"O Mundo não é uma herança dos nossos pais, mas um empréstimo que pedimos aos nossos filhos" (Autor desconhecido)

sábado, 31 de dezembro de 2011

Cecil John Rhodes

Aventureiros, viajantes e exploradores

Cecil John Rhodes - (Stortford (Inglaterra), 05/07/1853 - Cidade do Cabo, 26/03/1902) - Aventureiro, político, empresário e, acima de tudo, um gigante do colonialismo britânico na África Austral, insaciável conquistador de terras e inimigo fidagal dos portugueses. Cecil Rhodes foi um dos raros homens do planeta a legar o seu nome a um País - Rodésia (actual Zimbabwé) e passou à História como o "Napoleão da África do Sul". Quarto filho do Reverendo F. Rhodes, vigário de Stortford, efectuou os estudos normais da época, até 1869. No ano seguinte desembarca, pela primeira vez, na colónia do Natal (África do Sul), onde se vem juntar ao seu irmão Herbert Rhodes, iniciando uma carreira de pesquisador de ouro. Percorre a África meridional e regressa a Inglaterra, em 1872, frequentado a universidade de Oxford. Em 1878 volta, de novo, à África do Sul e instala-se na Cidade do Cabo, onde acaba eleito deputado no Parlamento daquela cidade. Cria a "British Chartered Company" que mais tarde rebaptizará de British South Africa Company (BSAC), em 1889, uma companhia majestática com o beneplácito do poder londrino. Recebendo autorização real para se expandir para o Norte do território, sem limites à sua expansão, Cecil Rhodes ocupa a Machonalândia, em 1890. Quatro anos mais tarde a BSAC ocupa a Matabelândia e reúne os dois territórios, renomeando-os de Rodésia. A BSAC funcionará como uma ponta de lança extremamente eficaz na conquista de territórios para o Norte, envolvendo-se em guerras com todos os que se atravessem no seu caminho, sejam bóeres, portugueses ou povos africanos, estendendo a sua influência até ao actual Malawi e Zâmbia. São os homens da BSAC que prendem Paiva de Andrada e Manuel António de Sousa e travam o combate de Macequece (actual Manica - Moçambique), de forma vitoriosa. Um dos sonhos de Cecil Rhodes era a saída dos portugueses da África Oriental e a consequente anexação de Moçambique para o domínio britânico e da sua BSAC. Em 1888 adquire, a baixo custo, a "de Beers Consolidated Mines Ltd." e, três anos mais tarde controlava, através desta empresa, noventa por cento do mercado mundial dos diamantes. Em 1890 é nomeado Primeiro-Ministro da Colónia do Cabo, cargo em que se manteve até 1896, altura em que é deposto, fruto indirecto dum fracasso que obteve numa expedição militar contra os bóeres, no ano anterior e também sob a acusação de misturar os interesses políticos com os seus interesses financeiros. Com o fim de afrontar os interesses bóeres, Cecil Rhodes ordenara uma expedição militarizada, que ficou conhecida por "Jameson Raid", ao Transvaal, um República independente liderada por Paul Kruger. No entanto esta expedição acabou mal para os interesses de Cecil Rhodes, sendo uma das razões da sua queda política. Em 1899 instala-se em Kimberley, no decurso da primeira guerra anglo-bóer. Morre aos 49 anos de idade, na Cidade do Cabo calculando-se que, ao longo da sua vida africana, tenha obtido, para o domínio territorial britânico, mais de um  milhão de quilómetros quadrados. Ficou sepulto na Rodésia.

British South Africa Company (BSAC) - Era a companhia majestática criada por Cecil Rhodes, a partir duma outra - a Chartered - e que recebeu alvará da Rainha de Inglaterra em 25 de Outubro de 1889. Munido da autorização real para explorar e colonizar uma vastíssima área que era, muito vagamente, defenida entre o Norte da Bechuanalândia e o Niassa, Cecil Rhodes levará a sua empresa a expandir-se por territórios desconhecidos dos brancos. A BSAC, guarda avançada do colonialismo britânico e com alvará por 25 anos irá dar, posteriormente e na sequência do desmantelamento da mesma, origem às colónias da Rodésia do Norte (actual Zâmbia), Rodésia do Sul (actual Zimbabwé) e Niassalândia (actual Malawi).  

"Jameson Raid" - Nome com que ficou conhecida uma incursão armada, sob inspiração de Cecil Rhodes, na altura Primeiro-Ministro da Colónia do Cabo, que pretendia anexar para a BSAC os ricos campos auríferos descobertos em terras transvalianas e sob domínio bóer. Justificando-se com o descontentamento que os "uitlanders" manifestavam face às dificuldades que os bóeres lhes levantavam permanentemente, enviou 500 homens da BSAC, liderados pelo seu homem de confiança e braço direito Leandar Jameson. Este atravessou, a 30 de Dezembro de 1895, a fronteira do Transvaal em Pitsano, no Protectorado da Bechuanalândia mas, a 02 de Janeiro de 1896, viu-se cercado na vila de Doornkop, acabando por ter de se render. Face à intervenção do Governo de Londres, que não manifestou apoio a Cecil  Rhodes, e também à prisão de Leandar Jameson, os uitlanders revoltosos em Johannesburg acabaram também por se render. Julgados os responsáveis por esta sublevação, quatro deles foram sentenciados à morte, acabando a sentença por ter sido comutada em multa de 25.000 libras a cada um dos sentenciados à morte e, aos restantes, a penas de prisão transformadas em multas de 2.000 libras cada um. Outra consequência desta incursão, mas política, foi a demissão compulsiva de Cecil Rhodes do seu cargo governativo, no Cabo.

Uitlanders - Nome que se referia a toda a casta de exploradores mineiros, que não eram bóeres e que se instalaram no Transvaal, na prospecção de ouro depois de descobertas, a partir de 1886, as ricas jazidas auríferas aí existentes. A palavra africânder "uitlander" (em inglês "outlander") significa "estrangeiro". Aventureiro sem lei nem moral, a maioria deles foram causa de inúmeros conflitos com as comunidades bóeres que, até aí, viviam na pacatez dos seus costumes ancestrais assentes numa sociedade patriarcal pilarada, essencialmente, na Bíblia e na agricultura. A existência duma numerosíssima comunidade de uitlanders em terras transvalianas, a maioria britânica, levou a que a Colónia do Cabo exigisse aos bóeres que aos mesmos fossem dados os mesmos direitos de voto eleitoral. O Presidente da República do Tansvaal, Paul Kruger, apercebendo-se dessa manobra, que não passava de um artefacto para que o território viesse a mudar de mãos, promulgou legislação, em 1890, na qual apenas concedia direito de voto aos uitlanders que aí residissem há a mais de 14 anos e tivessem, também, mais de 40 anos de idade.

Historiando Moçambique Colonial

Parte I - Descoberta de Moçambique:

O País europeu que colonizou Moçambique foi Portugal. Para entendermos a chegada dos portugueses ao território moçambicano importa recuarmos no tempo e analisarmos, um pouco, a história lusitana inserida no contexto europeu.
Portugal foi o primeiro Estado-Nação a formar-se na Europa e a sua pequena extensão territorial, aliada à sua posição atlântica levou-o, desde cedo, a olhar o mar como válvula de escape da pressão continental acabando, quase que o poderíamos dizer, por "tratar o mar por tu".
A proximidade do continente africano; a rivalidade religiosa (os europeus eram cristãos e os norte-africanos eram muçulmanos); a impossibilidade de novas conquistas pela Europa adentro (entalado entre o Oceano Atlântico e os reinos cristão de Castela e muçulmano de Granada, acabando este último por ser conquistado pela Coroa de Castela em 1492); o apetite aventureiro da nobreza portuguesa ansiosa por novos feitos guerreiros que lhes granjeasse riqueza patrimonial e prestígio militar; a avidez comercial por lucros rápidos, por parte da nova e florescente burguesia nascida da revolução popular de 1383/85; as histórias fabulosas - verídicas umas outras não - de relatos de anteriores aventureiros ("O Milhão", de Marco Polo; "Viagens", de Jean d´Outremer, por exemplo); a crença dum poderoso Reino cristão algures em África (o lendário Reino do Prestes João, fraudulentemente criado); a crónica falta do ouro nos cofres do Estado e a fuga da pobreza e duma vida sem grandes perspectivas para uns e o espírito aventureiro para outros levaram, os portugueses, a iniciarem navegações marítimas e conquistas de cidades costeiras africanas as quais, qual bola de neve a rolar pela montanha abaixo, culminaram com a descoberta do caminho marítimo para a Índia.
Por outro lado a Europa era o porto terminal de duas carreiras comerciais de longo curso: o ouro de África e as especiarias do Oriente que, na sua recta final, eram monopolizadas pelas cidades-estado da península itálica, cabendo a parte de leão a Génova e Veneza as quais, impondo os seus preços de intermediários enriqueciam, de sobremaneira, os seus cofres.
É, assim, o factor económico a principal mola real da partida lusitana.  
A África ia-se buscar o ouro à costa da Guiné (donde terá derivado o nome da moeda "guinéu"), bastante procurado para cunhagem de moeda, pagamento de especiarias, desenvolvimento da arte decorativa em palácios e igrejas, entre outros. Inicialmente o ouro era comercializado nos portos do Norte de África, pelos genoveses, depois de ter sido transportado por longas e lentas caravanas cameleiras, através do deserto do Sahara (vindas de Tombuctu, por exemplo) mas, depois dos portugueses terem conquistado Ceuta (1415) e desencadeado outras guerras em Marrocos, o comércio pacífico do ouro praticamente desapareceu, o que levou estes a pesquisarem as rotas marítimas que lhes permitissem chegar à origem do dito ouro contornando, assim, a costa acidental africana.  
Para além do ouro, os portugueses redimensionaram outras fontes de riqueza, tais como a pimenta africana e a escravatura. Se a pimenta africana vem, posteriormente, a ser abandonada em detrimento da pimenta asiática, o tráfico negreiro nunca desapareceu, vindo até a ser um negócio altamente rentável.
Só depois com a dobragem do cabo Bojador (1434) e a intensificação do comércio do açúcar nos arquipélagos da Madeira e dos Açores, é que os portugueses começaram lentamente a amadurecer a ideia de chegarem à Índia por mar a fim de, monopolizando essa estrada aquática, quebrarem a hegemonia comercial das cidades-estados de Génova e Veneza.
Ao Oriente iam-se buscar múltiplas riquezas para uma Europa insaciável, que pagava bom preço pelas mesmas, tais como jóias, ouro, sedas, tapeçarias e diversas especiarias.
Assim, a saída dos europeus, em geral, e dos portugueses, em particular, para fora das suas fronteiras, não teve em vista a colocação de produtos seus ou de trocas comerciais mas a de irem buscar matérias-primas que lhes eram carentes e apetecíveis.
Ao dominarem a cartografia da costa africana e ao chegarem à Índia, os portugueses não só cortaram os tradicionais e ancilosados laços económicos que ligavam as periferias dos diversos continentes e se assenhorearam dos produtos em que a Europa se viciava como também, e talvez o mais importante, rasgaram novas fronteiras, aproximaram culturas, desbravaram mentalidades, revolucionaram diversos ramos das ciências e criaram outras, alteraram todo um ecosistema à escala planetária e redimensionaram o conceito do Homem Universal.
O  modo como o conseguiram poderá ser criticável, os fins a que se propuseram poderão e deverão ser discutíveis mas, o mérito de terem mudado a face do Mundo, esse, não se lhes pode ser negado.
Não cabe aqui o estudo dos descobrimentos marítimos portugueses, servindo apenas este ligeiro aflorar da mesma para melhor se entender a chegada dos portugueses ao actual Moçambique.
Em Janeiro de 1488 uma armada portuguesa, capitaneada por Bartolomeu Dias, dobra o cabo da Boa Esperança (África do Sul) entrando, de seguida, na costa oriental africana pela primeira vez e com o rumo apontado para Norte. No entanto o navegador, subindo até à Angra de São Braz (actual Dias Bay), não avançou mais e retornou a Lisboa, voltando as costas à glória de ser o descobridor total do caminho marítimo para a Índia. Apesar de tudo não se lhe pode negar o mérito de ter aberto as portas, em definitivo, para que esse mesmo caminho acabasse por ter sido desbravado na viagem seguinte, que a Coroa Portuguesa aparelhou, entregando o comando da armada a Vasco da Gama. Sensivelmente nove anos depois da saída de Bartolomeu Dias, de Lisboa, na sua viagem frustada de chegar à Índia, nova armada portuguesa voltou a sair da barra de Lisboa, com a mesma missão.
Era capitaneada por Vasco da Gama, tendo saído de Lisboa a 08 de Julho de 1497. Atinge o cabo da Boa Esperança a 18 de Novembro de 1497, aproando daí para Norte, já na costa oriental africana. Estavam no Oceano Índico. A 07 de Dezembro atinge a Angra de São Braz, ponto terminal da viagem de Bartolomeu Dias e, daí em diante, os portugueses navegavam em mares desconhecidos. A 25 do mesmo mês tocam em terra e nomeiam-na de Natal, em memória do dia que atravessavam. Finalmente, a 11 de Janeiro de 1498, os portugueses aportam em solo moçambicano (na actual geografia), na área de Inhambane (ou Inharrime, existem dúvidas) que baptizam como Terra da Boa Gente, devido ao acolhimento cordial que tiveram das populações locais. A 24 deste mesmo mês aportam na zona da actual Quelimane onde, pela primeira vez, contactam com povos islamizados (nas Terras da Boa Gente as populações eram animistas), sendo também pacíficos estes contactos. Ao rio que aí encontraram apelidaram-no de rio dos Bons Sinais, precisamente por terem encontrado gente islamizada, o que era bom prenúncio. No dia 02 de Março de 1498 a armada portuguesa chega à ilha de Moçambique, tomando contacto, pela primeira vez, com a navegação comercial asiática. De relacionamento irregular, a estadia dos portugueses que inicialmente foram tomados, pelas gentes locais, como islamizados durou até 29 de Março de 1498, altura em rumaram até Mombaça, onde chegaram a 07 de Abril de 1498 e daí para Melinde, onde aportaram a 14 do mesmo mês e, no arranque final desta portentosa viagem, atingem a costa indostânica em Calecute, no dia 02 de Maio de 1498.
Os portugueses, no morrer do século XV, tinham atingido os seus objectivos, iniciados 80 anos antes.
Esta viagem, que resumida aqui se descreveu, importa ao conhecimento da história colonial de Moçambique pois, como se referiu, uma armada portuguesa tocava, pela primeira vez, o actual solo moçambicano. 
Mas os portugueses desta armada capitaneada por Vasco da Gama não foram os primeiros europeus a atingirem Moçambique. Antes deles, um aventureiro solitário pisara solo moçambicano em busca de informes. Seu nome, Pêro da Covilhã.

(A continuar)

Uma personalidade para a Eternidade

Irena Sendler - (Varsóvia, 15/02/1910 - Varsóvia, 12/05/2008) - Foi uma mulher espantosa que viveu intensamente sobre o fio da navalha no decurso da II Guerra Mundial. Laborava como enfermeira, na sua Varsóvia natal, quando os nazis invadiram o seu País (1939). Após a criação do gueto de Varsóvia, Irena Sendler consegue um passe emitido pelos invasores, graças às suas habilitações profissionais, que lhe permitia entrar no referido gueto para, oficialmente, tratar de doenças infecciosas. Nas suas idas e vindas de e para o gueto consegue retirar do mesmo, às escondidas, 2.500 crianças judias, quer em ambulâncias como doentes do tifo, quer escondidas em cestos de roupa, em caixas de ferramenta e tudo o mais que a imaginação humana pudesse conceber. Registou os nomes de todas essas crianças, de que famílias provinham e as moradas das famílias que as acolhiam à socapa. Escondeu essas listas em frascos que enterrou. Descoberta a sua actividade humanitária, em Outubro de 1943, acaba presa pela Gestapo e interrogada sob tortura, a fim de revelar toda a rede que a apoiava nesta sua saga. Fracturaram-lhe os membros mas não a sua determinação. Nunca confessou, tendo aguentado estoicamente todas as humilhações, salvando deste modo as crianças. Condenada à morte, consegue escapar do pelotão de fuzilamento, quando um militar alemão, subornado por membros da comunidade judaica, lhe dá a fuga. Em liberdade adquire uma identidade falsa e continua a sua actividade humanitária. Em 1944, aquando da revolta do gueto, escondeu os frascos contendo os dados biográficos das crianças, apenas revelando a localização dos mesmos a pessoa de confiança. Após o findar do conflito entregou os frascos à Comissão de Salvação Judaica, tendo-se apurado que grande parte dos familiares das crianças tinham sido exterminados nos campos de concentração, pelo que estas foram sendo enviadas para a Palestina, no território onde nasceria Israel. Anos mais tarde, quando a sua heróica história veio a lume nos jornais, crianças salvas por ela, agora adultas, reconheceram o seu rosto nas fotografias que os jornais publicavam e contactaram-na. Em 1965 o Estado de Israel considerou-a "Justa entre as Nações" e outorgou-lhe a cidadania honorária. Condecorada com a Ordem da Águia Branca (2003), a mais alta distinção polaca, não chegou a ser laureada com o Prémio Nobel da Paz, que seria o corolário mais que justo para uma Mulher que, naqueles negros dias que eram mais escuros que as noites desenluaradas, nunca deixou apagar a luz da esperança. Foi (e será sempre) daquelas personalidades para a eternidade a nunca esquecer.

Leituras

"A história de Irena Sendler - a mãe das crianças do Holocausto", de Anna Mieszkowska (Editora Livros do Brasil, Carnaxide, 2001, 287 págs.), que relata a história desta extraordinária "multimãe".

A "M de Moçambique" é uma revista bimensal moçambicana, que me apraz ler. Habituados que estamos a que tudo o que vem de África é só fomes, guerras e destruição, sabe bem ler este oásis de paz noticioso virado, essencialmente, para as áreas do lazer, nomeadamente turismo, cultura e desporto. De edição bilingue (português e inglês) sem gralhas, com uma apresentação impecáve e, fotografias excelsas, transmite uma imagem muito positiva deste País irmão.

Filme

Chaimite, em Moçambique, era o local sagrado dos angunes, por aí se encontrar o cemitério real onde repousavam os restos mortais de Manicusse, fundador do Reino de Gaza. Foi também o último local de refúgio de Gungunhana, seu neto e último Rei deste potentado. A 28 de Dezembro de 1895, o Major Mouzinho de Albuquerque entrou no seu "kraal" e aí o prendeu. Gungunhana liderava, despoticamente, o Reino angune de Gaza e, apesar de se ter avassalado a Portugal, também balançava para os interesses britânicos representados por elementos da BSAC (acima referida). A fim de restaurar, no pleno, a sua soberania naquelas paragens a Sul de Moçambique, Portugal envidou esforços para enviar tropas devidamente comandadas, a batalhar as diversas rebeliões que se faziam sentir naquelas paragens e a estancar os interesses britânicos. Por iniciativa própria, o Major Mouzinho de Albuquerque, comandando uma força de 50 europeus, numa jogada arriscada do tudo ou nada, avançou para Chaimite e prendeu Gungunhana, levando-o a ferros para Lourenço Marques, o qual depois foi embarcado para Lisboa e, posteriormente, exilado para os Açores, onde virá a falecer. É sobre esta arrancada de Mouzinho de Albuquerque para Chaimite e prisão do líder africano que versa o filme "Chaimite" (1953, 157 minutos), realizado e argumentado por Jorge Brum do Canto, que se pode rever, aproveitando o facto de se atravessar, nesta semana, mais um aniversário desta saga. O filme, apesar de assentar em factos históricos irrefutáveis sofre, no entanto, do crivo da mentalidades da época em que foi realizado, no tempo da ditadura do Estado Novo, onde os valores pátrios eram sobrevalorizados e não se admitia outra concepção de que Portugal ia do Minho a Timor. Mas, mesmo assim, um filme a ver-se, desde que não nos deixemos envolver pela mensagem sub-reptícia que o mesmo enferma.

Há muitos anos (salvo erro no Quarteto) vi o filme "The rose" (1979, 125 minutos), inspirado na vida de Janis Joplin. Dirigido por Mark Rydell, coube a Bete Midler o papel principal que ganhou, com a sua representação, um Globo de Ouro.

Televisão

"Rhodes: the life and the legend of Cecil Rhodes" é uma série televisiva da BBC, em parceria com a CBC canadiana e a SABC sul-africana, que aborda a vida deste pantagruélico devorador de terras e gentes. Baseado na obra de Anthony Thomas "Rhodes - a corrida para África" e dirigido por David Drury, coube a Martin Shaw representar o papel de Cecil Rhodes. Dividido em seis episódios tem um total de 455 minutos.

Música

Janis Joplin (1943/1970) é, sem apelo nem agravo, uma das vozes que mais prazer me dá ouvir. Recordo-me que, quando iniciei a minha recruta em Boane (Moçambique), o meu primeiro pré estoirei-o todo (da miséria que me sobrou depois de descontar para a farda, para o cabrão do Cabo da Água que lavava as nossas roupas e mais não sei o quê) a comprar um "long-play" (LP) desta cantora inimitável de blues. Deu à justa e já não me recordo de quanto custou. Também já não tenho esse LP, perdido algures nas bolandas da minha vida. Hoje tenho dois "compact-disc" (CD) dela: "Kozmic blues", gravado em 1969 e "Pearl", gravado em 1970, este último publicado postumamente. São dois discos que guardo religiosamente. Texana de nascimento, foi no pico do  movimento "hippie" californiano que a sua voz rouca se impôs, rotulando-a de "branca com voz de negra". Também compositora, misturando os blues de Chicago com sonoridade do "rock", gravou o primeiro álbum "Cheap trills" em 1968. Não conseguindo conciliar o balanço da vida artística com a emocional, deixou-se arrastar pelos excessos, que a conduziram a uma morte prematura. Terá entrado no actualmente falado e restrito "Clube dos 27", relativo a músicos que faleceram aos 27 anos de idade: Jimmy Hendrix, Jim Morrinson e, mais recentemente, Amy Whinehouse. Mas a sua voz, rouca, sedutora, dolente, suplicante, o que quer que a cataloguem, trinará sempre em mim.

Exposição

Sob o tema "Obras sobre o papel", está patente ao público uma exposição com obras de Cargaleiro, Cruzeiro Seixas, Carlos Calvet, Júlio Resende e Júlio Pomar. Na Galeria Valbom (Avª Conde Valbom - Lisboa) até 29 de Janeiro próximo.

Positivo

O Governo português concluiu a primeira grande privatização do seu programa, com a venda de acções da EDP ao capital chinês. Não está aqui em causa a bondade ou não dessa acção, se devia ter aberto mão dum sector importante da estratégia nacional, enfim, tudo isso são considerandos de ordem política e económica que cada um optará por botar faladura. O positivo que atribuo é o facto de que, até ao momento e do que tenho lido, ninguém apontou qualquer tipo de irregularidades deste volumoso negócio. Nem as partes vencidas (alemã e brasileira). O que é obra, neste "jardim à beira-mar plantado". 

A eleição de Artur Santos Silva para a Presidência da Fundação Calouste Gulbenkien. Esta Fundação é, na minha opinião, o nosso verdadeiro Ministério da Cultura (sem desprestígio para outras) e não é qualquer gato-pingado que assume este cargo. Tendo lido um trabalho sobre a personalidade do mesmo (Visão nº 982) para além doutras referências que de tempos a tempos ia lendo sobre ele, a minha costela de "portuguesinho invejoso e maledicente" veio ao de cima e descobri-lhe um pecado: é simpatizante e sofredor do FCP. Bolas, não há bela sem senão. A cereja no topo do bolo seria era ser sportinguista. Mas está bem, percebe-se: afinal ele está habituado a, por norma, ganhar.

Negativo

No decurso da operação "Festas Seguras 2011" a PSP deteve 808 pessoas, a maioria das quais por condução sob o efeito do álcool (DN). Não são as detenções o negativo. Negativo é haver tanto potencial assassino à solta.


"Em cada 11 edifícios lisboetas, um está devoluto (no total 4.689 em 52.495)" (Visão nº 982). Lembrei-me dum grafiti anarca que aparece nas paredes: "tanta gente sem casa e tanta casa sem gente".
"Temos de controlar bem os gajos que escrevem." - Armando Vara escutado ao telefone, revelado  no caso "Face Oculta" (Sábado nº 400).


Quando, há uns anos atrás, andei a ler diversos livros de História sobre as duas guerras anglo-bóeres, ocorridas no último quartel do século XIX no território da actual África do Sul, recordo-me de ter lido um livro intitulado "A guerra na África do Sul - suas causas e seguimento", de Arthur Conan Doyle (o pai de Sherlock Holmes) e onde prestou serviço como médico e que caracterizava os bóeres como "homens de mentalidade do século XVII empunhando armas do século XIX". Lembrei-me desta citação a propósito duma notícia que li sobre "O calvário de Sakineh" (Visão nº 982) que nos informa que uma mulher iraniana - Sakineh Mohammadi Ashtiani - foi condenada à morte por ter cometido crime de adultério. Depois de ter sido punida com 99 chicotadas que já lhe foram aplicadas, o cumprimento da sentença de morte seria por lapidação mas, como houve protestos internacionais, as autoridades iranianas estão a ponderar liquidá-la por enforcamento. Altero um pouco a frase de Conan Doyle: eles (o poder iraniano) são homens de mentalidade medieval empunhando poder atómico do século XXI. A quem (eventualmente) me estiver a ler perdoe-me o meu desabafo: a puta que os pariu.

Recomendo

Uma visita ao Aquário Vasco da Gama, no Dafundo. Felizmente que o Oceanário de Lisboa não o liquidou como, na altura do nascimento deste gigante marinho, se chegou a recear.  

Associação

O "Grupo dos Amigos do Museu de Marinha" (GAMMA) é uma associação ligada ao Museu de Marinha, com sede em Lisboa e que, ao longo dos anos, tem desenvolvido diversas actividades ligadas à temática náutica, com regularidade. E porque a Marinha faz, indubitavelmente, parte do nosso património histórico. Não é por acaso que a nossa Marinha escolheu, para seu dia de comemoração, a data da partida de Vasco da Gama de Lisboa rumo à Índia.

Perguntar não ofende

Uma família portuguesa recebeu ordem de expulsão das autoridades canadianas, por se encontrar ilegal naquele País há uma década. Leio, ainda, que já em 2001 a família, emigrada dos Açores, tinha solicitado o estatuto de refugiado, a fim de tentar obter a sua legalização (DN Globo). Será que li bem: estatuto de refugiado? Refugiados de quê? Ou são estúpidos ou foram mal aconselhados.

Um incêndio deflagrou (pela terceira vez) num prédio devoluto, na Avª Elias Garcia, em Lisboa (Expresso). Por correr risco de derrocada a edilidade tinha encerrado a rua ao trânsito, há um ano. Há um ano? E não fizeram nada entretanto? Andam a dormir estes nossos autarcas? Até quando se resolvem a emparedar o edifício ou mesmo demoli-lo e apresentar a conta ao proprietário? E que tal começarem a justificar o que ganham?

Aconteceu

A "Strauss Festival Orchestra" actuou, para nosso deleite, no Teatro Tivoli (Lisboa). Valeu a pena.

Está a acontecer

Eusébio, o lendário Pantera Negra, encontra-se em fase de recuperação satisfatória duma pneumonia bilateral. Uma bela prenda de Natal, para todos nós, esta notícia.

Vai acontecer

A Fundação Oriente Museu vai abrir concurso para atribuição de bolsas de estudo para doutoramento e investigação em áreas que relacionem com Portugal e o Oriente. O concurso estará aberto entre 02 e 31 de Janeiro próximos e os interessados poderão obter mais informações em: www.foriente.pt

Partiram

Johannes Heesters (1903/2011), actor de cinema e de televisão e cantor, de nacionalidade holandesa. Aos 107 anos ainda representou o papel de São Pedro, sendo também nesta idade que deixou de fumar. Era considerado o actor mais velho do mundo (Sábado nº 400).


Giorgio Boca, jornalista italiano, findador do "La Republica".


Eurico Corvacho, Capitão que foi de Abril.

Memória da semana

26/12/1893 - Nascimento, em Shaoshan (China), de Mao-Tsé-Tung. Um dos líderes mais violentos do século XX, liderou a facção comunista do seu País e proclamou o nascimento da República Popular da China. O seu pensamento político está na génese da corrente do maoísmo, ainda hoje com alguns seguidores.
26/12/1937 - Nascimento, no Porto, de Alberto Pimenta. Poeta, escritor e ensaísta.

27/12/1571 - Nascimento do astrónomo e matemático Johannes Kepler. Elaborou um conjunto de postulados que descreviam o movimento dos planetas.
27/12/1703 - Assinatura do Tratado de Methuen entre Portugal e a Inglaterra, também conhecido por Tratado dos Panos e dos Vinhos. Portugal adquiria à Inglaterra têxteis e esta permutava com aquisição de vinho do Porto. O nome do tratado ter-se-á devido ao apelido do representante inglês, o embaixador John Methuen.  A representação portuguesa era liderada por D.Manuel Teles da Silva.
27/12/1831 - O navio britânico HMS Beagle deixa o porto de Plymouth, levando a bordo o naturalista Charles Darwin. Será no decurso desta viagem, que durou cinco anos, que Darwin colherá elementos decisivos para, posteriormente, compilar o controverso livro "A origem das espécies".

28/12/1895 - Mouzinho de Albuquerque prende Gungunhana (ver item "filmes").
28/12/1989 - Vaclav Havel assume a Presidência da Checoslováquia.
28/12/1989 - Alexander Dubecek, pai do "socialismo com  rosto humano" e arquitecto da malograda "Primavera de Praga" assume a Presidência do Parlamento checoslovaco.
28/12/1999 - Portugal e a Indonésia reatam relações diplomáticas, suspensas desde a invasão de Timor.

29/12/1864 - Sai a público o primeiro número do Diário de Notícias, qual ainda hoje se mantém em circulação.
29/12/1895 - Desencadeia-se o "Jameson raid" (ver item "aventureiros, viajantes e exploradores").
29/12/1911 - Nasce, em Vila Franca de Xira, Alves Redol. Escritor neo-realista de máxima envergadura no panorama literário português.

30/12/1865 - Nasce, em Bombaim, Rudyard Kipling. Romancista e poeta britânico e vencedor do Prémio Nobel da Literatura (1907).
30/12/1922 - Criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, resultante da federação de várias repúblicas autónomas (Russa, Transcaucasiana, Ucrânia e Bielorússia).

31/12/1917 - Nascimento, em Leiria, de António José Saraiva. Docente e historiador da literatura portuguesa.
31/12/1911 - A cientista polaca Marie Sklodowsja-Curie é galardoada com o Prémio Nobel da Química.

Foi dito

"Nada na vida deve ser temido. Deve ser compreendido somente." - Marie Sklodowska-Curie, Prémio Nobel da Física (1903) e da Química (1911).

Foi escrito

"O autor da História não deve ser inimigo mas escrivão da verdade." - Fernão Lopes, cronista-mor do Reino. (Fonte: Frases que fizeram história de Portugal - Ferreira Fernandes/João Ferreira - Esfera dos Livros).  


"Sou pela economia de mercado, mas não por sociedades de mercado" - Mário Soares, num artigo de opinião titulado "Vender as Jóias da Coroa" (Visão nº 982).

Foi humorizado

"Eu nunca toco de ouvido." - Ironia alusiva à surdez que o compositor Ludwig van Beethoven começou a sofrer cerca de 1796 até ter ficado praticamente surdo. (Fonte: Epitáfios apócrifos - Hilário Antas - Ulmeiro) 

Nota: Todas as referências a instituições, marcas ou firmas ou quaisquer outras são incompatíveis com intuitos publicitários. A sua menção reflete apenas, e tão-somente, a minha opinião.

domingo, 25 de dezembro de 2011

James August Grant

Aventureiros, viajantes e exploradores
  
James August Grant* - (Naim (Escócia), 11/04/1827 - Naim, 11/02/1892) - Oficial do Exército Britânico e explorador. Em 1846 integra os quadros do Exército Britânico, na Índia, e combate a sublevação sikh (1848/1949), bem como participa noutras operações posteriores a debelarem outras revoltas indianas. Em 1858 retorna à Grã-Bretanha e, dois anos mais tarde, trava conhecimento com John Specke**. Colaborará lealmente com este explorador na segunda viagem que este faz ao lago Vitória, a fim de se certificar e reconfirmar a localização das nascentes do rio Nilo. Em 1864 publica o livro "Viagem por África", onde relata a sua experiência desta aventura. Participou, ainda, na guerra etíope de 1868, nos serviços de inteligência, após o que se reformou. Em sua homenagem foi dado o seu nome a uma gazela africana, a "gazela Grant".
Mackenzie, Charles Frederik Frazier*** - (Portmore (Escócia), 1825 - Niassalândia, 31/01/1862) - Bispo anglicano. Tendo entrado para a faculdade de Saint John, em Cambridge (1834) completou os estudos superiores em 1848. Sete anos mais tarde é colocado como arquidiácono do Bispo Colenso, na Natal (actual África do Sul), tendo trabalhado para o colonato britânico até 1859. Neste ano assume a liderança da Missão das Universidades para a África Central, sendo consagrado Bispo na Catedral de Saint George, na Cidade do Cabo (01/01/1861). Por sugestão e intersecção de David Livingstone**** é nomeado Bispo missionário do Niassalândia (actual Malawi), tornando-se no seu primeiro Bispo. Face a esta nomeação dirige-se para a sua área de apostolado, navegando pelos rios Zambeze e Chire e estabelecendo-se na aldeia de Chibisa, com a finalidade de instalar uma missão em Magomero, a sul do Niassalândia, localidade esta que foi a primeira capital colonial britânica da África Central e Niassalândia. Opõe-se tenazmente ao tráfico negreiro e entra em conflito com os jáuas que, conluiados com mercadores arabizados e colonos europeus, floresciam neste negócio. Missionando junto do povo maganja, em Janeiro de 1862, o barco em que se deslocava a buscar mantimentos e outros bens essenciais afunda-se, perdendo-se toda a carga. Adoecendo com malária e não tendo com que se tratar, face à perca de mantimentos e medicamentos no naufrágio fluvial, acaba por falecer por falta de tratamento adequado.
Gazela Grant - É um herbívoro ungulado, da Ordem dos Artiodáctilos e da Família dos Bovídeos, possuindo o pêlo uma tonalidade alaranjada e barriga branca, com chifres em forma de lira. Pesando cerca de 50 quilos e com uma altura que não ultrapassa um metro até às espáduas, vive na África Oriental. O seu nome foi dado em honra ao explorador James August Gran (acima referido).
"Scramble for Africa"***** - Expressão inglesa que, traduzida literalmente, significa "Luta por África" querendo, com isto, significar as lutas que as potências europeias travaram entre si, quer por via diplomática, militar ou económica, anexando para a sua esfera de influência vastas regiões africanas. Com o eclodir das independências das colónias do continente americano, ocorridas em finais do século XVIII e princípios do século XIX, as potências europeias iniciam uma corrida ao desconhecido e, até aí abandonado, continente africano, cujo litoral estava devidamente explorado e cartografado a partir do século XV, com a iniciática epopeia dos descobrimentos portugueses e, logo a seguir, por outros países europeus. África apenas servia, essencialmente, como motor económico, para fornecer mão-de-obra escrava para as plantações coloniais americanas e portos para varagem e aguamento dos navios, pelo que a sua costa estava bem pontilhada de feitorias e localidades onde os europeus se tinham instalado, na costa ocidental em pleno e na costa oriental em co-habitação com os swahilis, árabes e indianos, ancestrais senhores daquelas águas.Os primeiros europeus a aventurarem-se pelo interior africano foram os portugueses, mas nunca obedecendo a um plano sistematizado e devidamente organizado. Era uma exploração individual, ao sabor das apetências económicas e aventureiras e nunca o interesse colectivo. No virar do século XIX as potências europeias viram-se para África, a fim de recuperarem as vastas áreas que tinham perdido no continente americano, pelo que entre elas ir-se-á desenrolar, ao longo deste século e até à primeira trintena do século XX (após o findar da Primeira Guerra Mundial) uma luta por posse de territórios e povos. Será a razão das Conferências de Bruxelas e de Berlim (a partilha de África), será a razão da luta pelo fim da escravatura (liderada pela Grã-Bretanha), será o nascimento dum novo conceito do Direito Colonial, será a definição de novos territórios geograficamente baseados nas suas esferas de influência de cada potência, limites territoriais esses traçados a régua e esquadro sem nunca terem tido em conta os povos que aí habitavam; enfim, será toda uma África que renascerá do milenar torpor a que tinha sido votada. O legado do "scramble for Africa" foi o que moldou a estrutura geo-política do continente, que ainda hoje se mantém mais ou menos inalterável.
* - Referido na biografia de John Hanning Specke (14/12/2011)
** - Já biografado anteriormente (14/12/2011)
*** - Referido na biografia de James Chuma (18/12/2011)
**** - Já biografado anteriormente (30/11/2011)
***** - Referido na anotação das Montanhas da Lua (14/12/2011)

Leituras 
Hoje reporto-me a um livro de banda desenhada que aborda a viagem de Henry Morton Stanley* pelo rio Congo e as tentativas primárias da descoberta das nascentes do rio Nilo. Englobado na série "A descoberta do Mundo", é o 18º livro desta série, editado pelas Publicações Dom Quixote (Lisboa, 1984). Contém duas histórias: "Stanley, um repórter em África", com desenho de José Bielsa e texto de Mino Milano e "Nas nascentes do Nilo", com desenho de Carlos Marcello e texto de André Bérélowitch. 
* - Já biografado anteriormente (24/11/2011 e 08/12/2011)
E porque estamos na banda desenhada, outro livro interesssante: os "Lusíadas" de Luís de Camões que, sob o lápis de José  Ruy, foi publicado sob a égide da Âncora Editora (Lisboa, 2009, 136 págs.). Porque a banda desenhada também é uma forma de arte.
Exposição 
"Presépios de todo o Mundo", da colecção de Canha e Silva. No Convento das Grilas, ao Beato (Núcleo Museológico da Manutenção Militar), em Lisboa. Até 06 de Janeiro próximo.
Filme
John Rabe (1882/1950) foi um alemão crente no ideal nazi e simpatizante aberto de Adolfo Hitler. Em 1937, estando a chefiar a delegação da Siemens, desde 1910 em Nanquim, na China, perante o avanço das tropas invasoras japonesas neste território, usou da sua influência política para evitar que a população chinesa fosse massacrada pelas forças japonesas, forças estas que eram aliadas da Alemanha hitleriana. Conseguiu, com a ajuda doutras delegações estrangeiras, criar uma zona neutra, onde albergou cerca de 200.000 chineses civis. No ano seguinte (1938) já regressado à Alemanha denunciou o massacre de Nanquim, junto das altas instâncias alemãs e mesmo junto de Hitler, em quem ainda acreditava, mas acabou detido pela Gestapo, por essas denúncias serem incómodas e contrárias aos interesses do regime nazi, aliado dos japoneses. Solto, por interferência da Siemens, foi-lhe imposto o silêncio. Após o findar da II Guerra Mundial foi preso pelos Aliados devido ao seu passado nazi mas, atendendos ao seus esforços para minimizar os efeitos desvastadores do massacre de Nanquim, foi liberto em 1946. Existe, nesta cidade chinesa, um memorial dedicado à sua firme e tenaz actuação. "John Rabe, o negociador", realizado por Florian Gellenberger (2009, 134 minutos) e tendo como protagonista principal o actor Ulrich Tukur é o filme que reconstitui a actuação de John Rabe em Nanquim, naqueles violentos dias de 1937.
Televisão 
Na RTP Memória assisti a uma entrevista que Eunice Munoz concedeu no programa "Há conversa" (23/12/2011 - 19H-20H00). Durante uma hora esta grande Senhora do Teatro recordou as suas memórias, dobrados os setenta anos de carreira, com uma humildade não fingida que tocou a grandeza que ela é. Pena tenho que grandes cagões da nossa lusa Pátria não aprendam com esta Senhora que, teatro... é só no palco, enquanto nobre arte de representação. Fora dele regressa a naturalidade do nosso dia a dia. Mas não... eles não aprendem. Fazem sempre teatro a toda a hora. E se então vêem uma câmara de televisão nas redondezas...


Dois apresentadores de televisão holandeses auto-canibalizaram-se perante as câmaras, comendo carne um do outro, previamente retirada por cirurgia. Face aos protestos, o canal de televisão onde tal programa foi transmitido - o BBN - veio a público dizer que tudo aquilo era mentira e que a carne manjada não era humana. Já  em 2007 o mesmo canal incendiara a opinião pública com um programa em que os concorrentes disputavam os rins dum doente terminal, vindo depois a terreiro informar que tudo fora uma farsa (Google Notícias). Por curiosidade: não se podiam tirar os rins aos concorrentes do programa de 2007 e obrigar estes apresentadores a comê-los?


Positivo
Parabéns ao fotógrafo Nuno Sá. Venceu o Epson World Shootout Underwater Photo Grand Prix 2011, o maior concurso mundial de fotografia subaquática, com uma foto tirada a um tubarão azul ao largo da ilha do Faial, nos Açores (Focus nº 636).
A revista Budget Travel, especializada em viagens, escolheu os Açores como o melhor local para se visitar no próximo ano. É bom ler isto. E porque, na realidade, este arquipélago é um espectáculo (Focus nº 636).
O sobreiro foi considerado, pelo nosso Parlamento, Árvore Nacional.
Portugal apetece
Um passeio à aldeia de Piódão, sita no concelho de Arganil, no centro do País. Rotulada, merecidamente, de "Aldeia Histórica de Portugal" estende-se em anfiteatro pela serra do Açor, nas suas casas de xisto e lousa. Vivendo da agricultura (ainda há quem  resista, caramba) e do turismo (de qualidade), possui flora endémica. Obrigatório visitar o Núcleo Museológico e a Igreja Matriz (século XVII). E façam o favor de adquirirem nas lojas locais produtos artesanais e alimentares, típicos da região.   
Imbecilidades
A transformação do Natal numa pura orgia de gastos financeiros supérfluos (depois lamuriem-se em Janeiro).
A transformação, via publicidade, da imagem do Pai Natal, que de um velhote simpático que percorre o Mundo a ofertar prendas aos meninos, vira em gatuno, em engatatão, em guloso, em publicitador desta ou daquela marca ou deste ou daquele estabelecimento ou em qualquer outra coisa menos no que devia de ser. Só falta fazê-lo pedófilo (lá chegará o tempo).
A invenção das "Mãe-Natal", todas jovems, podres de boas e com o coxame à vista, envergando umas curtas peças de roupa vermelhas (ui,ui, que tesão).
A oferta de armas de brinquedos a crianças, num tempo que devia de  ser de Paz (façam o favor de ler o poema "Natal", de António Gedeão).
Enfim, viva o consumismo desenfreado. A bem do capitalismo desregrado.
Perguntar não ofende
Pedro Passos Coelho foi a Luanda, num voo da TAAG (a transportadora aérea angolana) e, com a pressa de sair do avião, deixou para trás o seu "iPad", que não chegou a ser recuperado (Focus nº 636). Num voo da TAAG? A TAAG não era (e é) a companhia aérea que estava na lista negra da União Europeia (UE) e, por isso mesmo, interdita de voar nos céus europeus, sendo apenas autorizada a voar de e para Portugal? Também nunca percebi esta interdição: não podia voar no espaço europeu porque havia riscos de queda por deficiência de manutenção das suas aeronaves, mas já não havia esses riscos se voasse nos céus portugueses. Não foi um avião da TAAG que deixou cair peças, uma vez, sobre Almada, quando levantou voo da Portela? Bom, até  admito que esta companhia aérea já recuperou os padrões de segurança europeus. Mas... não temos uma TAP, considerada uma das companhias aéreas mais seguras do Mundo? O Primeiro-Ministro português não podia voar numa companhia aérea portuguesa? Para que serve o slogan "compre português"? Ou será que estamos tão esfomeados de dinheiro que, para engraxarmos os angolanos, até voamos na TAAG?
E já agora (isto já são tantas perguntas, caramba) esqueceu-se do "iPad"? Mas podemos dormir descansados: só tinha notícias e jogos, segundo dizem (e o meu pai é chinês). Então, ninguém do seu secretariado cuidou de ver o que deixava para trás? Andavam todos a dormir ou estava tudo com pressa de ir mamar uma mariscada no Mussulo?
E já agora, que falamos de voos, Pedro Aguiar Branco foi à Mauritânea, a uma reunião dos "5+5", num Falcon da nossa FAP. Não podia ir num voo comercial? A Mauritânea não é muito longe, bolas. Se foi para dar estilo ou ser mais rápido... fornicou-se. O Falcon avariou e teve que ir outro de Lisboa a buscá-lo, com equipas de reparação a bordo. Saiu-nos bem cara esta estileira do Ministro da Defesa.

Aconteceu
O "Guiness Book" englobou Fidel Castro no seu livro de recordes, por ser o político que mais atentados sofreu contra a sua vida. Nada mais nada menos que um total de 638 atentados (Focus nº 636). Safa. E escapou a todos. Das duas uma: ou os assassinos eram todos uns aselhas ou então aquele menino tem a protecção da Virgem Maria. Que Diabo, se o queriam liquidar chamavam a Mossad. E ainda dizem que ele tem cancro. Cá para mim o cancro é que sofre de Fidel Castro.  
Está a acontecer
Portugal é o País com menor mortalidade infantil, no Mundo (DN). Uma excelente notícia, que terá passado despercebida nos noticiários, onde só se fala de crise, crise e mais crise. Raios partam estes abutres da informação, que só se ejaculam com as teorias da catástrofe, sensacionalizando apenas os aspectos negativos dum País.      
O "Cirque du Soleil" está aí de volta. Felizmente. Um espectáculo circense fabuloso a não perder. Até 08 de Janeiro, no Pavilhão Atlântico (Lisboa).
Vai acontecer
A reabertura do "Hot Club Portugal", literalmente renascido das cinzas. Com programação regular a partir de Janeiro, o jazz volta à cidade.
Partiram
Cesária Évora, a diva cabo-verdiana que ajudou a colocar o seu País nos principais palcos do mundo da música. Nestas alturas torna-se recorrente dizer-se que "morreu uma artista fenomenal"; "uma perca para a cultura irreparável"; "a música fica mais pobre", etc. e tal.  Eu não. Por mim, rendo-lhe sentida homenagem ouvindo, entre outras, "sodade, sodade". Obrigado, Cesária, por me teres dado a felicidade de auricular a tua voz. Um dia, quando eu partir, procurarei ver-te num concerto teu, numa qualquer galáxia. E será fácil encontrar-te. Serás uma das estrelas mais brilhantes.
Vaclav Havel, político, dramaturgo e escritor checo. Combateu, com a caneta, a ditadura instalada no seu País, então Checoslováquia. Prenderam-lhe o físico, mas não o espírito. Após a instalação da democracia assumiu a Presidência do seu País, que ficou marcada pelo desmembramento do mesmo, nascendo as Repúblicas Checa e Eslovaca. Mentor da "Revolução de Veludo" conseguiu conduzir, de forma pacífica, a transição dum regime comunista, de economia fechada, para um regime de democracia parlamentar, de mercado aberto. Um Homem cujo exemplo deve ser não só recordado mas, também, seguido.   
Kim Jong-Il, político, líder da Coreia do Norte. Não vou ser hipócrita e dizer que a morte dum ser humano, seja ele quem for, não deva ser celebrada. Não. A morte deste humanóide alegrou-me. E até digo mais: nem devia ter nascido. Durou demais, o maldito.
Memória da semana
19/12/1901 - Nasce, na Praia da Vitória, Vitorino Nemésio. Poeta, ensaísta e escritor, o seu romance mais conhecido do público é "Mau tempo no canal". Recordo-me de o ver na televisão, no programa "Se bem me lembro".
19/12/1924 - Nasce, em Lisboa, Alexandre O´Neill. Poeta, ligado ao movimento surrealista, foi um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa.
19/12/1984 - A Grã-Bretanha e a China subscrevem um acordo onde se fixa a data de transferência de Hong-Kong para este último País, a partir de 01 de Julho de 1997.
20/12/1960 - Nasce, no Porto, Pedro Abrunhosa, um dos  mais importantes músicos (compositor, letrista e cantor) do actual panorama musical português.
20/12/1999 - Cessa a administração portuguesa no território de Macau, que retorna à soberania chinesa, ficando com a estatuto de Região Administrativa Especial.
21/12/1878 - Nasce, em Gori, Josef Estaline (data presumível, há quem atribua a data de 18/12/1879). Sucessor de Vladimir Illich Lenine no leme da União Soviética, exerceu despoticamente o seu consulado entre 1922 e 1953.
21/12/1939 - Nasce, em Lisboa, Carlos do Carmo. Intérprete e embaixador do fado, é titular dum invejável conjunto de álbuns por si cantados. "Um homem na cidade" é, por muitos, considerado um dos mais importantes monumentos musicais e responsável pelo relançamento e redescoberta do fado.
21/12/1968 - A nave "Apollo 8" é lançada rumo à Lua, tendo-a orbitado no dia de Natal. Era tripulada por Frank Borman, James Lovell e Williams Anders.
21/12/1975 - O venezuelano Illich Ramirez Sanchez lidera um comando que sequestra onze ministros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), em Viena de Áustria, que resulta na morte de três pessoas. É mais conhecido mundialmente por Carlos, o "Chacal", presentemente preso em França, a cumprir pena perpétua.  
21/12/1988 - Atentado, por explosão, num avião Boieng 747 da companhia Pan American (voo 103), que sobrevoava Lockerbie, na Escócia, matando um total de 270 pessoas. O atentado foi planeado por entidades ligadas ao governo líbio, liderado por Muhamar Kadhafi.
22/12/1834 - Promulgada a Lei da Liberdade de Imprensa, em Portugal, respeitando as normas da Carta Constitucional, abolindo a Censura Prévia mas restringindo os abusos sobre as Religião Católica Apostólica Romana, o Estado ou qualquer cidadão e os bons costumes.
22/12/1938 - A sul-africana Marjorie Courteney-Latimer (1907-2004), curadora do East London Museum, da África do Sul, descobre nas docas um peixe que tinha sido pescado e que vem a revelar-se tratar-se do celecanto, um peixe com milhões de anos de existência e que se julgava extinto. 
23/12/1888 - O pintor holandês Vincent van Gogh, num estado depressivo corta uma parte da sua orelha esquerda, após o que a embrulha e oferece a mesma a uma prostituta sua amiga. Acaba levado pela Polícia para o hospital de Arles, onde fica internado duas semanas. No regresso a casa pinta o quadro "Auto-retrato com orelha cortada".
24/12/1524 - Morre, às portas de Cochim, Vasco da Gama. Entrou na História pela porta grande, ao ter comandado a primeira armada que descobriu o caminho marítimo para a Índia, contornando o continente africano. Mudou a correlação das forças económicas do Mundo, que não voltou mais a ser como dantes. A ele se deve o facto de Fernandes Henriques Cardoso, ex-Presidente do Brasil, ter afirmado: "Os portugueses é que inventaram a globalização". 
24/12/1779 - Criação da Academia Real das Ciências (hoje Academia das Ciências de Lisboa), no reinado de D. Maria I.
24/12/1818 - A mais famosa música de Natal de todos os tempos - "Silent Night! Holy Night!" - é tocada pela primeira vez na Igreja de São Nicolau, em Oberndorf (Áustria). Os seus autores são Franz Gruber (música) e Joseph Mohr (letra).
25/12/1977 - Morre, em Vaud (Suíça), Charlie Chaplin, um mago do cinema. A sua lendária criação de "Charlot" foi transversal a todas as gerações e tornou-se um símbolo icónico da Sétima Arte.
Foi dito
"Sou um cidadão do mundo" - Diógones Laércio, o Cínico (Século V AC - IV AC). Resposta dada quando lhe perguntaram qual era a sua nacionalidade. (Fonte: Quem assim  falou/José Jorge Letria/Oficina do Livro).
"Carpe diem quam minimum credula portero" (tradução: "Aproveita o dia de hoje e não confies no amanhã") - Qintus Horatus Flacus (65 AC - 8 AC), poeta romano mais conhecido por Horácio. Esta citação encontra-se no seu primeiro livro das "Odes". (Fonte: A História do Mundo em 50 frases/Helge Hesse/Casa das Letras).

Ficou escrito
"Se a zona euro sucumbir, será a terceira vez num século que a Europa se suicida, com a Alemanha no posto de comando" - artigo de Viriato Soromenho-Marques na Visão nº 981.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Verney Lovett Cameron

Viajantes, aventureiros e exploradores

Verney Lovett Cameron - (Dorset (Inglaterra), 01/07/1844 - Leigthon Buzzard (Inglaterra), 24/03/1894) - Explorador. Tendo ingressado na Marinha de Guerra Britânica prestou serviço, em 1857, na campanha etíope e depois, durante alguns anos, na repressão ao esclavagismo na costa oriental africana. Em 1873, a Real Sociedade de Geografia de Londres encarrega-o de dirigir uma missão em busca de David Livingstone*, pelo que inicia a sua missão em Zanzibar, onde contrata Sidi Mubarak Bombay*. Passado pouco tempo, em Bagamoyo, no Tanganica (actual Tanzânia) toma conhecimento da morte deste missionário, ao cruzar-se com a caravana que transportava o seu féretro para Zanzibar. Apesar disso continua a sua marcha para Udjiji, na Rodésia do Norte (actual Zâmbia), local onde o missionário falecera, chegando aí em Fevereiro de 1874. Reúne toda a documentação, mapas elaborados por David Livingstone*, bem como o restante espólio que estava guardado na sua cabana e envia-os para Londres salvando, assim, todo um memorial informativo extremamente importante para o conhecimento europeu, quer da vida que foi deste homem quer das suas viagens e impressões sobre África. Aproveita aí a sua estadia para melhor topografar o lago Tanganica e descobre a saída Oeste do mesmo para o rio Lukuga. Prosseguindo a sua viagem atinge o rio Lualaba, do qual o Lukuga é um afluente e prossegue por aquele, na tentativa de resolver o mistério do curso do rio Congo, até que se vê forçado a deixar o mesmo, por se recusar a utilizar mão de obra escrava para prosseguir as suas investigações geográficas e deixando a glória da resolução do problema do curso do rio Congo em aberto, tendo sido Henry Morton Stanley* a resolvê-lo um pouco mais tarde. Rumando para Sudoeste atinge o rio Zambeze e prossegue a sua caminhada até à localidade portuguesa do Bié, em Angola. A 28 de Novembro de 1875 avista as águas do Oceano Atlântico, tornando-se no primeiro europeu a ligar o continente africano da costa oriental à costa ocidental, via terrestre. Sidi Mubarak Bombay*, que consigo iniciara esta portentosa viagem desde Zanzibar, também estava ali presente. Três anos mais tarde Verney Lovett Cameron visita o rio Eufrates, onde efectua estudos económicos sobre a viabilidade de actividades comerciais e, em 1882, acompanha Richard Francis Burton* em explorações pela Costa do Ouro, na parte ocidental africana. Publicou "Através de África", onde relata a sua famosa odisseia africana e, de parceria com Richard Francis Burton*, publica "Uma Costa do Ouro de ouro". Faleceu, por acidente, fruto duma queda de cavalo. 

Chuma, James - (Lago Niassa, 1850(?) - Zanzibar, 1882)- African-Bombay**. Pertencente ao povo jaua, era filho dum pescador de nome Chimilengo e de Chinjeriapi. Ainda jovem acaba capturado e vendido como escravo a um negreiro português, mas acaba libertado por um conterrâneo seu, de nome Weketoni e, juntos, integram-se na Missão Anglicana de Magomero, liderada pelo Reverendo Charles Frederik Mackenzie. Em 1864, James Chuma e Weketoni são levados para a Índia, ficando na escola de Shanapur, a cerca de 150 quilómetros de Bombaim, onde efectuam estudos básicos e aprendem a dominar inglês. Retornados a África cruzam-se com David Livingstone*, a quem se põem ao seu serviço, a partir de 10 de Dezembro de 1865. Numa deslocação deste missionário ao lago Niassa, em 1866, os dois african-bombays**  acompanham-no mas Weketoni, chegado ao lago, recusa-se a continuar com o explorador, juntamente com outros serviçais, por se reencontrarem agora no meio do seu povo. James Chuma será dos poucos que continuará ao serviço do missionário, na exploração do lago Moero e, depois, para o lago Banguelo, na Zâmbia. Em Abril de 1868, James Chuma e outros acompanhantes, entre os quais se encontrava Abdullah Susi, outro african-bombay**, recusam-se a acompanhar David Livingstone* na sua exploração centro-africana ao Reino do Cazembe, por temerem voltar a serem escravizados, prática habitual nas terras daquele Reino. Em Novembro desse mesmo ano, James Chuma e Abdullah Susi reingressam ao serviço do missionário e tornar-se-ão seus fiéis e incondicionais servidores até ao findar dos seus dias. Acompanha o missionário em todas as suas explorações, na busca das nascentes do rio Nilo  e assiste, em 1871, ao famoso encontro entre este e Henry Morton Stanley*, em Udjiji, onde se cruza também com Sidi Mubarak Bombay*. Quando David Livingstone morre, Chuma e Susi, entre outros, tratam da mumificação do cadáver, depois de lhe retirarem alguns órgãos que enterram sob uma árvore e, durante nove meses, transportam o corpo do explorador para Zanzibar, numa viagem de cerca de 1.500 quilómetros plena de riscos, onde defrontaram animais selvagens e combates com tribos hostis. O usual. No caminho cruzam-se com a expedição de Verney Lovett Cameron*, que ia em busca do missionário e que acaba por tomar conhecimento da notícia do passamento do explorador. Conseguindo levar a bom porto os seus intentos, atingem Zanzibar, onde entregam o féretro às autoridades britânicas e, posteriormente, desloca-se a Londres juntamente com Abdullah Susi, a expensas dum amigo de David Livingstone*, mas não a tempo de assistirem ao funeral do mesmo. Ambos são condecorados pela Real Sociedade de Geografia de Londres com a Medalha de Bronze. Retornando a Zanzibar, onde virá a falecer, alcoolizado e vitimado por uma tuberculose, James Chuma, tal como Abdullah Susi, tornou-se um nobre exemplo da verticalidade humana.

Susi, Abdullah - (Lago Niassa, ? - Zanzibar, 1891). African-Bombay**. Escravizado na sua adolescência, acaba libertado e remetido para a Índia, após o que regressa a Zanzibar. Integra-se nas expedições de David Livingstone*, de quem se tornará um leal servidor, com um percurso idêntico ao de James Chuma. Quando o explorador morre, acompanha o cadáver mumificado até Zanzibar, donde será remetido para a Grã-Bretanha, para as exéquias nacionais. Mais tarde acompanha James Chuma* a Londres, onde é condecorado com a  Medalha de Bronze da Real Sociedade de Geografia daquela capital. Retorna a África e coloca-se ao serviço de Henry Morton Stanley* e, em 1886, adopta o nome de David Susi, em homenagem ao seu mentor David Livingstone*.  
     
* - Já biografado anteriormente.
** - Termo já explicado anteriormente.

Leituras

Atendendo à comemoração do cinquentenário da queda do Estado Português da Índia, ocorrido a 18/12/1961 recomendo a leitura da revista Visão História nº 14, saída neste mês de Dezembro, dedicada a este tema e com o título "Há 50 anos a queda da Índia Portuguesa" . Aborda, duma forma muito correcta, tudo o que se passou na época, quer os seus antecedentes (com um pequeno resumo desde que lá  chegámos, na época dos  Descobrimentos), quer os factos da invasão em si e quer as consequências dos mesmos. Complementa-se com entrevistas a pessoas que viveram os acontecimentos no terreno e ainda apresenta um bom suporte fotográfico.

Aliás, deixo aqui o registo do agrado com que leio as edições trimestrais da Visão História, uma revista temática sobre factos históricos, que "acuso" de ter contribuído para a minha preguiça, pois os temas que ela  aborda são tão bem explicados e confiáveis, numa linguagem simples e acessível, documentando-se com gráficos, desenhos e fotografias que dou por mim, volta não volta, a não ir pesquisar outras fontes para cruzar a informação. Passe o exagero.

Ainda sobre este tema saiu, recentemente, a lume um romance histórico denominado "Goa 1961 - a impotência do Estado  Novo na queda da Índia Portuguesa", de Paulo Aido (Zebra Publicações, Lisboa, 2011, 292 págs.). Para quem se quiser documentar sobre este tema, ao de leve e numa leitura suave, sem a carga pesada dum livro de História puro e duro, tem aqui uma oportunidade. Sem desprezo por outras publicações.

Exposição

"Vik" é uma exposição que visitei, com agrado, no Museu Colecção Berardo, no Centro Cultural de Belém. É uma retrospectiva da obra do artista brasileiro Vik Muniz, temporizada desde o princípio da década de 90 até ao presente. E é gratuita.

Gostei

De ler que, no Cazaquistão, a caça com águias-reais atrai turismo e que, das verbas daí resultantes, fundou-se um centro de conservação de falcões. Espero que tal corresponda à verdade. (Sábado nº 398).

Recomendo

Uma visita às grutas de Mira d´Aire, consideradas  as maiores de Portugal. Localizadas a cerca de 15 quilómetros de Fátima, percorrer os seus subterrâneos não é uma descida aos infernos, mas antes um festim geológico onde se combinam, na perfeição, a pedra e a água, tudo envolto numa sinfonia de luzes. Na região existem outras grutas também visitáveis, mas não tão extensas e profundas quanto esta.

Imbecilidades

"O gato duma viúva italiana herdou 10 milhões de euros." (Sábado nº 398). A notícia é apenas esta linha transcrita, pelo que nada mais sei. Mas espero bem que as autoridades competentes do País onde os factos ocorreram (admitindo a notícia como verdadeira) impeçam a concretização de tal testamento. Que o/a dono/a dum animal deixe testamentado uma certa verba para garantir um resto de vida com qualidade a qualquer animal que o acompanhou sempre, até estou de acordo. Agora, mais do que isso, é pura imbecilidade. Com tantas organizações humanitárias, ambientais, culturais ou científicas (entre outras) a carecerem de dinheiro para os seus fins filantrópicos, este gesto não é de quem gosta de animais. É de quem se quiz servir dum animal para se vingar de alguém (ou de alguéns) ou então não estava na plena posse das suas faculdades. E, sobre actos de vingança ou de maluquices, o Estado tem que intervir.  

Uma pergunta

"As declarações (de Sócrates) explicam porque é que a bomba lhe rebentou nas mãos e ele nos conduziu para a tragédia." Freitas do Amaral, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros ao Jornal de Negócios. (Sábado nº 398). Pergunto: estou com a memória confusa ou este senhor não fez parte do governo socratiano que nos conduziu a esta "tragédia"? Ele entrou em ruptura com José Sócrates e demitiu-se do Governo para não pactuar com esta "tragédia" ou largou o tacho, (desculpem-me, lá me veio um ataque de crise bloquista) ou saiu do Governo apenas por motivos de saúde? Alguém lhe explique que se a palavra é de prata o silêncio é de ouro. 

Memória da semana

15/12/1832 - Nascimento, em Paris, de Gustave Eiffel, engenheiro francês que paternizou a Torre Eiffel, bem como a estrutura da Estátua da Liberdade. Em Portugal a inspiração da sua traça ficou marcada na ponte D.Maria Pia, no Porto e no elevador da Glória, em Lisboa.
15/12/1899 - No decurso da Segunda Guerra Anglo-Boer, os britânicos são derrotados na batalha de Colenso (actual África do Sul). Travada junto ao rio Tugela, fechou o trágico ciclo da  "Black  Week" ("Semana Negra") por ter sido a terceira derrota britânica consecutiva, cujas tropas eram comandadas pelo General Henry Buller, custando-lhes o trágico balanço de cerca de 150 mortos, 750 feridos e 220 prisioneiros tendo, às mãos dos britânicos, falecido cerca de 50 bóeres.


16/12/1770 - Nascimento, na Renânia do Norte, do compositor musical Ludwig van Beethoven. Dentro do seu numeroso espólio musical destaca-se a 9ª Sinfonia - Ode à alegria - presentemente escolhida para hino da União Europeia.
16/12/1836 - Trava-se o combate de Blood River, no Natal (actual África do Sul), nas margens do rio Nacome e que opôs as forças zulus do Rei Dingane às forças bóeres lideradas por Andries Pretorius. A batalha culminou com uma estrondosa derrota zulu, apesar da sua superioridade numérica (calcula-se em 10.000 guerreiros) mas cujas lanças foram impotentes para o poder de fogo das espingardas bóeres (calculados em cerca de 500 homens). O nome "Blood River" ("Rio de Sangue") ficou a dever-se ao facto das águas do rio Nacome terem ficado tingidas de vermelho do sangue dos guerreiros zulus, que se calcula terem sofrido cerca de 3.000 mortos. A consequência directa desta batalha foi a confiança político-religiosa que se gerou no seio da comunidade bóer para virem a criar a efémera República da Natália (República do Natal), que viria a ser anexada pelos britânicos em 1843. Outra consequência foi que, posteriormente, esta vitória viria a servir de fonte de inspiração para os bóeres convencerem-se que eram um povo eleito de Deus e destinado a colonizarem África pois, segundo eles, esta vitória fora uma providência divina que, assim, determinava a superioridade racial branca, base teórica em que assentava a filosofia do "apartheid".
16/12/1915 - Albert Einstein publica a Teoria Geral da Relatividade.

17/12/1903 - O norte-americano Orville Wright efectua, pela primeira vez na História, o voo com um avião mais pesado que o ar, baptizado de "Flyer", durante 12 segundos, tendo percorrido 36 metros.
17/12/1929 - Morre, em Lisboa, o Marechal Gomes da Costa (Manuel de Oliveira Gomes da Costa). Oficial de Cavalaria percorreu, até 1915, diversos territórios ultramarinos portugueses e, nomeado Comandante do CEP - Corpo Expedicionário Português, parte para França a combater na I Guerra Mundial, acabando derrotado na Flandres. Em 1926 lidera o golpe militar que, saindo de Braga a 28 de Maio, vem até Lisboa, golpe esse que instala a Ditadura Nacional, liquidando a 1ª República. Entra em litígio com outros revoltosos, afastando Mendes Cabeçadas da Presidência do Governo, que assume para si, bem como a Chefia do Estado, mas de forma não explícita, durante cerca de três semanas. Óscar Carmona e Sinel de Cordes, outros líderes da revolta, demitem-no, acabando preso e deportado para os Açores. Regressa no ano seguinte, promovido a Marechal, como compensação e para não servir de mártir a oposicionistas, mas já sem força política e militar nenhuma.

18/12/1961 - Tropas indianas invadem o Estado Português da Índia e anexam-no para a República da Índia. O Estado Português da Índia, composto pelos territórios de Goa, Damão, Diu e pelos enclaves de Dadrá e Nagar-Avelim eram, para o regime ditatorial do Estado Novo, um símbolo da grandeza do que Portugal fora 500 anos antes e a memória do seu Primeiro Império (o Segundo Império fora o Brasil e o Terceiro Império eram os territórios africanos, bem como Macau e Timor). Após a independência da Índia (1947) e desfeito o sonho de Mahatma Gandhi de todo o subcontinente indiano ser um só País, fractura essa ocorrida com a independência simultânea do Paquistão ficavam, fora da alçada do Governo Indiano, os territórios portugueses do Estado da Índia. Depois de goradas diversas tentativas de se dialogar com as autoridades portuguesas, o Governo indiano, liderado por Jawarhal Nheru, ordenou a invasão militar do Estado Português da Índia, acto que foi consumado em 48 horas. A queda deste território representou, para o Governo português liderado por Oliveira Salazar, um marco histórico profundamente negativo, já que o mesmo consolidava a premonição do findar da presença portuguesa fora do território europeu, iniciada em Fevereiro/ Março deste mesmo ano, com o eclodir da guerra em Angola e continuado no mês de Agosto seguinte, com o abandono do forte de São João Baptista de Ajudá, por imposição do governo do Daomé (actual Benim). Há quem defenda que, à semelhança do que se passou com Timor, faltou referendar o futuro do Estado Português da Índia.

 Foi dito

"Acrobata é o homem que parte as costelas para encher o estômago." Ambrose Bierce (1842-?) jornalista, escritor, humorista norte-americano. Desconhece-se a data do seu falecimento, pois o mesmo foi dado como desaparecido na guerra civil mexicana, após 1913. (Fonte: Citações para humoristas/José Manuel Veiga/Editorial Lio).

"Dai o que não é vosso, prometei o que não tendes e perdoai a quem não vos errou." Conselho dado ao Mestre de Aviz, futuro D.João I. (Fonte: Histórias rocambolescas... / João Ferreira /Esfera dos Livros)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

John Hanning Specke

Aventureiros, viajantes e exploradores
John Hanning Specke - (Bideford (Devon), 03/05/1827 - Corshan (Wiltshire), 15/09/1864) - Oficial do Exército Britânico e explorador. Em 1844 serve o seu País na Índia, participando na guerra contra os sikhs. Aproveitando a sua estadia no sub-continente indiano percorre os Himalaias e vai ao Tibet. Dez anos mais tarde está em África, onde integra uma expedição liderada por Richard Francis Burton*, com destino à Somália. No entanto, esta expedição redunda num fracasso quando são atacados por tribos somalis, acabando os dois exploradores gravemente feridos e salvos no extremo. John Specke é preso pelos nativos e sofre várias perfurações de lanças e setas, mas consegue mesmo assim escapar, retornando a Inglaterra a recuperar-se. Restabelecido, participa na guerra da Crimeia, na região do mar Báltico, onde algumas nações europeias batalhavam o Império Otomano. Em 1856 encontra-se em Mombaça, de novo com Richard Francis Burton, a fim de explorarem o desconhecido interior africano e tentarem localizar a posição geográfica dos Grandes Lagos Africanos e as nascentes do rio Nilo. Esta expedição foi mais uma epopeia duríssima que os dois exploradores tiveram que enfrentar, a par de ataques de tribos hostis e de animais selvagens, doenças, fome, trilhos desconhecidos, deserção de carregadores e também a de vencerem as desconfianças de muitos povoados que atravessavam, em que para os habitantes era a primeira vez que viam pessoas de pele branca. Era o desbravamento dos caminhos para as Montanhas da Lua**. John Specke acaba, inclusivamente, por ficar surdo dum dos ouvidos, depois dum escaravelho ter entrado dentro do mesmo e que só conseguiu removê-lo espetando, com violência, um objecto pontiagudo no pavilhão auricular. Mais tarde é atingido por cegueira temporária quando estão prestes a atingir o lago Tanganica, do qual serão os primeiros europeus a lá terem chegado (1858). Recolhendo informações sobre a existência doutro lago mais a Norte e por Richard Francis Burton se encontrar bastante doente e refém dum chefe tribal, John Specke prossegue a viagem acabando por atingir o lago Vitória (assim por si nomeado em homenagem à sua Rainha). Depois de efectuadas algumas medições rudimentares, apenas com um termómetro, já que a restante aparelhagem científica se tinha perdido e percorrido parte do lago, John Specke não resiste ao apelo da glória e apressa-se a regressar a Londres (Maio de 1859), onde chega uns dias antes de Richard Francis Burton, onde anuncia ter descoberto, sozinho, a nascente do rio Nilo, um dos mistérios que mais apaixonava os geógrafos da época. Foi o seu momento de glória máxima, que rapidamente acaba contestado por Richard Francis Burton que duvidava de tamanha certeza, atendendo a que as medições do lago Vitória e exploração do mesmo não tinham sido feitas com métodos científicos. A ruptura entre os dois exploradores consuma-se quando se aprestam a apresentar, na Real Sociedade de Geografia de Londres, os seus relatórios (Junho de 1859). Para trás ficavam anos de lutas conjuntas contra doenças, fome, gentios hostis, forças da natureza, animais, climas implacáveis e territórios adversos. Tudo isso ardia na fogueira das vaidades londrinas. Em Outubro de 1860 John Specke, liderando uma expedição financiada pela Real Sociedade de Geografia de Londres e acompanhado doutro explorador, James Grant, parte de Zanzibar em direcção ao Reino do Buganda (actual Uganda). Aqui chegados separam-se, seguindo James Grant para Norte enquanto John Specke segue para ocidente, atingindo de novo o lago Vitória (1862). Percorre-o, agora mais atempadamente, acabando por descobrir o curso do rio Nilo e as quedas de Rippon (Rippon Falls). Reunindo-se de novo a James Grant, seguem para Gondokoro, no Sul do Sudão, onde se cruza com um  dos mais famosos exploradores do século XIX, Samuel Baker e a sua esposa Florence von Sass, também ela exploradora e ex-escrava branca que Samuel Baker tinha adquirido num mercado de escravos búlgaros anos antes, aquando das suas deambulações europeias. O casal Baker também tinha sido um incansável perseguidor das lendárias nascentes do rio Nilo. Chegado a Cartum (Sudão), John Specke telegrafa para Londres a comunicar que a nascente do rio Nilo estava definitivamente descoberta. No entanto, novo debate polémico iria abrir-se entre ele e Richard Francis Burton, pois este alegava que, se John Specke não tinha seguido permanentemente o curso do rio desde que ele saía do lago Vitória até Gondokoro, não poderia garantir que o rio que encontrara mais adiante fosse o mesmo. No entanto, o debate entre os dois, marcado para o dia 15 de Setembro de 1864 na Real Sociedade de Geografia de Londres, não chegou a concretizar-se pois, na manhã desse dia, Jonh Specke morreu voluntariamente, no decurso duma caçada na sua propriedade. A sua morte levantou controvérsia, atendendo a que o mesmo era um dos mais famosos exploradores da sua geração, havendo quem levantasse a hipótese de ter sido um acidente de caça. Em homenagem a este desbravador de sertões africanos e descobridor de lagos foi dado o seu nome a uma montanha no Uganda, o monte Specke, local por ele percorrido e onde fora dos primeiros europeus a lá ter chegado. 
* Richard Francis Burton: já biografado em mensagem anterior.
**Montanhas da Lua: Na mensagem anterior (11/12/2011) sugeri o visionamento do filme "As montanhas da Lua", onde dava uma explicação da razão de ser deste título fílmico (e geográfico) e do qual o mesmo se reporta às actividades exploratórias quer de Richard Francis Burton, aí biografado, quer de John Hanning Specke, acima referido. Pormenorizo um pouco mais este nome: Nome mítico histórico-geográfico, originado no II Século DC, quando o egípcio Cláudio Ptolomeu afirmou que o rio Nilo - o Rio de Deus - nascia nas Montanhas da Lua. Após múltiplas expedições europeias, que remontam desde o Império Romano, só em meados do século XIX, depois de desencadeado o "Scramble for Africa", é que se veio a determinar a localização destas montanhas, aquando da busca incessante das nascentes do rio Nilo, localizando-as na cadeia de Ruwenzori, numa zona geográfica compreendida, actualmente, pelos países Uganda, Ruanda e Burundi. O facto do interior africano ser desconhecido para os europeus até ao desencadear da sua exploração, foi o alimentador principal da persistência deste nome mítico, durante cerca de dezassete séculos.    
Livro
"Ébano - febre africana", de Ryszard Kapuscinski (Campo das Letras, Porto, 2002, 363 págs.). Ryszard Kapuscinski (1932/2007) foi um jornalista e escritor polaco que viajou por diversas partes do mundo, no exercício do seu mister. Apaixonada por África, devido à sua constante presença nas décadas de 60/70/80 neste continente, foi testemunha viva e participativa do findar do colonialismo europeu e do nascimento do neo-colonialismo euro-africano. Travou amizades com diversos líderes políticos e militares, assistiu a dezenas de golpes de estado e escapou a quatro sentenças de fuzilamento. Uma vida de mão-cheia de histórias. Considerado um dos maiores repórteres do mundo de então, tendo sido considerado, no seu País, como o jornalista do século XX, deixou várias obras escritas, entre as quais esta minha sugestão que, só pelo breve traço biográfico do autor aqui descrito, decerto despertará o interesse na sua leitura. O livro, em jeito de memória, reporta-se a impressões colhidas durante o seu périplo por diversos países africanos e das pessoas com quem se cruzou. Como o próprio diz: "Este não é assim um livro sobre África, mas sim sobre algumas pessoas de lá, sobre o encontro que tive com elas, o tempo que passámos juntos." Mas também é o relato das suas viagens aventurosas por esse continente que, segundo o próprio: "É um continente demasiado grande para ser descrito." Memória de aventuras que viveu, de percalços que sofreu, de pessoas com quem se cruzou e falou, à boa maneira africana, debaixo duma árvore. Um olhar humano sobre as gentes deste continente, dum europeu que foi mais africano que muitos africanos.
Música
Os "Pink Floyd" são uma das minhas bandas favoritas, para não dizer mesmo a minha banda favorita e, tornando-me repetitivo, para não dizer mesmo que, para mim, eles são "A Banda" e o resto é conversa, exageros à parte. Nascidos em meados da década de 60, lograram fundir o estilo rock com o sinfónico, incrementando o "rock sinfónico". Em 1966 Roger Waters e Roger Sid Barret juntaram-se a Rick Wright e a Nick Manson e formaram uma banda britânica que espantaram o mundo quer pela maviosidade dos acordes que inculcavam nos seus instrumentos, quer pelas letras contestatárias que integravam os mesmos, quer ainda pelo estilo de actuação nos palcos, uma revolução que passava pelo uso de iluminação psicadélica (ou não estivessem a atravessar a época do apogeu do psicadelismo), libertação de fumos (hoje tão vulgarizada), bonecos suspensos a atravessarem o palco. Até finais dessa década os "Pink Floyd" formam-se no firmamento musical como uma banda de culto, criando um som instrumental específico, que fazia-nos parecer que estávamos a navegar pelo espaço sideral, som esse em grande parte motivado pela iniciativa do uso de sintetizadores. O caminho, em plano inclinado, para a loucura do genial Sid Barret culmina com a sua saída do grupo, para desintoxicações sucessivas por abuso de drogas. Eram os tempos do império do LSD, alucinogéneo poderoso que abria, quimicamente, as mentes a novos caminhos do som e das cores. A busca dum substituto acaba por recair em David Gilmour (1968). O grupo perde um pouco da ingenuidade dos acordes de sons planadores mas ganha em maturidade tecnicista conseguindo, apesar de tudo, manter a sua linha segmentária da sonoridade sinfónica que, no fundo, é a sua marca registada e faz parte do seu ADN musical. Para além de lançamentos de álbuns, como "The piper at the gates of dawn" (1967) e "Ummagumma - vol. I e II" (1969) e de actuações ao vivo, assumem a banda sonora de filmes, tais como "More" (1969) e "Deserts of souls" (1970). A entrada na década de 70 leva-os a publicar mais um álbum "Medle" (1971) e o documentário musical "Pompeii - The Director´s cut" (1971), mas é em 1973 que é parido o melhor álbum desta banda e, para mim, o melhor de todos os álbuns do século XX: "The dark side of the moon". Um disco mágico, carregado duma sonoridade intemporal e que é já um clássico transversal a todas as gerações e um dos mais vendidos de todos os tempos. Descontando o exagero, penso que quando a Terra  for inabitável e os nossos descendentes partirem para outras galáxias levarão este disco na bagagem e ouvi-lo-ão durante a viagem. Estaremos todos cá para ver se tenho razão ou não. Bom, voltando à realidade, três ou quatro anos  mais tarde começa o princípio do fim deste grupo, com o seu fundador Roger Waters a entrar em litígio com os restantes elementos e, também ele, a caminhar para o penoso caminho da loucura, naquilo que parecia ser o estigma desta banda. No entanto, os álbuns "Wish you were here" (1975) e "Animals" (1977) mantêm a chama da genialidade a brilhar. A megalomania de Roger Waters, a querer a ssumir à força o patronato total da banda, afunda-o e afasta-o cada vez mais dos restantes companheiros. Litiga com os mesmos e só com prolongadas negociações é que permitem os "Pink Floyd" retornarem à ribalta, mas já sem este fundador (1986). "The wall" será o canto do cisne e, liderados por David Gilmour, efectuarão tournées mundiais, onde Lisboa esteve na rota, e que resultarão em álbuns, tal como "A delicate sound of thunder" (1988).
Documentário
Ver a actuação do grupo de danças "Riverdance" é puro prazer orgásmico. Hoje, a pesquisar a minha videoteca retirei um DVD deste grupo e revi "Live from New York City", que são 100 minutos de pura magia dançarina, coreográfica e musical. Na arte dançarina, melhor que aquilo é difícil. 
Gostei
Leio no Diário de Notícias que: "A Bertrand Chiado, em Lisboa, foi este ano distinguida pelo "Guiness" como a livraria mais antiga do mundo ainda em actividade. Eça de Queiroz, Alexandre Herculano, e Aquilino Ribeiro ... todos aqueles escritores foram seus clientes."  Fundada em 1732 ainda hoje mantém as portas abertas ao público. Parabéns. E também não nos devemos esquecer da Livraria Lello & Irmão, no Porto, considerada uma das mais belas do Mundo. Dá gosto.
Recomendo
Uma visita ao "Fluviário de Mora", o primeiro grande aquário de água doce da Europa. Localizado no Parque Ecológico do Gameiro - Cabeção, concelho de Mora, foi inaugurado em 21 de Março de 2007 tendo, ao longo da sua vivência, sido distinguido com diversos prémios, quer museológicos quer arquitectónicos. Pessoa amiga aconselhou-me a ir visitá-lo e em boa-hora segui a sua opinião. Um conselho: almoçar num qualquer restaurante da zona e provar uma especialidade local, tal como migas de espargos, por exemplo. De evitar a sopa de cação (outra especialidade local), não porque não deva de ser boa, mas porque é um animal em riscos de extinção.
Associação
A "Quercus", palavra latina para "carvalho" (espero não me ter enganado a escrever) é uma associação ambiental que hoje elejo. Sendo uma das principais organizações de defesa ambiental do nosso País, são activos, com diversos programas pedagógicos, com iniciativas abrangentes para qualquer pessoa e gerindo três centros de recuperação de animais selvagens. Porque não começar por consultar o "site" deste organismo? Quem sabe se alguém não acaba por voluntariar-se nalgum programa deles, ou a fazer-se sócio ou mesmo a apadrinhar um animal selvagem.
Uma pergunta
Uma equipa de arquitectos holandeses teve que pedir desculpas por ter projectado, para o centro de Seul (Coreia), um par de torres gémeas, que faziam lembrar as nova-iorquinas que sofreram os atentados do "11 de Setembro", maqueta essa que originou os protestos dos familiares das vítimas (Público). Vamos lá a ver se começamos a exorcizar estes fantasmas do "11 de Setembro" e não castremos a criatividade de qualquer tipo de actividade humana em nome dum trágico acontecimento, que o foi sem dúvida, mas que faz parte da História. É passado. Já cheira mal tanto choradinho. Quantas "torres" por esse Mundo fora já não foram destruídas, ao longo da História da Humanidade? E várias delas por participação directa dos Estados Unidos. E, já agora, vem-me a talhe de foice uma pergunta: será que essas pessoas que protestaram contra esta maqueta, também subscrevem protestos contra o Governo americano por ter financiado, ou apoiado, ou ficado quedo e calmo sobre o outro "11 de Setembro"? Não se lembram de qual? O de 1973, que derrubou, em sangue, o governo chileno de Salvador Allende, eleito democraticamente e que acabou por dar lugar a uma feroz ditadura militar presidida por Augusto Pinochet. Já se esqueceram dos estádios de futebol chilenos cheios de presos políticos, vários deles depois fuzilados?  Não reclamam deste "11 de Setembro"? Ambos foram tragédias, ambos ceifaram vítimas inocentes, ambos são de lamentar. Mas, tal como não foi impeditivo que, posteriormente, pelo Mundo se fossem construindo novos estádios de futebol, também não devemos imnpedir que se construam novas torres.
Aconteceu
Descobertas 208 novas espécies animais e vegetais, na bacia hidrográfica do rio Mekong, na Ásia (Público). Esperemos que não desapareçam em breve, face à actividade humana.
A Igreja Católica, nas Filipinas, pretendendo que os seus fiéis seguissem a tomada de posse dum Bispo, via "net", por lapso enviou para os seus devotos um "site" pornográfico (DN). Errar é humano, mesmo quando se pensa que se está sob protecção divina. Ou será que Deus também queria ver sexo?
Está a acontecer
Entre os dias 10 e 24 deste mês de Dezembro circula, na baixa alfacinha, um autocarro movido 100% a energia eléctrica e construído em Portugal, para transportar, gratuitamente, todos aqueles que pretendam fazer as suas compras na baixa, entre a Praça do Comércio/Martim Moniz/Praça da Figueira/Rossio/Praça do Comércio. Uma iniciativa interessante. Pena não ser durante todo o ano ou, pelo menos, nas quadas festivaleiras: Carnaval, Páscoa e Santos Populares. Mas é um princípio.
Vai acontecer
Lançamento do livro "Cinema no Estado Novo - a encenação do regime", de Patrícia Vieira (Edições Colibri). Dia 16 de Dezembro, às 19H30, na Livraria Babel da Cinemateca Portuguesa (Rua Barata Salgueiro), em Lisboa.
Lançamento do livro "Em nome da Pátria" de João José Brandão Ferreira (Publicações Dom Quixote). Dia 19 de Dezembro, às 18H00, no restaurante Jardim da Luz (Largo da Luz), em Lisboa.
Memória da semana
12/12/1863 - Nascimento de Edward Munch, pintor expressionista norueguês. Dos diversos quadros da sua autoria, um deles, "O grito", pintado em 1893, atingiu o valor estimado em 1.300.000 US$, estando considerado um dos ícones culturais de sempre.
12/12/1901 - Pela primeira vez na história mundial das comunicações é enviada, pelo físico Guglielmo Marconi, uma mensagem sem fios através do Oceano Atlântico e ligando duas placas continentais quando, na Cornualha (britânica) enviou o código morse da letra "S" para Terra Nova (canadiana), acabando por calar, de vez, os seus detractores que diziam que a curvatura da Terra impossibilitaria a recepção da mensagem. Foi-lhe atribuído o Prémio Nobel da Física em 1909.
12/12/1913 - A Polícia recupera, em Florença (Itália), o quadro "Mona Lisa", pintado em 1503 por Leonardo da Vinci, o qual tinha sido furtado dois anos antes do Museu do Louvre, em Paris (França), por Vincenzo Peruggia. Este alegou que o fizera por motivos patrióticos, ao querer retornar para Itália peças levadas à força por Napoleão Bonaparte.
12/12/1915 - Nascimento de Frank Sinatra, que ficou na história da música com o cognome "The Voice" tendo, também, sido actor de cinema (cerca de 60 filmes) e apresentador de televisão. Vencedor de múltiplos prémios (Óscar, Grammys, Globo de Ouro) e com duas estrelas no "Passeio da Fama" (carreira de televisão e música) teve uma vida plena, que terminou em ataque cardíaco (1998). Disse: "Só se vive uma vez e, do jeito que eu vivo, uma vez é suficiente."
13/12/1521 - Morre, em Lisboa, o Rei português D.Manuel I, que passou à História com o cognome de "Venturoso", por ter sido no seu reinado que uma armada lusa, comandada por Vasco da Gama, chegou à Índia e porque o domínio desta rota marítima trouxe para o Reino inúmeras riquezas. Que, diga-se de passagem, ele se apressou a delapidar sem cuidar onde.
13/12/1937 - Ocorre o Massacre de Nanquim. No decurso da guerra sino-japonesa, neste dia a cidade chinesa de Nanquim cai nas mãos do Exército japonês. O General japonês Matsiu Iwana ordena às suas tropas a destriução da cidade, a fim de criar o terror psicológico no seio da população chinesa. Em resultado disso, foram massacrados cerca de 150.000 prisioneiros de guerra e 50.000 civis e sucederam-se 20.000 violações em mulheres (os números são aproximados). Nenhum governo japonês assumiu, até à data, o reconhecimento deste genocídio.
14/12/1503 - Nascimento, em França, de Nostradamus. Médico e escritor, foi na astrologia que entrou para a História ao legar as suas profecias. Dizem os seus seguidores que ele profetizou o apocalipse terrestre para 2012.
14/12/1911 - O explorador norueguês Roald Amundsen é o primeiro humano a atingir o Pólo Sul.
14/12/1918 - Assassinato de Sidónio Pais, Presidente da República portuguesa, na estação do Rossio, em Lisboa. "Morro bem, salvem a Pátria." terão sido as suas últimas palavras, a fazer fé no relato do jornalista Reinaldo Ferreira, que se debruçou sobre o mesmo logo após o atentado. Reinaldo Ferreira foi o célebre "Repórter X", jornalista, escritor ("Memórias de um ex-morfinómano", p.ex.) e pai do poeta com o mesmo nome. Sidónio Pais tinha tomado o poder um ano antes, após um sangrento golpe militar, e inaugurado a "República Nova", em oposição à "República Velha" nascida em 1910, e dera um cunho vincadamente presidencialista à sua actuação.
14/12/1955 - Portugal ingressa na ONU, como membro de pleno direito.