romances históricos, de aventuras, de amores ou numa mescla de tudo. Sinais dos tempos actuais pelo País que somos sem rumo e à deriva, que acaba por nos trazer a nostalgia doutros tempos em que pensávamos que éramos alguma coisa.
 
 
À fase dos romances dos Descobrimentos e da época histórica que os determinaram (e que ainda saem lançamentos actuais) segue-se, agora, a fase pujante do romance que aborda os aspectos do nosso modo de viver colonial, nas suas diversas vertentes. Arrumada a época dos complexos de esquerda em que denegrimos a nossa História, num puro masoquismo colectivo e em que passávamos a vida a pedir desculpas por tudo o que havíamos ultramarinamente feito de mal (muito) e de bem (pouco) num passado recente, eis agora a surgirem, como cogumelos outonais, romances descomplexados, pujantes e fascinantes.  

 
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É ao que se reporta o romance acima referido e que acabei de ler. O autor relata a saga dum seu antepassado - Carlos Augusto de Noronha e Montanha - que, no finais do século XIX, como militar combateu sublevações nalguns locais em Angola. A glória dos seus feitos militares será a razão com que ficará conhecido pelo nome de guerra "Muxabata" (Guerreiro Invencível) mas as suas vitórias militares não terão equivalência aos seus amores entre ele e Isabel, a filha do Governador, por anúvios inter-famílias.


Posteriormente, na recta final da sua vida conimbricense, em meados do século XX, em forma de legado memorial deixou a história da sua saga militar angolana escrita num pequeno livro titulado "Odisseia dum Pioneiro Colonial nos Sertões de Angola"  e que foi dado à estampa pública no tempo do Estado Novo.
 
 
 
 
 
 
E foi este livro que serviu de fermento para que um seu descendente - precisamente o Autor Tiago Rebelo - qual pasteleiro literário, cozinhasse o bolo de letras que é o presente romance o qual, baseado em factos verídicos porque vividos e narrados pelo seu antepassado, mescla depois com ficção amorosa para dar um melhor enredo ao tempo a que se reporta. 
 
 
Volto a repetir: acabei de ler um romance descomplexado, pujante e fascinante. Duma riqueza de pormenores que me encheu as medidas e que, por isso, recomendo vivamente.

 
 
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Título: O feitiço da Índia
Sub-título: Três portugueses, em três épocas diferentes, deixam-se encantar pela Índia e pelas suas mulheres.
Autor: Miguel Real
EditoraD. Quixote          Ano2012             Págs.: 381         Género: Romance







Um romance que aborda a vida de José Martins - o primeiro degredado a chegar a solo indiano - quando integrado na armada de Vasco da Gama. No seguimento do salto da história da História, aborda depois a vida de Augusto Martins, descendente do degredado e, se o seu antepassado, foi o primeiro a chegar a solo indiano, este foi o último português a ficar em Goa, aquando da invasão da União Indiana.
 
 
O romance tem um fio condutor puxado pelo narrador, que é o filho de Augusto Martins o qual, após a abertura dos canais de circulação entre Portugal e a Índia face à revolução abrilina, ruma até Goa, na busca do pai, acabando por ficar por lá, apaixonado pelo feitiço da Índia. 
 


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PORQUE SÓ HÁ UM PLANETA







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ACONTECEU



Santiago Carrilho - Faleceu Santiago Carrillo, ex-líder comunista espanhol. No seu longo percurso político, que se inicia como combatente da guerra civil espanhola (1936/1939), atinge o seu zénite quando, na fase da transição da ditadura franquista para a actual democracia parlamentar, Santiago Carrilho teve  a lucidez de se entender com um político conservador vindo da área franquista - Adolfo Suarez - e, juntos, deram uma lição ao mundo ao sobreporem os interesses da implementação da democracia aos interesses partidários e ideológicos.
 
 
Santiago Carrillo, de formação comunista caldeada na prisão e na clandestinidade, aceitou o regime monárquico, a figura do Rei como Chefe de Estado e a bandeira nacional. Percebeu o futuro da Europa unida e unificada e, assim, foi um dos pais do euro-comunismo. Adolfo Suarez, vindo das correntes políticas conservadores do franquismo que servira, enquanto primeiro-ministro legalizou, contra a opinião dos seus pares, o Partido Comunista Espanhol.
 
 
Estiveram mais uma vez juntos na luta pelos ideais democráticos aquando da tentativa de golpe de estado de Tejero Molina, quando este invadiu as Cortes, aos tiros e ordenou a todos os deputados no plenário que que se agachassem no chão (23/02/1981). E, na casa da democracia, todos os excelsos deputados se acobardaram e puseram-se de cócoras.
 
 
Para o  Mundo ficou a lendária imagem de apenas três homens que recusaram corajosamente esta ordem prepotente permanecendo, sentados e altivos, nos seus lugares: Gutierrez Mellado (que interpelou os revoltosos, como membro do Governo), Adolfo Suarez e Santigo Carrillo.
 
 
 



Santiago Carrillo morreu e Adolfo Suarez para lá caminha, quebrado no momento presente por uma doença neuro-degenerativa. Hoje, olhando para os actuais líderes políticos europeus (mas eles existem?), para todo este manto cinzentista que nos cobre de teorias tecnocráticas em que o primado da política cedeu o seu lugar à ganância economicista e as pessoas não passam de meros números estatísticos, suspiro de saudade e digo: que falta que fazem Homens* como esta dupla. Já não há políticos desta têmpera.


*  Homens no sentido humano e não apenas limitados ao sexo masculino.



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DECLARAÇÃO DE INTERESSES



Textos escritos em desrespeito pelas novas normas do Acordo Ortográfico.




 

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E agora vou ...





 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Píteas




VIAJANTES, AVENTUREIROS E EXPLORADORES



Píteas - Navegador grego da Antiguidade, que terá vivido no século IV AC (ou III AC) e do qual quase nada se sabe, em concreto, sobre os seus elementos biográficos. Após a expedição do cartaginês Hanon à costa ocidental africana (já relatada na mensagem anterior) Cartago impôs um férreo bloqueio marítimo nas Colunas de Hércules(1), durante os dois séculos seguintes a esta espantosa odisseia.
 
 
No entanto, o seu envolvimento em lutas contra o Império Romano, que ficaram conhecidas como as Guerras Púnicas, desviaram a sua atenção, homens e barcos para outras zonas, acabando por desguarnecer a vigilância sobre o referido Estreito. Terá sido no século IV AC (2) que um mercador grego, de nome Píteas e residente na então poderosa colónia grega de Massalia (3) conseguiu ludibriar a vigilância cartaginesa e ultrapassou as Colunas de Hércules.
 
 
Fruto da sua posição geográfica no Mediterrâneo, Massalia era uma importante cidade charneira no comércio que mercadejava com povos do Ocidente e do Norte - as "terras do Sol poente". Para ela confluíam, entre outros, o cobre e a prata ibéricas, o ouro irlandês, o estanho bretão e o âmbar nórdico, trazidos por mercadores celtas que, descendo de desconhecidas terras nortenhas, vinham mercadejar a Massalia, falando vagamente duma grande ilha onde abundava o estanho que traziam e em cujas praias eram colhidas, atiradas pelo mar, o precioso âmbar.


A evolução económica de Massalia levou a um aumento da procura dos bens que os celtas traziam, mas que chegavam em poucas levas, trazidas pelas barcas fluviais que capilavam pelo interior europeu. Tornou-se convicção, no seio da burguesia local, que se fossem enviados barcos de maior envergadura por mar e ultrapassadas as Colunas de Hércules, os produtos afluiriam em maior quantidade.


A oportunidade da concretização de tal objectivo exploratório começou a tomar forma quando o bloqueio naval cartaginês diminuiu nas Colunas de Hércules, fruto das guerras púnicas que Cartago travou contra Roma, e da qual saiu derrotada.


Massalia, aliada indefectível de Roma, aproveita a oportunidade e, em 240 AC, arma um navio entregando o comando do mesmo a Píteas, com a finalidade deste explorar o Atlântico e se apurar dos locais onde adquirir maiores quantidades de âmbar e estanho, este essencial para o fabrico do bronze, produto que era um dos principais esteios económicas da Massalia de então, bem como o de buscar novos portos para onde se pudessem canalizar as exportações massalianas.


Píteas, almirantando um navio de cerca de cem toneladas e com uma tripulação duns vinte e cinco homens, deixa Massalia em finais da Primavera de 240 AC (data provável) e ruma para Ocidente, cuidando sempre de navegar à vista. Avistando os Pirinéus aporta a Emporion (4) e, daqui, segue até ao rochedo de Gibraltar. Passa de noite pelas famosas Colunas de Hércules, fintando a debilitada marinha cartaginesa até que, no alvor matinal, se encontra a navegar no Oceano Atlântico. Repousa em Cádis (5) e, volvida uma semana, dobra o cabo de S. Vicente (actual Portugal) no noroeste ibérico.





Estátua de Píteas, em Marselha



Contorna a placa ibérica apercebendo-se, pelas várias leituras que efectuava da latitude, que se trata duma península e navega calmamente pela costa gálica (actual França) até atingir a vila celta de Corbilo (6), cujo porto se localiza na foz do rio Loire, onde se reabastece e colhe informações sobre a rota marítima que lhe permitisse atingir as minas de estanho da Cornualha.



Fruto da orografia costeira franco-bretã, Pítias flecte para Oeste e dobra o promontório do Cabo Kabaion (7) e avista a desértica ilha de Uxibanne (8), no extremo Oeste francês. Abandonando a segurança da navegação com avistamento costeiro permanente, interna-se pelo mar adentro e acabam por avistar a ilha Britânia (9). Voltando a navegar à vista, Píteas e os seus homens voltam a descobrir vestígios da presença humana até que aporta numa aldeia e, em contacto com as populações locais, apercebe-se que falam celta, língua por si e pela sua tripulação mais que conhecida. 


Tinham aportado a Kantion (10), onde são informados que as minas de estanho se encontram mais a sudoeste. Voltando a embarcar atinge a Cornualha onde repousa, sendo bem recebido pelos bretões. Visita centenas de minas de estanho, confirmando a informação colhida em Kantion. fazendo-se de novo ao mar ruma para Norte, navega ao longo da costa da Irlanda, ilha que avista mas evita-a, eventualmente por lhe terem informado que a mesma era habitada por selvagens canibais.


Avista a Escócia e vê a vegetação costeira rarear à medida que avança para Norte. Das florestas sulistas passara para as árvores dispersas, destas para a urze, destas para as gramíneas e destas para as rochas desnudadas. Para além da rareação da vegetação também nota e sente a rarefação do clima. O frio agora era mais inclemente. Do calor sulista passava a gora para o frio nórdico. Mesmo assim continuou a rumar para Norte, vencendo sempre os medos, desde o mar chão sulista ao mar cavado nortenho. até que atinge as ilhas Orcales (11) e, depois, as Shetland (12), onde ancorou na mais setentrional delas, a ilha de Unst (13).


Píteas observa que o dia tem mais de dezasseis horas. Ultrapassara a latitude de 60º Norte o que, para a época era um facto notável. Junto dos pastores insulares, que os acolhe e lhes vende agasalhos e alimentos, colhe a informação da existência duma grande ilha mais a Norte, que apelidam de Thule, onde o Sol de põe e o mundo acaba.


Rumando a embarcação de novo para Norte, Píteas atinge, seis dias depois, um local que descreverá como "..onde não existe terra propriamente dita, nem mar nem céu, mas é uma espécie de amalgama das três, em que a terra e tudo o mais se encontram suspensos numa espécie de mistura gelatinosa de todos os elementos, sobre a qual era impossível andar ou navegar...".



Ainda hoje é polémica até onde terá chegado Píteas e a sua tripulação. Uns apontam o limite Norte da sua viagem as ilhas Faroé (14), outros a Islândia e que, ao tornar para Sul ainda teria tocado nas costas da actual Noruega.


A sua descrição acima referida rotulou-o, durante muitos séculos, como fantasista, mentiroso, inventor de lendas mas Fridtjot Nansen (15), explorador polar, desvendou o mistério afirmando que a descrição de Pítas era resultado de ter avistado massas de gelo flutuante cujo roçagar provocava uma neblina, ou seja a chamada "lama de gelo".


Os defensores que ele terá atingido a Islândia reportam-se à sua descrição de ter avistado "fogo que brilha sempre" e ao "imenso cume" da ilha, o que poderia indiciar a actividade vulcânica islandesa. Na sua torna-viagem ruma para o actual mar do Norte e explora ricas regiões ambaríferas na actual costa dinamarquesa. No  calmo regresso pátrio, culmina uma viagem que cobriu cerca de sete mil milhas marítimas, fez entrar Píteas no panteão planetário dos grandes exploradores da Antiguidade.



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(1) - Nome antigo do actual Estreito de Gibraltar.
(2) - Há, no entanto, quem calcule a realização desta viagem no século III AC.
(3) - Nome antigo da actual cidade de Marselha, em França. Massília era, na altura dos factos aqui relatados, aliada do Império Romano. Terá sido fundada em 600 AC, por comunidades gregas oriundas da Anatólia.
(4) - Fundada em 575 AC por colonização grega, oriundos da Anatólia. É a actual Ampurias, em Espanha.
(5) - Fundada pelos fenícios em 1100 AC foi ocupada por diversos povos mediterrânicos, ao longo da sua História: gregos, cartagineses e romanos, entre outros. Actual território espanhol.
(6) - Actual cidade portuária de Saint Nazaire, onde desagua o rio Loire, o rio francês de maior curso.
(7) - Pointe du Raz, em França.
(8) - Ilha de Ouessant, na França.
(9) - Grã-Bretanha.
(10) - Actual cidade de Kent, localizada no sudeste da Grã-Bretanha.
(11) - Arquipélago escocês, admitindo-se que tenham sido habitadas por humanos desde 3000 AC. Posteriormente povos noruegueses assenhorearam-se da mesma, entre os séculos VIII e IX. Em 1468 entraram no domínio escocês como prenda dum dote de casamento real entre a princesa dinamarquesa Margarida e o rei escocês Jacob III.
(12) - Arquipélago com o mesmo percurso humano e político do arquiélago da Orcales.
(13) - Tem importância actual por ser uma importante colónia de nidificação de aves.
(14) - Actual região autónoma dinamarquesa, o arquipélago começou a ser colonizado por irlandeses a partir de 600 DC. É composto por 18 ilhas maiores e outras menores e a tradução do seu nome significa "ilha das ovelhas".
(15) - Explorador excepcional do Ártico, cientista, político e humanista de primeira grandeza, tendo sido galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 1922. A sua espantosa vida será abordada numa futura mensagem.  



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 Mapa itinerário da viagem marítima de Píteas
 
 


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Píteas terá escrito o memorial "O Oceano" mas a sua narrativa aí contida foi considerada, quer na época quer nas subsequentes, muito fantasiosa pelo que o manto do descrédito sobre a sua  veracidade pairou durante dois milénios. O seu original terá sido destruído num dos incêndios que afectaram a famosa Biblioteca de Alexandria (1). No entanto, fruto da sensação que o seu escrito causou na época levou a que o mesmo tivesse sido lido e estudado por muitos geógrafos de então que efectuaram, nos seus trabalhos, transcrições ou citações do dita obra o que permitiu a historiadores e pesquisadores actuais terem reconstruído o texto interligando as partes em falta com deduções e conjecturas subjectivas.



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(1) - Biblioteca construída no Egipto, a mando de Ptolomeu I, um fiel seguidor de Alexandre Magno, no século III AC. Este edifício foi um dos mais importantes pólos difusores do conhecimento global do mundo desde sempre. O próprio nome da cidade de Alexandria é uma homenagem de Ptolomeu ao seu General, a quem o acompanhou desde a primeira hora, nas suas famosas conquistas para Oriente.
 
 
O incêndio mais popular e lamentavelmente famoso deste edifício teria sido ordenado pelo Governador Amr ibn-Asal, a mando do Califa Rashid al-Kathab, em 642 DC, sob a alegação que todos os livros aí contidos ou diziam o mesmo que o Alcorão e portanto eram desnecessários ou contradiziam o livro sagrado e, assim, era mais que razão para se ordenar a sua total destruição. No entanto historiadores modernos põem em causa este relato, sendo duvidosa a sua veracidade.
 
 
Outro incêndio historicamente definido e mais pacificamente aceite que o anterior terá ocorrido no ocaso da dinastia ptolomaica, aquando da invasão das legiões romanas sob comando de Júlio César (47 AC) que, por motivos de captura de opositores egípcios, ordenou o incêndio de todos os barcos ancorados no porto alexandrino. O incêndio atingiu tal intensidade e grandiosidade que atingiu colateralmente a Biblioteca, destruindo-a parcialmente.
 
 
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Leituras sobre a viagem de Píiteas:

Título: A extraordinária viagem de Píteas, o Grego -
Autor: Barry Cunliffe -
Editora: Editorial Inquérito      Págs.: 164 págs.  Ano: 2003     Género: História







Um livro que já tive mas que, por ter sido "emprestadado" por mim, acabei por ficar sem o mesmo. No entanto é, do que eu conheço, a única edição em português que aborda esta viagem e que nos leva a conhecer a nossa Europa avoenga.



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Em www.patriaetradizione.it, na internet, colhi o texto que se segue que integra o livro "Finnis Terrae" da autoria de Giovanni Maria Rossi, em italiano. Nunca li esta obra, limitando-me a transcrevê-la bilingue (com recurso a tradução automática do PC e sem interferir na mesma), podendo ser consultada, no original, no sítio atrás referido.


"IBERIA
  
 
Ho attraversato le colonne d'Ercole che per me sono due promontori rocciosi sferzati dai venti, Abila e Calpe (Gebel Musa in Marocco e Gibilterra) .
Eu cruzei os Pilares de Hércules, que para mim são dois promontórios dos ventos, Abila e Calpe (Jebel Musa em Marrocos e Gibraltar).

Ai suoi piedi si trova l'antica città di Calpe (Carteia) che alcuni ritengono sia stata fondata da Eracle.
A seus pés está a cidade velha de Calpe (Carteia), que alguns acreditam ter sido fundada por Heracles.
  
Girammo a destra ed entrammo nel mare esterno, nel golfo Taressio.
Nós virámos à direita e entrámos no mar fora da Taressio Golfo.
 
Sopra un promontorio a picco sull'Oceano si innalza l'acropoli che fu di Gerione triforme: a lui il forte Eracle rapì (decima fatica) gli armenti dall'isola Eritia dai vasti campi e nella ricorrenza della festa del dio, in ricordo della sua impresa, i tori destinati al sacrificio vengono prima lasciati liberi per le strade della città, con grande strepito, suoni e agitare di panni per eccitarli, e
Em um penhasco com vista para o mar sobe a acrópole de Geryon foi tripla: para ele o Heracles forte sequestrado (trabalho décimo) do gado da ilha Eritia por campos abertos e sobre a Festa de Deus, em memória de seu empresa, touros destinados para o sacrifício são primeiro desocupado as ruas da cidade, com um grande barulho, som e agitar panos para excitar e
  
i più valenti dei giovani cercano di arrestarne l'impeto afferrandoli per le corna.
as pessoas mais talentosas jovens que procuram travar o ímpeto agarrá-los pelos chifres.

Infine, fiaccati dalla lunga corsa, vengono trascinati al tempio e immolati, non senza che a volte abbiano calpestato o incornato a sangue i meno abili dei tauromachi.
Finalmente, enfraquecida pelo longo prazo, são arrastados para o templo e sacrificado, não sem algumas vezes pisaram ou ferido no sangue menos capazes do que tauromachi.
   
Queste terre che il vasto oceano circonda sono agitate da forti maree (così infatti si chiamano i suoi movimenti).
Essas terras que o vasto oceano rodeia são agitados por fortes marés (assim chamado na verdade seus movimentos).

Con l'alta marea le depressioni del terreno lungo la costa si riempiono di acqua e questo consente alle navi di risalire fino alle città dell'interno come su un fiume.
Na maré alta, as depressões no solo ao longo da costa são preenchidos com água e isso permite que navios de voltar para as cidades do interior, como em um rio.

In questi estuari però il riflusso è molto pericoloso e accade spesso che la velocità di ritirata delle acque lasci in secco le imbarcazioni.
Nestes estuários, no entanto, o refluxo é muito perigoso e muitas vezes acontece que a velocidade de recuo das águas deixe secar em barcos.

Quando le acque defluiscono gli abitanti del luogo si spargono festosi nelle ampie distese di sabbia ancora umida per raccogliere i crostacei e le conchiglie che il mare ha lasciato, come in dono.
Quando os moradores de fluxo de águas espalhar festivo nas grandes extensões de areia ainda molhado para coletar caranguejos e conchas que o mar deixou como um presente.
 
Finora non è sufficientemente chiaro se sia il mondo a provocare tutto questo con il suo respiro (se è un essere vivente come pensano i filosofi) o se da qualche parte lontano, come sostiene Platone, non vi siano delle caverne dove le acque del mare, a ritmo alterno, sprofondano e da dove sollevatesi, tornano a rifluire, o se non sia piuttosto la luna la causa di tanti sommovimenti.
Até agora ele não é suficientemente claro se o mundo para causar tudo isso com a respiração (se é um ser vivo como os filósofos pensam) ou em algum lugar distante, como diz Platão, existem cavernas onde as águas do mar, em alternância pia ritmo, e onde sollevatesi, volte a fluir de volta, ou se é melhor a Lua por causa de tantos transtornos.

Io ho potuto osservare durante questa navigazione esterna che il respiro dell'oceano segue un ciclo come quello degli astri, con un periodo diurno, uno mensile e uno annuale in rapporto con le fasi lunari.
Eu vi durante esta viagem fora do sopro do oceano segue um ciclo como o das estrelas, com um dia, um mês e um relatório anual com as fases da lua.

Per il periodo annuale, ai due equinozi corrispondono le maree più alte, in quello d'autunno più che in quello di primavera; nel solstizio d'inverno sono molto più deboli e ancor più in quello d'estate.
Para o período anual, os dois equinócios são as marés mais altas do outono do que na primavera, o solstício de inverno são muito mais fracos e ainda mais no verão.
   
I Turdetani, che vivono fra il fiume Betis e l'Anas (attuale Rio Guadiana) sono ritenuti i più colti tra le popolazioni iberiche: conoscono la scrittura e possiedono ancora, a testimonianza del loro passato, delle cronache storiche, dei poemi e delle leggi in versi che dicono vecchie di 6.000 anni. O Turdetani, que vivem entre o rio Betis e Anas (hoje Rio Guadiana) são considerados os mais sábios entre os povos ibéricos: alfabetizados e ainda para testemunhar o seu passado, as crônicas históricas, poemas e leis nos versos mais de 6.000 anos.
  
A cinque giorni di navigazione da Gadeira, vi è il promontorio sacro (Cabo San Vicente, Portogallo del sud) che è la punta più occidentale dell'Europa e di tutta la terra abitata. A vela de cinco dias a partir de Gadeira, não é o promontório sagrado (Cabo San Vicente, sul de Portugal), que é o ponto mais ocidental da Europa e de toda a terra habitada.
  
Il paese dei Lusitani è attraversato da molti corsi d'acqua che scorrono da oriente a occidente, paralleli al Tago, ricco di pesci e di crostacei. O país do lusitano é atravessada por vários rios que fluem de leste a oeste, paralela ao Tejo, ricas em peixe e marisco.

Sul Duro vivono alla spartana: si ungono d'olio due volte al giorno in locali speciali e praticano il bagno a vapore in stufe di pietra riscaldate dal fuoco, si bagnano nell'acqua fredda e fanno un solo pasto al giorno, molto frugale.
Vida dura na ungir espartano-se com óleo duas vezes por dia em lugares especiais e praticar um banho de vapor em estufas de pedra aquecidas pelo fogo, tomar banho em água fria e fazer apenas uma refeição por dia, muito frugal.
   
L'ultima popolazione è quella degli Artabri che abitano il vicino al promontorio Nerio (Cabo Finisterre, in Galizia) , il limite estremo delle coste settentrionali e occidentali d'Iberia.
A última população é o de pessoas que vivem Artabria junto ao promontório Nerio (Cabo Finisterra, Galiza), o limite extremo das costas norte e oeste da Península Ibérica.

La sopravvivenza è molto difficile e alcuni popoli di montagna hanno cominciato a darsi al brigantaggio.
A sobrevivência é muito difícil e alguns povos da montanha começaram a dar ao banditismo.

Bevono solo acqua e dormono sulla nuda terra, si fanno crescere i capelli come le donne e se li legano sulla fronte con una fascia solo per il combattimento.
Só beber água e dormir no chão nu, crescer o cabelo como as mulheres e vinculá-los na testa com uma banda só para o combate.

Per due terzi dell'anno vivono di ghiande di quercia, per il resto mangiano soprattutto carne di montone.
Durante dois terços do ano ao vivo em bolotas, o resto principalmente comido carne de carneiro.
   
Le altre popolazioni devono generalmente birra, raramente del vino durante i banchetti familiari.
Outras populações têm, geralmente, cerveja, vinho raramente durante a família banquetes.

Usano il burro al posto dell'olio.
Eles usam manteiga em vez de óleo.

Mangiano seduti.
Eles comem sentados.

Gli uomini sono tutti vestiti di nero, spesso coperti di un mantello.
Os homens estão todos vestidos de preto, muitas vezes cobertos com um manto.

Le donne di solito si vestono di vivaci stoffe ricamate.
As mulheres geralmente se vestem de tecidos bordados brilhantes.

In alcune zone dell'Iberia le donne portano delle colane di ferro con un becco ricurvo sopra la testa che si protende davanti alla fronte e su questo beccuccio abbassano un velo che ripara loro il volto come un ombrello: lo ritengono un ornamento.
Em algumas áreas da Iberia mulheres usam colane de ferro com um bico curvo sobre a cabeça, que se estende em frente da frente do bico e baixou um véu que protege seu rosto como um guarda-chuva: o considerarem um ornamento.

Sono le donne a fare i lavori agricoli,
São as mulheres que fazem o trabalho agrícola, e

anche dopo aver partorito accudiscono gli uomini, che se ne stanno sdraiati sul letto di fronte a loro.
e mesmo depois de dar à luz a cuidar dos homens, que se está deitado na cama na frente deles.
CELTICA
  
 
Nella Celtica ci sono molti fiumi, ampi che scorrendo dai laghi o dalle montagne attraversano le pianure per gettarsi nell'oceano.
No Celtic, existem muitos rios, lagos ou rolagem que grande através das montanhas para as planícies no oceano.
   
Le terre degli Aquilani si trovano fra i Pirenei e la Garonna e sono per lo più sabbiose e magre.
As terras de Aquilani está entre os Pirinéus eo Garonne e são principalmente de areia e fino.

Di fronte alla foce del Liger (Loira) il fiume che divide il paese dei Pictoni da quello dei Namneti e dove sorge il grande emporio di Corbilo, c'è un'isoletta abitata dalle donne dei Namneti invasate da Dioniso e votate a soddisfare il dio con riti misterici ed ogni sorta di cerimonie sacre.
Em frente à foz do Liger (Loire), o rio que divide o país da do Namneti Pictoni e onde está o grande empório Corbilo, tem uma ilha habitada por mulheres de Namneti vaso por Dionísio e votou para atender o deus com todos os tipos de ritos de mistério e cerimônias sagradas.

Nessun uomo osa mettere piede su quest'isola; sono le donne che attraversano il braccio di mare quando hanno voglia di congiungersi con i loro mariti e poi ritornano nell'isola.
Nenhum homem ousar pôr os pés na ilha, são as mulheres que cruzam o estreito quando eles querem se juntar aos seus maridos e depois de volta na ilha.

Usanza vuole che una volta all'anno scoperchino il tetto del tempio eo ricostruiscano lo stesso giorno, prima del tramonto, ognuna portando il suo fardello.
A tradição conta que uma vez por ano scoperchino o telhado do templo e quer reconstruir no mesmo dia, antes do pôr do sol, cada um carregando seu fardo.

Colei che per ventura lo fa cadere, viene fatta a pezzi dalle altre.
Ela, que por acaso ele não cair, é dilacerada dos outros.
  
 I Veneti che abitano queste estreme contrade marittime (popolazione celtica che abitava l'odierna regione del Morbihan in Bretagna e che oppose accanita resistenza a Cesare) .
Os venezianos que vivem nestes bairros marítimas extremas (povos celtas que viviam na região moderna de Morbihan, na Bretanha e oposição feroz resistência a César).
  
Tra i promontori di questa costa il più importante è Kabaion (Point du Raz, in Bretagna) , dove abitano gli Ostimmi.
Entre as cabeceiras desta costa é a mais importante Kabaion (Point du Raz na Bretanha), onde habitam os Ostimmi.
   
Nell'isola di Sena (Sein, al largo del Point du Raz) di fronte al territorio degli Ostimmi, vi è un famoso oracolo dei Celti.
A ilha de Sena (Sein, fora da costa de Point du Raz) na frente do território do Ostimmi, há um célebre oráculo dos Celtas.

Le sacerdotesse, sante votate alla verginità perpetua, sono in numero di nove: curano anche le più insanabili malattie, conoscono e predicono il futuro.
As sacerdotisas, santo devotado a virgindade perpétua, são nove em número: tratar até mesmo as doenças mais incuráveis, conhecer e prever o futuro.

Per le condizioni climatiche la terra non produce né vino né olio, di conseguenza i Celti, privi di questi prodotti, ricavano una bevanda dall'orzo, che chiamano zythos, e inoltre devono l'acqua con cui hanno lavato i loro alveari.
As condições climáticas da terra não produz vinho ou óleo, assim os celtas, sem esses produtos, uma bebida derivada da cevada, que eles chamam de Zythos, e também precisa da água com que eles lavaram suas colméias.

In cambio di un'anfora di vino danno uno schiavo.
Em troca de um jarro de vinho danos escravo.

I Celti sono alti di statura, muscolosi, bianchi di carnagione e con i capelli biondi, non solo per natura, ma anche perché si ingegnano di aumentare artificialmente quel colore distintivo che la natura ha dato loro, lavandosi continuamente i capelli in acqua di calce.
Os celtas são alto, musculoso, de pele branca e cabelos loiros, não só pela natureza, mas também porque ingegnano para aumentar artificialmente a cor distinta de que a natureza lhes deu, constantemente lavar o cabelo em água de cal.

I nobili si radono le guance, ma si fanno crescere i baffi fino a ricoprire la bocca.
Os nobres raspam suas bochechas, mas eles o bigode crescer para cobrir a boca.

Quando pranzano non siedono su sgabelli, ma in terra, servendosi di pelli di lupo o di cane per cuscino.
Quando o almoço não se sentar em bancos, mas no chão, usando peles de lobo ou travesseiro cão.

Ai loro banchetti invitano anche gli stranieri e fino alla fine del pasto non chiedono chi siano né cosa desiderino.
Seus banquetes convidar os estrangeiros até o final da refeição não perguntar quem são ou o que querem.

Anche durante il pranzo colgono ogni minimo pretesto per iniziare accanite discussioni che finiscono in una sfida a duello, senza alcuna preoccupazione per la vita.
Mesmo durante o almoço tomar cada menor pretexto para começar a feroz debate que terminou em um duelo, sem nenhuma preocupação com a vida.

Fra loro infatti prevale la concezione di Pitagora secondo cui l'anima dell'uomo è immortale e dopo un certo numero di anni inizia una nuova vita prendendo forma in un altro corpo.
Entre eles, na verdade, a concepção de Pitágoras que a alma do homem é imortal e, após um certo número de anos começa uma nova vida a tomar forma em outro corpo.

 Così durante le cerimonie funebri per i loro morti alcuni lanciano sulla pira delle lettere scritte ai parenti defunti, come se i morti le potessero leggere. Assim, durante as cerimônias fúnebres para os seus mortos sobre a pira lançar algumas das cartas escritas a parentes falecidos, como se os mortos podiam ler.

Vivono in grandi case circolari fatte di tavole e graticci, ricoperte da uno spesso tetto di paglia.
Eles vivem em grandes casas circulares feitas de tábuas e telas, coberto por um telhado de palha grossa.

E' inoltre loro costume quando sono schierati a battaglia avanzare davanti alla prima linea per sfidare a duello i più valenti degli avversari.
É também seu traje quando eles são implantados com antecedência antes da linha de primeira batalha para duelos os adversários mais talentosos.

Ai nemici caduti tagliano la testa che poi appendono al collo dei loro cavalli.
Inimigos caído para cortar a cabeça e depois pendurar no pescoço dos seus cavalos.

Le teste dei nemici più illustri le imbalsamano con olio di cedro.
Os chefes da embalsamar inimigos mais distinto com óleo de cedro.

Vestono con tuniche colorate e ricamate in varie tinte e calzoni che nella loro lingua chiamano “bracae”.
Vestido em túnicas coloridas e calças bordadas em várias cores e em sua própria língua chamada "bracae".
  
 
BRITANNIA
  
 
Dall'isola chiamata Ouxisame (Ouessant, Bretagna) avvolta da una fitta nebbia, ci dirigemmo verso settentrione.
Ilha chamada Ouxisame (Ouessant, Bretanha) envolta em uma névoa espessa, que para o norte.

Di fronte alla Celtica che guarda l'Oceano, infatti, ci sono molte isole e la più grande di queste si chiama Britannia.
Em frente ao Celtic olhando o mar, na verdade, há muitas ilhas ea maior delas é chamada Britannia.

La Britannia, di cui ho visitato tutti i recessi accessibili, ha forma di un triangolo.
Grã-Bretanha, de que visitei todos os recessos acessíveis, tem a forma de um triângulo.

Le coste più vicine al continente hanno un promontorio che chiamano Cantion (North Foreland, Kent).
As costas mais próximas do continente têm um promontório chamado Cantion (Norte Foreland, Kent).

La seconda punta, chiamata Belerion (Land's end, Cornovaglia) è a quattro giorni di navigazione dalla terraferma e l'ultimo capo, che chiamano Orca (Duncansby Head, Scozia, vicino alle isole Orcadi) si protende in mare aperto.
A segunda dica, chamado Belerion (extremidade da terra, Cornwall) é uma vela de quatro dias a partir do continente e do último chefe, que chamou Orca (Duncansby Head, Escócia, perto das Ilhas Orkney) estende offshore.

La maggior parte dell'isola consiste in una distesa di pianure e di foreste, con molte zone collinari e molti fiumi dal flusso alterno.
A maior parte da ilha é constituída por uma extensão de planícies e florestas, com muitas montanhas e rios muitos de o suplente.

Piove spesso e quando è chiaro la nebbia dura così a lungo che il sole si vede tre o quattro ore al giorno.
Chove com freqüência e quando é evidente a neblina dura tanto tempo que o sol pode ser visto três ou quatro horas por dia.

I Britanni sono più grandi e più proporzionati dei Celti, con i capelli meno biondi e si tingono il corpo.
Os britânicos são maiores e mais proporcional para os celtas, com menos cabelo loiro e tingir o corpo.

Le loro abitazioni sono modeste, fatte per la maggior parte di canne o tronchi d'albero.
Suas casas são modestas, em sua maior parte feito de junco ou troncos de árvores.

L'isola, nonostante il freddo, è densamente abitata ed è governata da molti re e nobili che per lo più vivono in pace tra loro.
A ilha, apesar do frio, é densamente povoada e é governado por muitos reis e nobres, que em sua maioria vivem em paz um com o outro.

Qui i mercanti comprano lo stagno e lo trasbordano nella Celtica
Aqui, os comerciantes compram o estanho e transbordados no Celtic

L'isola di Ierne (Irlanda) si stende parallela alla Britannia, meno allungata, ma poco larga.
A ilha de Ierne (Irlanda) estende-se paralelamente à Britannia, menos alongada, mas não muito grande.

Il clima non consente le semine, ma l'erba vi è così lussureggiante e gustosa che le pecore si ingozzano in breve tempo.
O clima não permite a semeadura, mas a erva é tão exuberante e saboroso do que o desfiladeiro de ovelhas se em um curto espaço de tempo.

I suoi abitanti sono più selvaggi dei Britanni.
Seus habitantes são mais selvagem do que os britânicos.

Sono antropofagi ed erbivori ei figli si fanno un punto d'onore di divorare i genitori dopo la loro morte.
Eles são canibais e herbívoros e as crianças vão torná-lo um ponto de honra para comer seus pais após a sua morte.

Gli uomini si accoppiano davanti a tutti con qualsiasi donna, comprese madri e sorelle.
Os homens vão acasalar com qualquer mulher na frente de todos, incluindo mães e irmãs.
  
 In seguito, costeggiando la Britannia, si trovano le isole Hebudes (Ebridi), in numero di cinque.
Então, ao longo da Britannia, ficam as ilhas Hebudes (Hébridas), em número de cinco.

Gli abitanti ignorano l'agricoltura e vivono soltanto di pesce e di latte.
Os habitantes ignoram a agricultura e só peixes vivos e leite.

C'è un solo re per tutte queste isole, perché sono separate l'una dall'altra solo da uno stretto canale.
Existe apenas um rei de todas estas ilhas, porque eles são separados um do outro apenas por um canal estreito.

Il re non possiede niente di proprio, tutto è comune, e viene mantenuto a spese pubbliche.
O rei não tem nada de seu, tudo é comum, e é mantida com recursos públicos.

Non ha una donna propria, ma a turno, secondo il proprio capriccio, può prendersi chi vuole.
Não foi uma mulher, mas por sua vez, de acordo com seu próprio capricho, pode levar quem quiser.
  
 A sette giorni e sette notte di navigazione dalle Hebudes, si trovano le Orcadi.
Sete dias e sete noites navegando de Hebudes, são as Orcadas.

Sono trenta, molto vicine fra loro, disabitate, non hanno vegetazione, soltanto un magro tappeto di erbe simili a giunchi; tutto il resto è ricoperto di sabbia e nude rocce.
Eu sou 30, muito perto um do outro, desabitada, não tem vegetação, apenas um tapete fina de grama-como juncos, tudo o resto está coberto de areia e rochas nuas.
  
 
L'ULTIMA THULE
A ULTIMA THULE
  
 
A sei giorni di navigazione dalla Britannia verso il nord si trova Thule ( Shetland, oppure Faer Oer, o Islanda), la più settentrionale delle isole britanniche, il limite estremo della terra.
Seis dias vela da Grã-Bretanha para o norte está Thule (Shetland ou Faroe, e Islândia), a mais setentrional das ilhas britânicas, o limite extremo da terra.

Durante il solstizio d'estate, quando il sole entra nel segno del Cancro, non vi sono notti, mentre nel solstizio d'inverno non c'è la luce diurna: e questo accade, dicono, per sei mesi consecutivi.
Durante o solstício de verão, quando o sol entra no signo de Câncer, há noites, enquanto o solstício de inverno, há luz do dia, e isso acontece, eles dizem que, durante seis meses consecutivos.
  
 I popoli vicini alla zona glaciale sono completamente sprovvisti di piante alimentari e gli animali domestici sono rari, si nutrono di miglio e di altri erbaggi, di frutti selvatici e di radici.
As pessoas próximas ao glacial são completamente desprovidos de alimentos e animais domésticos são raros, eles se alimentam de verduras painço e outros, frutos silvestres e raízes.

Battono il grano in vasti capannoni dopo aver raccolto le spighe, perché non hanno mai giornate limpide; la mancanza di sole e le piogge rendono impossibile l'uso di aie all'aperto.
Bata o grão em galpões depois de coletar os ouvidos, porque eles nunca dias claros, a falta de sol ea chuva torna impossível usar pátios ao ar livre.
  
 A un giorno di navigazione da Thule inizia il mare di ghiaccio che alcuni chiamano Cronio.
Na vela um dia de Thule começa gelo do mar que Cronio alguns chamam.

Qui non si trova più né terra propriamente detta, né mare, né aria, ma una materia composita di questi elementi diversi, che sembra una medusa.

Aqui não é mais a terra, nem adequado, nem o mar, nem ar, mas um material compósito destes elementos diferentes, que se parece com uma água-viva.

Presi da un improvviso timore di offendere gli dei, i marinai si rifiutarono di procedere oltre quello che consideravano il limite estremo del mondo. Tomado por um súbito medo de ofender os deuses, os marinheiros recusaram-se a ir mais longe que eles viam como o limite extremo do mundo.
  
 
LE TERRE DELL'AMBRA
TERRAS DO ÂMBAR
  
 
Il Codano (Danimarca) è un golfo immenso pieno di isole di tutte le dimensioni.
O Codano (Dinamarca) é um abismo enorme cheio de ilhas de todos os tamanhos.

Qui vivono i Cimbri ei Teutoni.
Aqui vivem o Cimbri e os Teutões.
  
Oltre, in un estuario (Golfo di Danzica) , abitano i Gotoni di stirpe germanica.
Além disso, em um estuário (Golfo de Gdansk), vivem Gotoni da raça germânica.

Qui i flutti del mare depositano l'ambra; essi raccolgono l'ambra allo stato grezzo nei fondali e sulla spiaggia per servirsene come combustibile oppure la vendono ai loro vicini.
Aqui as ondas do mar depositados âmbar, âmbar eles coletam estado bruto nas profundezas e na praia para usá-lo como combustível ou vendê-lo para os seus vizinhos.

Attraverso il continente l'ambra arriva così fino alle regioni a noi note.
Em todo o continente âmbar nos traz para as regiões conhecidas por nós.
  
 Il fiume Vistola divide queste regioni dalla Sarmazia
O rio Vístula separa estas regiões de Sarmatia (Europa centro orientale da Don a Danubio),

molto più estesa all'interno, fino all'Istro (Danubio) . (Europa Central e Oriental por Don do Danúbio),
dentro de muito maior, até all'Istro (Danúbio).

Le terre che si estendono di fronte ai Sarmati per il flusso e riflusso del mare talvolta sembrano isole, talvolta un continente.
As terras que se estendem em frente ao sármatas para o fluxo e refluxo das ilhas do mar às vezes aparecem, às vezes, um continente.
   
Ai confini dell'Asia si estende una regione dove l'inverno è perpetuo e il freddo intollerabile.
As fronteiras da Ásia encontra-se uma região onde o inverno é perpétua e intolerável frio.

Vi abitano popoli sciti, quasi tutti riuniti sotto il nome di Bergae.
Povos citas vivendo lá, quase todos unidos sob o nome de Bergae.

Sul litorale asiatico risiedono i primi Iperborei, al di là della regione dove si forma Borea e al di là dei monti Rifei (Urali).
Na costa asiática estão os hiperbóreos primeira, além da região onde se formam Boreas e além do Rifei montanhas (Urais).

Là il sole non sorge tutti i giorni come da noi, ma una volta apparso nell'equinozio di primavera non tramonta che nell'equinozio di autunno.
Lá, o sol não nasce todos os dias como nós, mas uma vez apareceu no equinócio da primavera do equinócio do outono que nunca vai se apagar.
   
Nessuno dei barbari ci sapeva indicare le bocche del Tanais (Don) . Nenhum de nós sabia bárbaros indicam as bocas do Tanais (Don)."




 

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HISTORIANDO MOÇAMBIQUE COLONIAL









Companhia dos Mujaos e Macuas Tendo sido proibido à Companhia de Mazane de Diu* comerciar no interior do território havia que disciplinar o negócio entre a ilha de Moçambique e os povos do litoral (macuas) e do interior continental (mujaos). Nasceu, assim, em Março de 1766, a Companhia dos Mujaos e Macuas, fundada por diversos habitantes da ilha de Moçambique, com a finalidade de estabelecerem comércio com os macuas e os mujaos. Autorizada a estabelecer cinco feitorias tinha, ainda, que manter na ilha uma loja e um armazém e a sua actividade comercial limitava-se ao território fronteiro à capital, tendo-se criado quatro feitorias no Mossuril e uma na Cabaceira**. As permutas entre a companhia e o interior eram, na sua essência, a troca de tecidos de algodão e missangas, vindos da Índia, por marfim, abada, escravos e bens alimentares, estes últimos tão necessários à ilha e sendo os três primeiros monopólio da companhia. A mesma teve curta duração já que, face aos inúmeros protestos dos comerciantes da Índia e apoiados pelo governo de Goa, o Rei de Portugal ordenou a extinção da mesma em 1769, invocando que os seus monopólios feriam a liberdade de comércio no território.


* - Já aberta ficha anteriormente.
** - Longo baixio, situado a Norte da ilha de Moçambique e que a liga ao continente, existindo na Grande e a Pequena.


Companhia Colonial - O mesmo que companhia majestática.


Companhia Majestática - Em finais do século XIX, o Estado Português alienou grande parte do território moçambicano ao capital privado, autorizando a criação de companhias majestática, a quem concedia não só a exploração económica de vastas  regiões, como também lhes autorizava a prática dos vários actos  de soberania como, por exemplo, o lançamento e cobrança de impostos, vassalagem de povos e  policiamento, entre outros. Foi a evolução do sistema feudal dos prazos para o sistema capitalista das grandes companhias. Com esta medida o governo português decapitava os prazos, cuja africanização dos prazeiros e as suas permanentes rebeliões, com a consequente estagnação económica juntamente com a desertificação humana causada pelas guerras e tráficos de escravos, só traziam dores da cabeça para os governantes e, ao mesmo tempo, realizava dinheiro, pois leiloavam-se extensas áreas a indivíduos ou grupos financeiros com capital garantido. Em 1892 o governo português leiloa, em hasta pública, todo o território do vale do Zambeze. Esta medida atraiu os capitalistas estrangeiros, já que os nacionais não tinham recursos financeiros, o que também serviu os interesses do governo português, pois foi uma maneira de saciar os apetites estrangeiros pelas terras de Moçambique, evitando possíveis conflitos armados. Nasceram, assim, três grandes companhias: a Companhia da Zambézia, a Companhia de Moçambique e a Companhia do Niassa. Apareceram, em segundo plano, outras companhias majestática secundárias, mais pequenas, tais como a de Inhambane, da Gorongosa, do Luabo, do Boror, a Sena Sugar Estates, Ltd., a Societé du Madal e Empresa Agrícola do Lugela, Lda., entre muitas outras, as quais centravam a sua actividade na exploração de prazos que arrendavam. Em 1929 o Estado Português iniciou o processo de cessação das actividades das companhias majestáticas e assumiu a soberania directa dos territórios, integrado numa nova visão política de nacionalismo vincado. No entanto, as companhias secundárias sobreviveram a esta nacionalização e transformaram-se em empresas de cariz capitalista, mantendo as suas actividades adaptadas às novas determinações políticas da administração portuguesa.

 

Companhia da Zambézia – Companhia majestática cuja área de jurisdição abrangia múltiplos prazos, tais como o de Andone e Anguase, perto de Quelimane, o de Timbué, na foz do Zambeze e o de Massingir, na margem esquerda do rio Chire, bem como também possuía larga jurisdição no Distrito de Tete. Dedicava-se, principalmente, ao cultivo e exploração de palmares, de sisal, algodão e tabaco e à criação de gado bovino de alimento e de trabalho. Explorava, ainda, um serviço fluvial de barcos a vapor e a gasolina, estabelecendo ligações entre o Chinde e Tete, com diversas escalas pelos portos fluviais do rio Zambeze. Com capital maioritariamente de particulares portugueses tinha, no Governo, o seu accionista principal, tendo sido constituída em 1891 com sede em Quelimane.


Companhia de Moçambique – Companhia majestática que administrava um quarto do território moçambicano, cerca de 13.500.000 hectares. A Companhia administrava uma área referida por Território de Manica e Sofala, completamente independente da administração directa do Estado Português. O Território tinha, por limites, o rio Zambeze, a Norte, e pelo paralelo 22 a Sul, a Rodésia, a Oeste e o oceano Índico, a Este, com cerca de 434 quilómetros de costa marítima. À Companhia de Moçambique foram concedidos privilégios por Carta Régia de 1891, por um período de cinquenta anos, renováveis mas, em 1929, o Estado Português assumiu a soberania plena do território, cessando a actividade da Companhia, cerca de uma década mais tarde e que tinha a sua sede principal em Lisboa e a Beira como capital do Território. Dedicava-se, principalmente, à exploração dos minérios (ouro, prata, estanho, cobre e algum carvão); da agricultura (sisal, algodão, milho, amendoim e arroz); pecuária; indústria do açúcar e exploração de madeiras. O Governo de Lisboa era representado, na Companhia de Moçambique, por um Comissário, cujas competências para fiscalizar a Companhia foram estabelecidas pelo Ministério das Colónias, no âmbito do Decreto nº 28.006 de 02 de Setembro, cujo teor rezava o seguinte: Nos termos do art.º 28 do Acto Colonial e usando da faculdade conferida pelo parágrafo 1 do art.º 10 com referência ao parágrafo 2, do mesmo artigo e ao art.º 91, parágrafo 49, da Carta Orgânica do Império Colonial Português, o governo decreta e eu promulgo o seguinte: Artigo 1º: - É autorizado o Ministro das Colónias a ordenar ao Comissário do Governo junto da Companhia de Moçambique a realização em África de inspecções e inquéritos à actividade exercida pela mesma Companhia nos territórios confinados à sua administração. Artigo 2º: - O Ministro das Colónias fixará o tempo da sua duração e bem assim das normas a que devem obedecer e os objectivos em vista. Artigo 3º: - Dentro dos territórios administrados pela Companhia de Moçambique terá o Comissário do Governo precedência sobre todas as entidades, com excepção do Chefe de Estado, Presidente do Conselho, Ministros, Sub-Secretários de Estado e Governador-Geral da Colónia de Moçambique. Artigo 4º: - A Companhia de Moçambique abonará ao Comissário do Governo durante todo o seu tempo de impedimento nos serviços que trata o artigo primeiro, os vencimentos que legalmente está percebendo, os quais serão pagos na metrópole a pessoa que o mesmo Comissário designar. Artigo 5º: - O Comissário do Governo, quando em serviço em África, terá um secretário, nomeado pelo Ministro das Colónias sob proposta daquele. Artigo 6º: - Tanto o Comissário do Governo como o seu secretário vencerão diariamente ajudas de custo, a fixar em portaria pelo Ministro das Colónias. Parágrafo Único: Pode o Ministro autorizar, por meio de despacho, que um e outro recebam antes do embarque a ajuda de custo correspondente a quarenta dias. A restante ajuda de custo será paga na Beira, semanalmente, observadas as formalidades estabelecidas na lei para o seu processamento. Artigo 7º: - Constituem encargo da Colónia de Moçambique as ajudas de custo a que se refere o artigo precedente e os transportes do Comissário do Governo e do seu secretário os quais poderão fazer-se pelas vias que o Ministro determinar. Parágrafo Único: Para efeitos do preceituado neste artigo é autorizado o Governo da Colónia de Moçambique a abrir desde já um crédito especial da importância de 250.000$00. Publique-se e cumpra-se como nele se contém.”

 
Companhia do Boror – Companhia majestática de pequena dimensão, situada na área de Quelimane e que era arrendatária de um conglomerado de prazos que abrangiam os do Boror, que se estendia desde o rio Namacurra até à parte mais ocidental do Distrito de Quelimane, aos do Licungo e Macuse, que ficavam nas margens dos rios com o mesmo nome ainda os prazos de Namedurro e Tirre. Dedicava-se, principalmente, à agricultura e era detentora do maior palmar do mundo, que ultrapassava um milhão de palmeiras, dedicando-se ainda ao cultivo da borracha, do sisal e da cana sacarina, com a consequente indústria do açúcar e álcool.

 
Companhia do Niassa – Companhia majestática fundada em 1891, que administrava os territórios nortenhos de Moçambique, e que abrangiam toda área de Cabo Delgado e Niassa referidos, genericamente, como Territórios de Cabo Delgado, em finais do século XIX e princípios do século XX. Os Territórios, eram limitados, a sul, pelo Distrito de Moçambique, no prolongamento do rio Lúrio, a norte pelo rio Rovuma, a oeste pelo Lago Niassa e a este pelo Oceano Índico, possuindo cerca de 170 milhas de costa marítima. Estabelecida desde 1894 na zona, a Companhia do Niassa detinha poderes absolutos nos Territórios, excepto nas áreas militares e judiciais. A sede do Governo dos Territórios de Cabo Delgado era em Porto Amélia, onde residia o Governador da Companhia, como máxima autoridade e mantinha em funcionamento vários serviços públicos tais como Secretaria-Geral, Fazenda, Correios e Telégrafos, Trabalho Indígena e Polícia e subdividia a região em catorze concelhos bem como publicava um Boletim Oficial. A entidade que se encontrava por detrás da Companhia do Niassa era a britânica Niassa Consolidated Company, a qual detinha 219.000 acções das 436.539 emitidas, no valor fiduciário de uma libra cada. As receitas da Companhia do Niassa provinham, principalmente, do imposto de palhota e das alfândegas, sendo certo que a sua intervenção ao longo dos anos, no território, foi parasitária e em nada beneficiou o desenvolvimento da mesma, quer agrícola, quer pecuária, quer piscatória ou mesmo industrial, que ficaram, praticamente, na estaca zero. Os interesses da Companhia não passavam pelo desenvolvimento mas sim, apenas, pelo arrecadar dinheiro pelas vias mais fáceis. Em 28 de Outubro de 1929 os referidos Territórios de Cabo Delgado deixaram de ser administrados pela Companhia e passaram para a soberania directa do Estado Português.


Empresa Agrícola do Lugela, Lda. – Companhia de capital português e arrendatária dos prazos Lomué, Lugela e Milange, no Distrito de Quelimane. Dedicava-se à agricultura e à exploração do sisal, tabaco e algodão e chá. 

 
Sena Sugar Estates, Ltd. – Companhia arrendatária do prazo Maganja, junto ao rio Chire. Dedicava-se principalmente à fabricação do açúcar, em Marromeu e Mopeia, onde possuía fábricas que produziam, cada uma, cerca de cinquenta mil toneladas anuais. A primeira exploração açucareira pertenceu, em 1893, à Companhia do Açúcar de Moçambique. Por volta de 1900, nasceu a Sociedade Açucareira da África Oriental Portuguesa, de capital francês, que começou a laborar em 1902, uma fábrica em Marromeu, fábrica esta que acabou por ser adquirida, em 1910, pela The Sena Sugar Factory, Ltd., uma empresa de capital britânico, criada em 1904. Todas estas fusões acabaram por se fundir, em 1920, na Sena Sugar Estates Limited, empresa que sobreviveu à extinção das companhias majestáticas. Para além da actividade açucareira, também explorava uma concessão algodoeira, em Mopeia, uma via-férrea ligando Marromeu a Caia e uma flotilha de embarcações no rio Zambeze.

 

Société du Madal – Companhia arrendatária dos prazos Cheringone, Inhanssugue, Madal, Mahindo e Tangalane, no Distrito de Quelimane. A sua actividade económica centrava-se na exploração de palmares e oficinas de reparações de embarcações e material agrícola. Com sede no Principado do Mónaco, tinha sucursais em Angoche, Ibo, ilha de Moçambique, Quelimane e Porto Amélia.



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LIVROS



Título: Fórmula para o caos
Sub-título: A CIA e o outro 11 de Setembro: a queda de Salvador Allende (1970-1973)
Autor: Luiz Alberto Moniz Bandeira
Editora: Tribuna                      Ano: 2009                   Págs.: 551       Género: História política







A propósito de se ter passado mais um aniversário do fatídico 11 de Setembro de 2001, que tanto abalou a sociedade norte-americana bem como de parte do resto do mundo, para que a memória não morra, importa lembrar o outro 11 de Setembro (1973), data onde ocorreu um golpe de estado no Chile, que pôs fim a um regime democrático, presidido por Salvador Allende e instaurou uma sangrenta ditadura militar liderada pelo General Augusto Pinochet.
 
 
Este golpe de estado militar chileno foi financiado, liderado e parcialmente executado pelos Estados Unidos da América,  através da toda-poderosa CIA. Aliás, o próprio título do livro - "Fórmula para o caos" - é inspirado na frase de Henry Heckenser, chefe da CIA na capital chilena na altura, para designar o conjunto de operações subterrâneas que aquele departamento ajudou a levar a cabo para desestabilizar o regime (atentados, assassinatos,sabotagens, etc.).


Tendo ganho as eleições em 1970, Salvador Allende governou o País com base na Unidade Popular e de tendência socialista, no que se tornou um crime de lesa-pátria para os interesses norte-americanos. Incrementou-se uma melhoria de qualidade de vida no seio das populações mais carenciadas, nacionalizaram-se empresas estrangeiras, intensificou-se a reforma agrária, entre outras medidas. Os alarmes dispararam e o Embaixador norte-americano no Chile, E. Korry, numa carta enviada a Eduardo Frei em Outubro de 1970, afirma: "..Deve saber que não permitiremos que chegue ao Chile uma porca, um parafuso... Enquanto Allende estiver no poder, faremos tudo ao nosso alcance para condenar o Chile e os chilenos às maiores privações e misérias...". A estação da CIA em Santiago do Chile, também em 14 de Outubro de 1970, determinava através do telegrama 762 para: "...informar os oficiais golpistas que o governo dos EUA lhes dará o seu apoio total no golpe...".

 
O golpe saiu vitorioso para as forças revoltosas, culminando com o suicídio presidencial, instalando-se uma ditadura com a consequente perseguição, prisão ou morte de milhares de oposicionistas (outros nem tanto, mas serviu para ajustes de contas particulares), tudo com a benção da Administração norte-americana que voltou a  ter, naquele País, uma liderança favorável aos seus interesses económicos.
 
 
Foi mais um dos muitos golpes de estado contra os interesses das populações que a política norte-americana nos habituou há décadas e décadas. Mas deste 11 de Setembro praticamente ninguém fala. Todos choram as vítimas norte-americanas, poucos ou quase ninguém acende uma vela pela vítimas chilenas. 

 
O livro acima referido é do melhor que já li sobre a história deste golpe. O Autor, Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira, é um conceituado catedrático brasileiro que não hipoteca o seu nome e o seu prestígio intelectual a interesses privados, preocupando-se apenas com o domínio da verdade. O seu livro não se limita só a relatar o golpe, mas aponta as causas para a génese do mesmo cujo objectivo foi sempre o de desestabilizar o governo democraticamente eleito mas contrário aos interesses capitalistas, forma simplificada de legitimar, ao olhos do Mundo, uma tomada de poder militar.
 
 
Baseando a sua pesquisa em abundante documentação consultada, principalmente, quer nos EUA quer no Brasil, após ter sido desclassificada, o livro em si, nucleando-se no golpe chileno dá-nos, também, uma panorâmica mais compreensiva sobre outros golpes regionais que aconteceram, quer na Bolívia, no Uruguai e no Peru.
 


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Título: Caça ao homem 
Sub-título: Os dez anos de caça a Bin Laden desde o 11 de Setembro até Abbottabad
Autor: Peter L. Bergen
Editora:  D.Quixote              Ano: 2012                    Págs.: 371          Género: História/Reportagem






Osama Bin Laden era o homem mais procurado em todo o mundo pelas forças especiais norte-americanas e a caça ao mesmo durou cerca de uma década, até que culminou com a sua morte, numa bem sucedida operação norte-americana em território paquistanês. Apontado como o financiador e mentor do tristemente famoso 11/09 em território norte-americano, nunca duvidei que a sua vida estava com prazo encurtado. Mesmo assim ainda levou uma década a escapar-se às investigações norte-americanas.
 
 
O 11/09 foi, em termos militares, uma operação bem  pensada e executada. Escusemo-nos de nos armarmos em virgens ofendidas; os alvos eram puramente estratégicos e simbólicos: as torres gémeas eram o símbolo do coração do capitalismo, o Pentágono o  símbolo do poderio militar e o braço armado do imperialismo americano e a Casa Branca o símbolo do poder político, enquanto cérebro. Falhou o objectivo político, mas foram alcançados os outros dois. Por momentos os EUA sentiram na pele o terror e o pânico que já tinham lançado noutras partes do planeta. Provaram o seu próprio remédio.
 
 
O 11/09 foi, em termos políticos, uma operação desastrosa. Pode ser fácil atacar de surpresa um inimigo. O difícil é o dia seguinte. E os EUA, compreensivelmente, não ficaram quietos. Como reflexo directo desta operação, um dos piores políticos norte-americanos de todo o século XX - George Bush filho - foi reeleito como Presidente, com uma esmagadora maioria, baseando a sua campanha, entre outras coisas, a instilação do medo da insegurança, na destruição da Al-Qaeda e na morte do seu líder. 


O 11/09 foi, em termos humanos, uma operação desastrosa. A mortandade que causou, quer os imediatos quer os que vieram a falecer posteriormente, não justificava os objectivos políticos-militares a que a operação se propunha. Mas para os radicais muçulmanos, talibãs com cérebro de noz, nada disso foi levado em conta. 


Ora é precisamente a história que medeia o 11/09 até à operação das forças especiais em Abbottabad que o Autor, Peter L. Bergen nos relata denotando profundo conhecimento do que se terá passado. Tendo conhecido pessoalmente Bin Laden, que entrevistou para a CNN em 1997, e  denotando  mover-se bem no seio das teias políticas de Washington e do Pentágono, deixa-nos um livro empolgante, que se lê da primeira à última página com o rigor de quem sabe do que escreve e como se escreve. 
 
 
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Título: O livro negro da condição das mulheres
Autor: Diversos (mais de 40), com organização de Christine Ockrente, Coordenação de Sandrine Treiner.
Editora: Temas e Debates      Ano: 2007      Págs. :734          Género: Sociologia
 
 







Para aqueles a quem os Direitos Humanos, no caso específico o das mulheres, são um combate em prol do qual o mesmo deve ser permanente, este é um livro a ser lido.
 
 
Os livros negros têm como objectivo denunciar as injustiças de determinadas situações, áreas políticas, sociais, etc. São o contraponto dos livros brancos. Encontramos no mercado alguns livros negros que denunciam os excessos, as arbitariedades, as prepotências deste ou daquele sistema político, desta ou daquela condição social, etc. 

 
No caso vertente o tema aborda e denuncia a condição subserviente e humilhante a que as mulheres são sujeitas em grande parte do Planeta, alertando-nos para o ainda longo caminho que o sexo feminino tem que trilhar.
 
 
 
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FILMES



Sobre os dois 11/09 (1973 e 2001) abordo dois filmes que dão uma visão parcial do que se passou nesses dois dias.

 
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Título: Chove em Santiago
Realização: Helvio Soto
Actores: Jean-Louis Trintignant; Annie Girardot; Bibi Anderson (entre outros)                 
Banda Sonora: Astor Piazzolla
Tempo:    110 minutos               Ano: 1976              Género: Drama / Documento histórico







"Chove em Santiago" era a frase código dos militares chilenos revoltosos que desencadearam a tomada do poder. O filme aborda o golpe de estado, mas não com o rigor histórico do que realmente se passou. A título exemplificativo temos a morte do Presidente Salvador Allende que, no filme, aparece de arma na mão a morrer em combate contra os militares quando, na realidade, o mesmo suicidou-se.  Mas, no global, é um bom filme a ver-se.


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Título: Voo 93
Realização: Paul Greengrass
Actores: Christian Clemenson, Amanda Mackey (entre outros)
Tempo: 106 minutos              Ano: 2006                     Género: Drama / Documento histórico


 
No dia 11/09/2001 foram desviados quatro aviões. Dois atiraram-se para as torres gémeas, um terceiro despenhou-se sobre o Pentágono e o quarto avião (o voo 93) teria, como destino final, depois de sequestrado a Casa Branca.
 
Um filme que relata a coragem dos 40 passageiros e da tripulação do voo 93 quando se aperceberam do sequestro do avião. Reagindo contra os assaltantes pagaram todos com a vida quando a aeronave se despenhou, impedindo que a mesma atingisse o seu objectivo.
 
 
Mesmo aqueles que, cinicamente, dizem que os passageiros estavam condenados de qualquer maneira, desvalorizando estupidamente o seu acto, não deixa de ser um acto heróico colectivo. Pelo menos as suas mortes evitaram que os sequestradores da Al-Qaeda tivessem atingido o seu objectivo.




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DOCUMENTÁRIO



Salvador Allende foi um homem que, na década de 60 e 70 do século passado, marcou indelevelmente a política chilena, no particular e a sul-americana, no geral. Podem-se contestar as suas opções políticas e as suas decisões enquanto governante. Mas o que ninguém pode negar é que era um homem de causas pelas quais travou os combates da sua vida. A sua morte voluntária fez-me lembrar a frase de Ciprião de Figueiredo e que se tornou, séculos depois, no lema da Região Autónoma dos Açores: "Antes morrer livres que em paz sujeitos". Relembrando esta personagem carismática, que marcou a esquerda sul-americana, reproduzo um documentário sobre a sua pessoa, enquanto homem e político.
 








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MÚSICA



Vitor Jara - (Nuble, 28/09/1932 - Santiago, 16/09/1093) - Poeta, professor, dramaturgo, músico e cantor. Filho de camponeses pobres, com um pai analfabeto e alcoólico mas tendo uma mãe lutadora que nunca baixou os braços, efectua os seus estudos secundários na capital chilena, em Santiago.
 
 
Depois duma curta passagem por um seminário católico ingressa na Universidade do Chile, onde integra o elenco de "Carmina Burana", que lhe faz reavivar o gosto pela música. Em 1957 trava conhecimento com Violeta Parra, a mais importante divulgadora do flolclore chileno, que o incentiva na busca das raízes musicais chilenas. Dirige e encena peças de teatro, que o levam a percorrer a América latina, inicialmente e depois vários países europeus, principalmente os da "Cortina de Ferro". (1)
 
 
 
 
 
 
 
 
No início da década de 60 começa a compor e a cantar, actividade que acumula com a do teatro e do ensino universitário. A sua opção política, filiado no Partido Comunista Chileno, torna-o num esteio de defesa das ideias de Salvador Allende, tal como Pablo Neruda (1904/1973), poeta conterrâneo e laureado com o Prémio Nobel da Literatura (1971) que integra a sua lista de amigos pessoais. Aliás, será Vitor Jara quem presidirá à comissão criada para homenagear este poeta, quando o Prémio Nobel lhe foi outorgado.
 
 
Com o aumento da instabilidade político-social que se instala no Chile no início da década de 70, fruto da minagem económica que a direita chilena apoiada por sectores militares desencadeia, Vitor Jara assume-se como indefectível apoiante de Salvador Allende, até ao fim.
 
 
Pagará caro essa opção política. Com o eclodir do golpe de estado de 11 de Setembro é dos primeiros a ser preso pelos militares revoltosos e levado para o estádio de futebol da capital, que se tornou tristemente célebre por se ter tornado numa enorme prisão para onde foram levados centenas de presos políticos nas semanas seguintes ao golpe.
 
 
 
 
 
 
Militares chilenos guardando presos
políticos, após o golpe de 11/09/1973
(foto retirada do blogue "avisoemdois.com.br")
 
 
 
Depois de torturado é assassinado a tiro e o seu corpo acaba lançado à rua, num bairro suburbano de Santiago.
 
 
Faz hoje (16/09/012), precisamente, trinta e nove anos.
 
 
Após o advento da democracia naquele País, numa homenagem à sua pessoa, o estádio de futebol chileno onde ele e muitas outras centenas de opositores ficaram presos, foi rebaptizado com o seu nome (2003).
 
 
 
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(1) - "Cortina de ferro" foi uma expressão utilizada por Winston Churchil, para definir a fronteira política que, na Europa do pós-guerra (IIGG), separava os países sob domínio do regime ditatorial comunista de Moscovo da restante Europa.


 
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"Plegaria  a un labrador" é uma música da autoria de Vitor Jara que se reproduz de seguida.







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POESIA


Pablo Neruda - (Parral, 12/07/1904 - Santiago, 23/09/1973). Poeta e diplomata chileno. Tendo efectuado os estudos secundários em Temuco, aqui descobre a sua veia de vate na adolescência. Ingressa na Universidade, em Santiago, para onde se muda aos 19 anos de idade. No ano seguinte publica a sua primeira obra poética. que titula de "Vinte poemas de amor e uma canção desesperada".
 
 
 
 
 
 
 
 
A partir de 1927 inicia a sua carreira diplomática, que durará cerca de dez anos, com uma primeira colocação em Rangum, na Birmânia (actual Myanmar), até findar a mesma em Espanha, quando eclodiu a guerra civil neste País (1936/1939). Ao longo desta década Pablo Neruda travou-se de amizades com intelectuais de várias partes do mundo. Em 1945 é eleito Senador e em 1971 é-lhe atribuído o Prémio Nobel da Literatura.
 
 
De formação política marxista era um indefectível  amigo e apoiante de  Salvador Allende. Em 1970, desiste da sua candidatura à Presidência chilena para não prejudicar a candidatura do seu amigo. Doente e já em fase terminal de doença cancerígena, toma conhecimento do golpe militar que liquida o regime democrático chileno. Morre doze dias depois da eclosão do mesmo.
 
 
Ao longo da sua vida Pablo Neruda escreveu e publicou mais de uma trintena de livros de poesia e de ensaios. Um ano volvido após a sua morte publicaram-se as suas memórias, com o título "Confesso que vivi".


 
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"Tus manos" de Pablo Neruda
 
 
 
 



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PORQUE SÓ HÁ UM PLANETA







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ACONTECEU



O complexo relvino: Quando se tornou público a forma como Miguel Relvas se tinha licenciado pela Universidade Lusófona, praticamente na base de muitos créditos e poucos estudos, choveu um anedotário nacional de todos os quadrantes, mais abertos e ousados dos sectores da oposição, mais encapotados do sector simpatizante ao Governo.
 
 
Mas a verdade é ter um título de "Dr." faz parte do nosso imaginário, País este que, até ao 25/04, sofria duma taxa de analfabetismo altíssima para os padrões europeus. Ter um "Dr." dava estatuto e até chegava-se ao ponto de se exigir esse título  académico nos livros de cheques e nas listas telefónicas. Pura parvoeira, só para alimentar as fogueiras das vaidades.
 
 
Não me querendo alongar mais nestas locubrações, veio a isto a propósito de, há uns tempos atrás ter entrado na Piscina Municipal do Vale do Fundão (Lisboa) onde me ia encontrar com pessoa amiga. Enquanto aguardava a sua vinda dei uma vista de olhos pelos anúncios ali colocados tendo apurado, pela leitura de duas placas metálicas postadas lado a lado, que a dita piscina fora inaugurada em 2005, após "obra  realizada na Presidência de Pedro Santana Lopes" e, ao lado desta, uma outra de idênticas dimensões informava que a gestão da mesma passara para o Clube Oriental de Lisboa em 2012, por decisão do "Dr. António Luís Santos Costa, Presidente da CML e do Dr. Manuel Silva Brito, Vereador da Cultura da CML".
 
 
Pedro Santana Lopes (PSL) é licenciado em Direito, tendo prosseguido estudos académicos superiores complementares no estrangeiro. Politicamente não partilho das suas ideias nem da sua actuação enquanto Primeiro-Ministro que foi. Mas ali, na placa era apenas e tão-somente Pedro Santana Lopes. Contrariamente ao seu edil sucessor e ao vereador que lá tinham que ter o grau de "Drs." na placa. Não fossem ficar ofendidos.  
 
 
Tal como o ex-Presidente CML Carmona Rodrigues que em tudo o que inaugurou mandou pôr o título de "Professor Doutor". Para catedrático viu-se o esterco político que fez no seu consulado ministerial e municipal. Para catar votos até andou a dançar com idosas nos bailaricos populares do Mercado da Ribeira. A propósito, nunca mais o vi lá a dançar. Francamente Senhor Professor Doutor. As velhinhas ainda hoje estão lá a suspirar por si e pelas suas promessas.
 
 
Mas não são os únicos. São raríssimos os casos em que políticos apenas querem o seu nome a surgir nos escaparates. Contam-se pelos dedos duma mão e ainda sobram. Que me lembre só três casos: o de PSL; o do Zé (José Sá Fernandes, Vereador alfacinha) e o do Álvaro (Álvaro Pereira, Ministro da Economia).


Se a vaidade e a estupidez pagassem impostos, estes políticos andavam todos carimbados. Por isso, a fogueira das vaidades nunca se extinguirá. PSL subiu um degrau na minha escala. Se bem que isso não lhe faça falta nenhuma. E eu também nunca esperei que algum dia viesse a escrever isto. Estou mesmo a ficar velho.
 
 
 
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Dr. Jekil versus Mr. Hide: Pedro Passos Coelho (PPC) efectuou, na sexta-feira de 07/09, uma breve locução ao País no qual anunciou violentas medidas que atingem toda a classe trabalhadora e pensionista portuguesas no próximo ano, agravando ainda mais as condições de vida da maioria dos portugueses. Com todas as ganas de cão raivoso atirou-se ao Trabalho mas, qual cordeiro cobarde, deixou em paz o Capital. Logo de seguida, não contente com o sadismo, foi a um concerto musical comemorativo dos 50 anos de carreira de Paulo de Carvalho, onde se mostrou bem disposto e até cantarolou.
 
 
No dia seguinte o simplesmente Pedro, cidadão e pai, veio todo piegas choramingar no ombro dos portugueses, via facebook.
 
 
Só lamento uma coisa: é que este povo é fatalista e tem memória curta. Nas próximas eleições legislativas voltam a votar nele. Por isso só lamento o destino daqueles que, não votando nos partidos do "centrão", vão ter que aguentar as burrices eleitorais dos seus conterrâneos.
 
 

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 DECLARAÇÃO DE INTERESSES
 
 
 
 
Textos escritos em desrespeito pelas novas normas do Acordo Ortográfico.
 
 
 
Todas as referências constantes na presente mensagem e que se reportem a livros, fotografias, documentários, filmes, músicas; empresas comerciais, industriais ou de qualquer outro género; associações humanitárias, de defesa ambiental, animal ou florestal, bem como nomes de pessoas são incompatíveis com intuitos publicitários de carácter comercial ou que envolvam qualquer outro tipo de permuta material. Reflectem, apenas e tão-somente, a opinião do Autor.

 
 
 

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Ahhhhhhhhhhhhhhhh.............. bendito repouso.